sábado, 9 de maio de 2015

Após 25 anos, Zico volta ao palco de seu último jogo oficial pelo Flamengo

Zico entrevista Juiz de Fora (Foto: Daniel Torres)
Zico relembra último jogo com a camisa do Flamengo (Foto: Daniel Torres)
Foram 732 jogos, 509 gols e muitos títulos com a camisa rubro-negra. Mas, entre tantos momentos e conquistas, um local está guardado de maneira especial na memória de Zico. E não é o Maracanã, onde o Galinho de Quintino até hoje permanece como o maior artilheiro. Trata-se do Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, em Juiz de Fora, no interior de Minas Gerais, onde o eterno camisa 10 da Gávea fez seu último jogo oficial pelo Flamengo, no dia 2 de dezembro de 1989. No próximo sábado, depois de 25 anos, o jogador voltará pela primeira vez ao gramado da histórica vitória por 5 a 0 sobre o Fluminense.

Não tenho dúvidas que vou sentir aquele friozinho na barriga, porque é um filme que passa na cabeça da gente. Foi um momento inesquecível, porque ali eu definitivamente estava encerrando a minha carreira profissional e era a última vez que estaria vestindo a camisa do Flamengo como profissional. É lógico que foi um momento ao mesmo tempo alegre, pela minha carreira, por tudo que aconteceu e pelo jogo que graças a Deus foi ótimo, mas ao mesmo tempo foi duro me despedir do futebol - relembrou.
Zico Juiz de Fora (Foto: Rafaela Borges)
Foto no Estádio Municipal está exposta no CFZ
(Foto: Rafaela Borges)
No jogo, Zico abriu o placar com gol de falta, sua especialidade, e ainda deu o passe para que Renato Gaúcho fizesse o segundo. Foi assim que ele fechou com chave de ouro a sua era de glórias no Flamengo. Luiz Carlos, Uidemar e Bujica foram os outros responsáveis pela goleada no rival, em partida válida pelo Campeonato Brasileiro.
- O que mais me marcou, sem dúvidas, foi poder fazer a jogada, receber a falta e ainda fazer o gol. É sempre bom se despedir com gol, ainda mais um de falta, que se tornou a minha marca no futebol. Ali foi o carimbo final. Eu até brinco que cinco foi demais. Não queria tanto assim, porque o técnico (do Flu) era o Telê, e eu gostava muito dele - destacou.
Apesar da importância do jogo, Zico confessa que a ficha da despedida demorou a cair. Com um dia cheio, ele contou que o coração começou a apertar apenas durante a concentração para a partida.
- Foi uma partida muito especial, mas que eu não tive como dar muita atenção antes. Eu estava realizando um campeonato de crianças aqui no Rio de Janeiro, e o jogo do campeão era justamente naquele sábado e meus dois filhos iriam jogar. Então, eu fiz o jogo aqui no Rio, às 9h, e aí quando acabou eu saí correndo para Juiz de Fora. Cheguei na cidade e fui direto para o vestiário. Logo em seguida começou a concentração e a ficha começou a cair. Foram momentos inesquecíveis. O gol, o passe para o Renato e, no final, o árbitro ainda me deu a bola do jogo - revelou.
A partida especial está eternizada no Centro de Futebol Zico (CFZ), no Rio de Janeiro. No local, há uma espécie de museu com a história do Galinho de Quintino, e lá está guardada uma bela lembrança deste dia: uma foto do atleta no Estádio Municipal, cercado pelos três filhos. Além disso, o próprio estádio mineiro também não deixa nenhum juiz-forano esquecer o dia 2 de dezembro de 1989: um dos vestiários foi batizado de Arthur Antunes Coimbra.
