sexta-feira, 15 de maio de 2015

Zico, a falta dos sonhos, a foto dos sonhos


Flamengo goleia o Fluminense na despedida de Zico no Estádio Municipal.Dezembro ROBERTO FULGÊNCIO 01
Roberto Fulgêncio/02-12-1989
Seria leviano da minha parte dizer que Juiz de Fora acordou em clima de futebol naquele 2 de dezembro de 1989. Acredito que, assim como eu, muitos nem dormiram, “sonharam acordados” o encontro com Zico, às 16h, no Estádio Municipal. Aquele era o último jogo oficial do craque pelo Flamengo, logo aqui no nosso quintal, uma tarde de sábado que ficou marcada para sempre na história do Mário Helênio, estádio que eu vi crescer, ou melhor, no estádio em que eu cresci, onde em quase todo final de semana visitava as obras com o meu pai. Do primeiro buraco de terra, os primeiros cimentos da arquibancada e, mais tarde, as traves e o gramado. Gramado que me reservaria grandes emoções profissionais como fotojornalista no futuro, mas naquele presente veio uma das maiores de todas.  Fim da década de 1980, fim da Era Zico, era o dia do adeus do meu ídolo no futebol. Nas minhas peladas de infância, sempre que marcava um tento eu gritava “gooool” do Nunes, do Bebeto, ou do Careca, mas não sonhava em ser o 10 da Gávea. O meu sonho na verdade era jogar ao lado dele, tabelar com ele, ou simplesmente vê-lo guardar a bola na gaveta, naquela falta sorrateira, com aquela curva que só ele sabia fazer.

Flamengo goleia o Fluminense na despedida de Zico no Estádio Municipal.Dezembro ROBERTO FULGÊNCIO
Roberto Fulgêncio/02-12-1989
Da falta dos sonhos volto à realidade. Já no primeiro tempo, como se fosse uma profecia se realizando, Zico dá uma caneta no marcador adversário, que não contém a lisura do Galinho e comete uma falta. Zico ajeita e “bate com a mão” – como falava meu pai -, e a bola teimou em acertar a trave… Hoje, não! Mas, como um sonho, a bola bate nas costas do goleiro e volta para dentro do gol. Hoje, sim! Gol de falta, gol do Zico. Ali, pelo menos para mim, acabou o jogo, um a zero, acabou boa parte da graça que eu via no futebol, acabou uma era. As perguntas comuns – “quanto foi?” “contra quem?”, ah, isso se tornou irrelevante. Era o último gol dele, era a última vez que o rei da Gávea erguia seu punho e corria em direção à sua torcida. Naquele momento, o tempo parou na cabeça daquela criança.
Em 2011, no departamento fotográfico da Tribuna, revirando algumas fotos antigas, me deparo com aquele momento, congelado na minha frente em forma de papel. Realmente, naquele dia, o tempo parou. O autor da “foto de placa”, Roberto Fulgêncio, editor de fotografia da Tribuna escalado para aquela partida, assim como o ídolo na falta, literalmente “bateu com as mãos” aquele clique. O Galinho, com o sorriso e o brilho do sol no rosto, punho para o céu, as arquibancadas do Mário Helênio de fundo, como mandava o figurino. Quando me perguntam sobre uma foto que eu não tirei, sem dúvida, foi uma foto do Zico. Um dia, quem sabe ?
Flamengo goleia o Fluminense na despedida de Zico no Estádio Municipal.Dezembro ROBERTO FULGÊNCIO 03
Roberto Fulgêncio/02-12-15

POR LEONARDO COSTA

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