"Novo
Zico" foi a alcunha atribuída a muitos meias com talento na Gávea e que
revelou-se uma maldição. Há 23 anos, Zico já temia por isso. Ao
entregar suas chuteiras ao jovem Valmir da Silva, o Pintinho, aconselhou
a promessa de 14 anos a não pensar em ser seu sucessor. Por ironia, ele
sequer teve essa oportunidade, afinal nunca jogou uma partida como
profissional pelo clube.
— Eu treinava no time do Nunes (o time B do Flamengo). Nem dos coletivos eu participava — lembrou Pintinho, hoje com 36 anos.
Quando
subiu para o time adulto, em 1996, passou a ser emprestado. Foi campeão
no Ceará, no Maranhão e até na Venezuela, mas nunca teve a tão esperada
chance no Flamengo. Quando o contrato expirou, em 2001, deixou o clube
sem olhar para trás:
— No último ano, ia para o treino e nem jogava. Comia pastel e bebia caldo de cana esperando o tempo passar.
No álbum de fotos, a recordação do encontro com Zico Foto: Terceiro / Reprodução / Arquivo pessoal |
Há
dois anos, Pintinho virou diretor de futebol no Maranhão. Mês passado,
voltou ao Rio decidido a fincar os pés em Cabuçu, sua terra natal. Mas
uma proposta do Moto Club já o balança.
As chuteiras, que antes de
Zico pertenceram a Carlinhos, estão na casa da avó. Desgastadas, já não
suportam uma partida. Mas estão guardadas para lembrá-lo de que o
futebol, ainda que seja padrasto, tem sua magia.
— Ruim é você
ganhar dinheiro e gastar tudo. Eu não ganhei. Então, tive a vida que
pude e realizei o sonho de ser jogador profissional.
Na despedida de Carlinhos, Zico recebe as chuteiras Foto: Arquivo O Globo |
O Flamengo segue atrás do novo Zico. O original sabe que isso nunca irá acontecer.
—
Eu relutei (em entregar as chuteiras). Receber de um ídolo uma marca
forte como aquela ia gerar ânsia no garoto — recorda o Galinho, que hoje
vê o pupilo Rafinha como mais novo candidato.
— Esse garoto tem talento e empresário, justo o que me faltou. Tem tudo para ir longe — disse Pintinho.
Palavra de quem conhece bem a pressão.
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