Às 7h do dia 3 de março de 1953 nascia Arthur Antunes Coimbra, o Zico, na casa de número sete da Rua Lucinda Barbosa, no bairro de Quintino, Zona Norte do Rio de Janeiro. Filho de Mathilde e José, o caçula da família Antunes – hoje com 62 anos – traçava desde a infância uma vida dedicada ao futebol, desde as peladas na rua, na década de 60, quando era conhecido como Arthurzico, até chegar ao Flamengo, onde se consagrou e virou o maior ídolo da história do clube. Dando sequência à série especial do LANCE! pelos 120 anos do clube, comemorados no domingo, apresentamos uma entrevista exclusiva com o Galinho, que relembrou momentos históricos e fez projeções para o futuro da Gávea:
– O Flamengo é uma grande parte da minha história, pois através do Flamengo como torcedor e depois como atleta, foram 20 anos lá dentro e lógico que ter a felicidade de jogar no clube de coração e participar dos melhores momentos é motivo de orgulho, poucas pessoas têm essa oportunidade, se tornar ídolo, ser importante... O Flamengo é parte da minha história.
Qual sua melhor lembrança como torcedor do Flamengo?
Como torcedor foi o Fla-Flu de 1963, que até hoje o maior recorde do Maracanã, foram 177 mil pessoas e eu estava lá, o Flamengo foi campeão... A imagem de quando saí do elevador no sexto andar, ver o Maracanã colorido nunca mais saiu da minha retina. Aquele jogo foi especial onde você não via um espaço vazio no Maracanã. Uma loucura, e eu tinha 10 anos, o Flamengo foi campeão e aquilo nunca saiu da minha cabeça.
E como jogador do Flamengo?
Como jogador foi a Libertadores de 1981, no jogo em Montevidéu, por tudo que aconteceu na competição, tudo que vivemos, os jogos finais com a violência toda, ali era o maior título da história. A Libertadores tem um significado maior por tudo que aconteceu e pela trajetória.
Te surpreende toda a comoção quando se fala em Zico e Fla?
Surpresa é uma palavra que não tem no meu dicionário. Agora estou tendo a chance de ver esse reconhecimento. Parei de jogar e vivi muito tempo fora, quase 15 anos no Japão. E o que mais marcou é que não tem preço, é a quantidade de Arthur que apareceu, aparece a todo momento, que tudo isso as pessoas me encontraram em aeroportos, hotéis, e dizem que colocaram o nome dos filhos de Arthur por minha causa. É gratificante, uma responsabilidade de colocar o nome do filho em homenagem a você.
Acredita que a sua geração foi um divisor de água do clube?
Sim, pois são as conquistas que marcam. Naquele tempo o Flamengo conquistou mais títulos do que tinha em toda a sua história. Então os títulos mais importantes, todos os que já haviam sido conquistados, regionais, nacionais e internacionais e ainda diversos torneios que conquistamos na Europa. Acho que, sem dúvida, foi um divisor de águas do Flamengo como clube, com torcida, e outras coisas.
O Fla de hoje se sustenta por conta da sua época?
Acho que não. Grandes conquistas teve o Brasileiro, que é uma grande conquista, a Copa do Brasil, são títulos nacionais e mesmo não conquistando uma Libertadores, que hoje é muito falada, isso faz crescer muito. O Flamengo procurou investir muito nesse período para conseguir isso. É importante sempre conquistar alguma coisa. A criança quer ver um título, não importa se um torneio em Manaus, uma Taça Guanabara. É conquista e eleva.
O que você espera para os próximos 120 anos de Fla?
No curto prazo quero ver o Flamengo com uma infraestrutura profissional que já era para ter, com CT e os profissionais trabalharem em alto nível. Pessoal fala que os times de São Paulo e Minas Gerais estão lá em cima, pois tem estrutura de CT, com pagamento em dia. Na dúvida não tem esse lance de camisa, tem sim as condições de trabalho, profissionalismo. Esse é o ponto crucial para o Rio de Janeiro, todo ano tem um brigando para não cair. Na cobrança é preciso dar uma coisa boa para cobrar. Quantos casos que tivemos que perdemos um jogador no Rio para outras praças?
É preciso mais do que isso?
É preciso também mais marca, marketing. Hoje se vai em uma escolinha do Barcelona e está lotada, se vai em uma do Flamengo não tem assim, do Vasco, Fluminense... Tudo bem que o Barcelona merece respeito, mas primeiro estão os clubes do Rio, as crianças estão acostumadas. Isso faz perder torcedor, já começa daí e se tem que ter um projeto de baixo para cima e de cima para baixo, com nome, e infraestrurua para todos, comissão, jogadores. Isso está faltando nos clubes do Rio e gostaria de ver o mais rápido possível no Flamengo.
Pedro Barboza e Rodrigo Cerqueira
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