- Eu tenho uma ligação muito grande com Juiz de Fora. Tenho um CFZ na cidade e muitas crianças passaram por lá. Alguns garotos, inclusive, chegaram à seleção brasileira, outros jogaram em grandes clubes. Aqui no Flamengo, por exemplo, tem o Thomás, que passou pelo CFZ de Juiz de Fora. E eu quero incrementar ainda mais essa relação. Não podemos deixar os 25 anos passarem em branco. Será uma festa poder estar lá e recordar os momentos vividos naquele dezembro de 89 - falou.
Flamengo estádio Juiz de Fora (Foto: Gustavo Rotstein)
Um dos vestiários carrega o nome de Zico
(Foto: Gustavo Rotstein)
Para o amistoso, Zico garante um grande espetáculo para os juiz-foranos. Até o momento, estão confirmados na equipe do Galinho de Quintino: Tita, Cláudio Adão, Athirson, Beto, Djair, Junior Baiano, Maurinho e Walber.
- O pessoal vai poder ver a técnica, mas não vai ver correria. A técnica a gente nunca perde, até melhora um pouco e faz bons espetáculos. Mas eu estou com 62 anos. Depois dos 60 o pessoal sabe que é complicado exigir alguma coisa. Mas a gente brinca. O corpo não pode enferrujar e é sempre gostoso fazer esse tipo de partida, porque alegra, diverte o público e a gente mata um pouco da saudade - brincou.
O jogo comemorativo será no dia 16 de maio, às 17h, no Estádio Municipal Radialista Mário Helênio. Para enfrentar a equipe de Zico, foram escalados por Adil Pimenta, ex-jogador de Portuguesa e Corinthians e técnico da seleção de Juiz de Fora, os goleiros Nelson e Zé Luis, os laterais-direitos Evaldo e Edvaldo, os zagueiros Gomes, Felipe Surian, Léo Devanir e Júlio Maravilha, o lateral-esquerdo Claudiney, os volantes Jorge Lima, Chem e Danilo, os meias Waltencir, Wander Luiz e Sinval, os pontas Edinho e Ronaldinho e os atacantes Zebu, Ademilson, Luiz Claudio, Wesley Tanque e Claudinho.
O FUTEBOL NA ATUALIDADE
A viagem ao passado não significa que Zico esteja alheio ao momento atual do futebol brasileiro. Na opinião do camisa 10, muitas mudanças ocorreram no esporte ao longo dos últimos 25 anos, tanto para melhor quanto para pior. Ele acredita que hoje em dia há mais organização nos campeonatos mas, em contrapartida, a qualidade caiu.
- Acho que há uma maior organização. Hoje, nos campeonatos, nós temos um calendário e isso foi se aprimorando a cada ano. Agora, por exemplo, os clubes já tem pelo menos aquele período inicial para se fazer uma pré-temporada. Mas é uma pena que com tudo bem organizado, de repente, a qualidade começou a cair. Os jogadores perderam um pouco a identificação com os clubes, esse "business" que entrou dentro do futebol fez com que as mudanças passassem a ser constantes. Hoje é mais do que normal um jogador ser formado em clube e, assim que termina o primeiro contrato, ele já vai para outro. É a lei do "quem dá mais". Os jogadores perdem a identificação, a cada ano você vê um time diferente e, por incrível que pareça, no futebol brasileiro, todas aquelas equipes que conseguem manter seu plantel, pelo menos a base, é que são as vencedoras. Quem troca demais acaba se dando mal - opinou.
Sobre o Campeonato Brasileiro, o Galinho de Quintino deu seus palpites. Para ele, o Corinthians é o favorito. Os clubes cariocas são motivo de preocupação.
- Para mim, o favorito é o Corinthians. Mas logo atrás temos também o Inter, o Cruzeiro, o Atlético-MG e o Santos. Porém, no Brasileiro, por ser muito longo, muita coisa acontece no meio. Eu estou preocupado é com os times cariocas, porque eles não mostraram algo para confiarmos que eles chegarão entre os primeiros. Tomara que eu esteja errado e isso mude - finalizou.

Por Juiz de Fora, MG

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