Platini e Zico no sorteio da Copa do Mundo de 2014: íntimos (Foto: Alexandre Durão / Globoesporte.com) |
Zico já se considera candidato à presidência da Fifa, algo que vê com bons olhos. Para isso, precisa ter trabalhado com futebol em pelo menos dois dos últimos cinco anos e do apoio de cinco federações internacionais. Diante da possibilidade de suceder Joseph Blatter no comando da entidade mais poderosa do futebol mundial, o Galinho só não conta com o apoio da CBF.
- Acho que a CBF não votaria em mim, porque hoje não existe relação - disse Zico, em Berlim, onde está para acompanhar a final de sábado da Liga dos Campeões, entre Barcelona e Juventus.
Nesta terça-feira, dia em que Blattter anunciou sua decisão de deixar o cargo, Zico revelou que se candidatará à presidência da Fifa. Ele é amigo do presidente da Uefa, Michel Platini, e considera que a Fifa precisa de um candidato sério e honesto para resgatar sua imagem.
- Sou candidato porque acho que essa possibilidade de se tornar candidato a presidência dá uma abertura muito grande em relação ao que virá pela frente em termos de uma nova mentalidade de um colégio eleitoral. Eu vejo isso com bons olhos e entendo que qualquer pessoa do futebol, não só um jogador, um médico, ex-jogador, preparador físico, também ter essa oportunidade. Essas pessoas ficam afastadas de qualquer possibilidade de eleição, por isso, acho que é uma grande oportunidade para o futebol após tudo isso o que aconteceu na Fifa. Eu me sinto capacitado, tenho experiência, as pessoas me conhecem, sou um nome que trabalhei no mundo inteiro e posso ter essa chance também.
Nesta década, Zico treinou clubes das mais variadas partes do mundo, casos de Olympiacos (Grécia), Al-Gharafa (Catar), FC Goa (Índia) e até a seleção do Iraque, somando mais de dois anos atuando no futebol. Precisaria, assim, conseguir o apoio das cinco federações, algo que já está na cabeça do Galinho.
- Eu não sei se as regras do jogo vão continuar as mesmas, eu me candidato, mas vou ter de aguardar para saber como vai ser tudo, se vão repetir a forma anterior se vão mudar para começar a tomar as primeiras atitudes.
Blatter anunciou nesta terça que não irá cumprir seu quinto mandato e convocará novas eleições, entre novembro deste ano e março de 2016. Até o momento, outras duas pessoas já demonstraram interesse em concorrer nas eleições da Fifa: o príncipe da Jordânia, Ali bin Al Hussein, derrotado por Blatter na última sexta; e o ex-jogador francês David Ginola, que tentou ser candidato recentemente e não conseguiu se inscrever. Um eventual apoio ao presidente da Uefa, Michel Platini, também não está descarto, caso ele também concorra.
- Sem dúvida, na vida tudo pode acontecer. A gente quer o bem de futebol, quer o melhor.
Confira a entrevista completa:
GLOBOESPORTE.COM: Por que você decidiu lançar esta candidatura à presidência da Fifa?
ZICO: Sou candidato porque eu acho que a atual conjuntura da Fifa dá uma abertura muito grande em relação a o que virá pela frente em termos de uma nova mentalidade e de um colégio eleitoral. Eu vejo isso com bons olhos. Eu vejo que qualquer pessoa do futebol, não só um jogador, um médico, ex-jogador, preparador físico, também pode ter essa oportunidade. Aquelas pessoas que trabalham no futebol e hoje, com tudo aquilo que estava existindo, essas pessoas ficam afastadas de qualquer possibilidade de eleição. Por isso, eu acho que é uma grande oportunidade para o futebol tudo isso o que aconteceu na Fifa. Eu me sinto capacitado, tenho experiência, as pessoas me conhecem, sou um nome que trabalhei no mundo inteiro e posso ter essa chance também.
Você já foi contatado por alguma federação? Porque precisaria do apoio de cinco...
Não sei se as regras do jogo vão continuar as mesmas por tudo isso que tem acontecido. Eu me candidato, mas vou ter de aguardar para saber como é que vai ser. Recebi muitas chamadas, amigos do mundo inteiro, mas de ninguém ligado oficialmente a federações, porque está todo mundo envolvido com o que aconteceu na Fifa e pisando em ovos para saber o que vem aí.
AMIGO DE PLATINI
Há quem coloque a possibilidade de Platini apoiar a sua candidatura. Vocês são amigos, como é a relação?
Sim, somos amigos, o Michel é talvez o maior candidato pelo excelente trabalho que ele vem fazendo na UEFA, e eu sou testemunha disso. Acredito que os candidatos que estavam concorrendo com o Blatter devam voltar. E agora, com essa abertura, acredito que muita gente pode vir. A possibilidade de novos nomes surgirem aumenta a cada dia por tudo isso que aconteceu no futebol.
Mas a sua candidatura e do Platini são e serão independentes?
Hoje, sim, eu não conversei nada com Platini. Mas vou conversar, somos amigos, ele me convida para eventos. Então, tenho sempre trabalhos da Uefa. Todas as vezes que venho na Europa, eu converso com ele. O Platini já veio na minha casa. É um amigo e as vezes que eu estou com ele é sempre para dar os parabéns pelo belo trabalho que ele fazendo na Uefa.
Você poderia vir a apoiar e a trabalhar com ele na FIFA?
