Um campeão mundial disposto a passar seu conhecimento adiante. Este é Mozer, zagueiro do time profissional do Flamengo entre 1980 e 1987, campeão mundial em 1981. Na manhã desta quinta-feira (25.06), o ídolo rubro-negro veio à sede da Gávea e aproveitou para conversar com o Site Oficial do Flamengo. O ex-zagueiro mora em Portugal, onde jogou pelo Benfica e, mais tarde, foi auxiliar do técnico José Mourinho. Em visita ao Brasil, trouxe seu filho à Gávea e mostrou a história do Rubro-Negro ao menino no Fla Experience, exposição interativa do Flamengo.
Ele falou sobre o passado, o presente e o futuro do Mais Querido. Confira a entrevista completa:
FlaExperience
- São histórias que nós ajudamos a construir no passado. Nos orgulhamos muito daquilo que conseguimos conquistar não só para o clube como também para a Nação Rubro-Negra. São os títulos que fazem com que esse clube seja diferente de todos os outros, e é bastante gratificante quando a gente olha ali para dentro e vemos a quantidade de troféus que coletivamente conseguimos conquistar, com a filosofia que tínhamos. Fico bastante contente de relembrar. Muito legal ver as camisas expostas como se fosse o vestiário de 1981. A sala de troféus, com o projetor mostrando os gols daquele ano... São coisas que nos marcaram e que para o torcedor também marcou muito.
A geração da década de 1980
- Foi uma geração espetacular, espero que o Flamengo continue a cultivar estes procedimentos onde fomos criados, um procedimento familiar, de muita união, amizade e respeito pelos torcedores. Foi o que aprendemos quando éramos crianças. Entrei aqui com 15 anos e permaneci até os 27. E todos os dias nós éramos confrontados com aquilo que era a filosofia do Flamengo, uma filosofia familiar, de irmandade e de abnegação pelo trabalho. Foi isso que fez com que nós pudéssemos conseguir os títulos que conseguimos.
Reestruturação financeira do clube
- Acho que o processo financeiro é sempre super importante para dar estabilidade interna ao clube. Você conseguindo saldar suas dívidas e depois tendo condições de honrar os compromissos com os profissionais que lá trabalham é um bom sinal. Se isso acontece, a direção do clube tem um respaldo de honestidade, de poder tomar as decisões. Acho que é super importante. Hoje em dia é difícil manter os jogadores dentro do clube pois a diferença salarial em relação à Europa é muito grande, mas que este processo da base também seja sólido, para que você possa cada vez mais ter valores de transferência mais altos com os jogadores que você produz.
Geração formada em casa
- É importante que se atente aos processos de trabalho de formação, internos, para que você consiga produzir internamente jogadores competitivos. O brasileiro é dotado de grande técnica por si só. Por que, pela lógica, sendo competitivo é que você vence competições. Sabíamos sempre aquilo que tínhamos que fazer dentro de campo para vencer. Queríamos devolver o apoio que recebíamos por parte dos torcedores.
Nação Rubro-Negra
- A responsabilidade que um jogador do Flamengo tem que ter é muito maior. Pelo histórico que existe, é maior do que os outros. Embora os outros clubes nacionais tenham tido conquistas como tivemos, é inegável que a massa humana que o Flamengo arrasta não há clube no mundo que arraste. É preciso que o jogador saiba disto e se dedique a isto para cada vez mais esta massa crescer.
Jogadores experientes e lideranças no elenco
- Aqueles jogadores que conseguem ter o reconhecimento e que conseguem visivelmente serem diferenciados passam a ter uma responsabilidade muito maior, de serem o "veículo" que os outros seguem. Então eles têm que ter a consciência daquilo que representam e da importância que têm para seus colegas também. Têm que ser motivo de aglutinação, o comportamento deles tem que ser motivador, nunca de superioridade. No fundo, quem é superior é aglutinador, quem é superior é pelo exemplo que mostra aos companheiros, pelo comportamento, pela maneira de agir, de proteger aqueles que são menos cotados. Então tem que haver este comportamento, como foi o que Zico, Júnior, Andrade, Adílio, Júlio César Uri Geller, tiveram comigo quando tinha 19 anos. Isso que fez deles os ídolos que são até hoje. Este comportamente que Wallace, Samir têm que ter dentro da cabeça deles, que no fundo eles poderão alcançar lugares e têm o dever de poder agarrar na mão do outro e trazê-los também. Este é o comportamento que tem que reger o Flamengo.
Carlinhos
- Fui treinado pelo Carlinhos várias vezes, pois ele era o auxiliar imediato do clube. O Carlinhos foi o treinador que sempre nos acompanhou, sempre produziu para o Flamengo com resultados bastante positivos. Era um homem espetacular, com caráter espetacular. Era amigo de todo mundo. E nós tínhamos sempre um dever acrescido, quando ele estava a chefiar a equipe, de fazer o melhor possível para que sempre permanecesse. Era um ser humano espetacular, me ensinou muito, era muito jovem e tive o prazer de várias vezes conversar com ele. Sempre me deu muitas orientações bastante benéficas para o que foi meu processo de amadurecimento dentro do clube. Somos todos gratos pelo que ele deu e pelo quanto que se dedicou ao Flamengo. Infelizmente a vida é assim, o cotidiano é imprevisível, mas tenho a certeza que a Nação Rubro-Negra nunca vai se esquecer do Carlinhos.
A importância do Flamengo
- O Flamengo foi para mim tudo aquilo que eu consegui no meu sonho. Quando somos crianças, principalmente aqui no Brasil, o futebol é um veículo que todo ser humano é apaixonado. Como jovem, tive o sonho de ser um dia jogador e o Flamengo me deu esta oportunidade. Este clube nos projetou para os patamares que conseguimos alcançar no exterior. Tudo aquilo que foi dentro da minha carreira, o sucesso que tive, o Flamengo tem grande influência no meu comportamento. No fundo, foi isso que aprendi aqui no Flamengo. O respeito com a entidade patronal, o respeito e o companheirismo com seu colega, que desenvolve o mesmo trabalho com você, o respeito pelo treinador, isso tudo nós aprendemos a ter. E foi isso que me guiou na minha carreira no exterior também. Este comportamento que adquiri desde garoto me fez levar a bandeira do Flamengo no coração e me projetou em patamares que pude alcançar graças a este desenvolvimento que tive aqui como homem, como jogador e no fundo como apaixonado pelo esporte. Graças ao Flamengo eu pude ter uma carreira brilhante, conquistar muitos títulos no exterior e representar bem o que era naquele período o jogador brasileiro.
O Brasil e os defensores
- Acho que era difícil jogadores de defesa saírem do país, normalmente os jogadores que eram transferidos eram meias e atacantes. Dizia-se que o Brasil não produzia defensores capazes de atuar na Europa e provamos o contrário, a partir disto conseguimos abrir muitas portas para jogadores que vieram depois poderem usufruir daquilo que nós usufruímos. Hoje o Brasil exporta muitos zagueiros pois a imagem que deixamos é uma imagem bastante positiva a nível de competitividade. Aprendi isso no Flamengo, a ser competitivo.
www.flamengo.com.br
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