sábado, 31 de maio de 2014

Pintinho, herdeiro das chuteiras, e a maldição dos candidatos a sucessor do camisa 10

Rafael Oliveira
O ex-jogador Pintinho, que recebeu as chuteiras de Zico, em 1990
O ex-jogador Pintinho, que recebeu as chuteiras de Zico, em 1990 Foto: Rafael Oliveira

"Novo Zico" foi a alcunha atribuída a muitos meias com talento na Gávea e que revelou-se uma maldição. Há 23 anos, Zico já temia por isso. Ao entregar suas chuteiras ao jovem Valmir da Silva, o Pintinho, aconselhou a promessa de 14 anos a não pensar em ser seu sucessor. Por ironia, ele sequer teve essa oportunidade, afinal nunca jogou uma partida como profissional pelo clube.
— Eu treinava no time do Nunes (o time B do Flamengo). Nem dos coletivos eu participava — lembrou Pintinho, hoje com 36 anos.
Quando subiu para o time adulto, em 1996, passou a ser emprestado. Foi campeão no Ceará, no Maranhão e até na Venezuela, mas nunca teve a tão esperada chance no Flamengo. Quando o contrato expirou, em 2001, deixou o clube sem olhar para trás:
— No último ano, ia para o treino e nem jogava. Comia pastel e bebia caldo de cana esperando o tempo passar.
No álbum de fotos, a recordação do encontro com Zico e Gilmar Popoca
No álbum de fotos, a recordação do encontro com Zico Foto: Terceiro / Reprodução / Arquivo pessoal
 
Há dois anos, Pintinho virou diretor de futebol no Maranhão. Mês passado, voltou ao Rio decidido a fincar os pés em Cabuçu, sua terra natal. Mas uma proposta do Moto Club já o balança.
As chuteiras, que antes de Zico pertenceram a Carlinhos, estão na casa da avó. Desgastadas, já não suportam uma partida. Mas estão guardadas para lembrá-lo de que o futebol, ainda que seja padrasto, tem sua magia.
— Ruim é você ganhar dinheiro e gastar tudo. Eu não ganhei. Então, tive a vida que pude e realizei o sonho de ser jogador profissional.
Na despedida de Carlinhos, Zico recebe as chuteiras que um dia daria a Pintinho
Na despedida de Carlinhos, Zico recebe as chuteiras Foto: Arquivo O Globo
 
O Flamengo segue atrás do novo Zico. O original sabe que isso nunca irá acontecer.
— Eu relutei (em entregar as chuteiras). Receber de um ídolo uma marca forte como aquela ia gerar ânsia no garoto — recorda o Galinho, que hoje vê o pupilo Rafinha como mais novo candidato.
— Esse garoto tem talento e empresário, justo o que me faltou. Tem tudo para ir longe — disse Pintinho.
Palavra de quem conhece bem a pressão.

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