Sem dúvida, na vida tudo pode acontecer, eu acho que o importante é o bem do futebol, o melhor. Eu gostaria de ver a fórmula utilizada pela Uefa funcionando lá na Libertadores, no Brasil, por exemplo. Acho que o pessoal da Libertadores deveria estar aqui presente vendo o que está acontecendo para procurar melhorar, já que a competição é a mais importante da América. A gente tem de estar do lado de quem está fazendo bem. E eu acho que, se isso acontecer e for do bem para o futebol, acho que é uma grande opção do futebol mundial, se o Platini for um dos candidatos para presidente da Fifa, pelo trabalho que está fazendo. Ele não tinha muita experiência em trabalho de administração, apenas uma passagem pelo Comitê Organizador da Copa do Mundo da França.
Você se refere a um bom trabalho em organização de evento, mas ao mesmo tempo o Platini não melhorou a questão da transparência no futebol europeu. Como jogador, ele era um grande crítico das entidades que governavam o futebol, mas hoje é ele quem dá um passo atrás na questão do replay televisivo em campo e não aceita nenhuma dessas medidas.
Eu não concordo com você, eu acho que o trabalho que ele vem fazendo é justamente para isso, é a força do futebol europeu em termos de clubes, cada vez mais estão podendo investir. Organiza uma competição irrepreensível como a Liga dos Campeões. Eu tive a oportunidade de estar presente no Fenerbahce, no Olympiacos, e quando se falava que estava classificado para a Champions, empolgava todo mundo. Isso tudo graças a uma organização feita para beneficiar os clubes da Europa.
Recentemente, ele também se manifestou em prol da saída de Blatter, que o apoiou na sua candidatura à UEFA. O que é que você acha dessa mudança de posição?
Ele tem as suas razões, ele está vivenciando mais o dia-a-dia político do que eu. Então, eu não vivenciei isso e não posso dar uma opinião a esse respeito. Mas todos nós podemos mudar de opinião de hoje para amanhã, isso faz parte da vida, temos de dar é razões para isso. Não tenho dúvida que o Platini deve ter tido suas razões.
DEL NERO, CATAR E RÚSSIA
A CBF apoiaria a sua candidatura?
Acho que não. Por quê? Pela falta de dialogo que existe da minha parte com aqueles que estão lá.
Você concorda com o Ronaldo, quando ele diz que Del Nero deveria deixar a presidência da CBF?
Cada um tem a sua opinião. Eu não conheço bem o Del Nero, então, não posso ter uma opinião sobre ele. O cara tem um mês de CBF, eu não posso falar sobre o trabalho dele. Os anteriores, eu sei que um está preso e o outro está sendo indiciado. Então, aí a gente pode falar.
Voltando novamente à FIFA, você é favorável à mudança das sedes das Copas de Catar e Rússia, caso se comprove a existência de corrupção nas eleições que decretaram esses dois países?
Eu acho que, se houver uma prova de corrupção a uma candidatura, você tem de anular. A meu ver, eu, particularmente, nunca fui favorável a uma Copa no Catar, um país que não tem futebol e tem 10 pessoas em um estádio, uma temperatura ruim. O que é que o Catar fez para o futebol e para o esporte em particular para mudar a data de uma Copa do Mundo? Eu não entendo isso. Se fosse Brasil, Itália, Argentina, Alemanha, tudo bem. Mas agora você tem de mudar porque a temperatura lá é muito quente? Eu sei como é, porque eu trabalhei lá, e jogar futebol em junho no Catar é uma coisa absurda. Mas eu não entendo. Você vai assistir a um jogo de campeonato no Catar e não tem nem mil pessoas no estádio. Então, é inadmissível que todo esse favorecimento possa existir a um país.
Japão e EUA estariam preparados para receber essas Copas? Você apoiaria o Japão?
A gente tem que apoiar quem está em condições de realizar. Esses são dois países que a qualquer momento podem realizar uma Copa do Mundo.
Se não for eleito presidente da FIFA, poderia se candidatar a presidente da CBF?
A CBF é você ter condições, ter um colégio eleitoral que não seja comprometido com as atuais condições. Se o pensamento for o de hoje, não há a menor chance nem menor prazer de me candidatar a isso. Os mesmos continuam aí.
E O GOA?
Você ainda tem contrato com o Goa, certo?
Eu tenho um compromisso verbal, mas não assinado. Tenho um compromisso com eles a partir de setembro quando começa o campeonato. Devo ir à Índia agora no final do mês, porque tem um draft dos jogadores indianos e vou tentar de vez acertar o contrato para ver se a coisa se concretiza ou não.
E como é que você vai gerir o duplo compromisso com a candidatura e o Goa?
Não tem duplo compromisso, porque em relação à candidatura ainda não sei como vai ser e de que forma. Então, por enquanto não tenho que pensar nisso. É preciso esperar para ver, não vou botar o carro na frente dos bois ainda. Tem de ver como vai ser daqui para frente. Por enquanto, só aguardando. Eu coloquei aí a possibilidade da minha candidatura.
Você aguarda pelo apoio de algumas federações?
É preciso esperar para ver como vai ser, organização, colégio eleitoral, e agora a situação está entregue ao presidente Blatter, que vai sair. Ele com o resto da FIFA é que vai decidir.
Você pretende levar o Adriano para a Índia em setembro?
Existe sim essa possibilidade. Eu quero apenas conversar com os donos do clube para explicar a situação que ele se encontra no momento, porque eu gostaria muito de fazer essa tentativa. Mas não depende só de mim.
Por Claudia GarciaBerlim
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