terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Motivado, Muricy é apresentado na Gávea e cobra postura dos jogadores

apresentação de muricy flamengo (Foto: Foto: Gilvan de Souza / Flamengo)Ao confirmar Muricy Ramalho no fim da noite de segunda-feira, o presidente Eduardo Bandeira de Mello disse que o técnico havia se "encantado com o Flamengo". E o que se viu do novo comandante em sua apresentação na Gávea, nesta terça, foi vontade e muita motivação. Muricy está empolgado com o desafio de, junto da diretoria, melhorar a estrutura do futebol rubro-negro.
- Agradeço ao Flamengo pelo convite. Fiquei muito honrado pela transparência e organização. Desafio muito grande. Ganhar no Flamengo deve ser uma coisa muito legal. Estou à disposição e com certeza vou colaborar com a diretoria. E vamos melhorar a parte de estrutura.
O treinador estava apalavrado desde o mês passado com o Flamengo, mas só teve seu nome confirmado na segunda-feira após o fim da apuração dos votos na Gávea, quando Eduardo Bandeira de Mello foi reeleito presidente. Muricy Ramalho assinou por dois anos com o Rubro-Negro e já chegou cobrando profissionalismo dos jogadores. Neste fim de ano o clube viveu o episódio do afastamento e posterior reintegração de cinco atletas - Cirino, Alan Patrick, Pará, Everton e Paulinho - por terem participado de uma festa logo após um treino. E a postura do time nos últimos jogos do Brasileirão foi de pura falta de interesse.

- Não sou dono de nada, mas isso é uma coisa natural. Não dá para ter esse tipo de jogador hoje, que tanto faz ganhar e perder. Tem que ser profissional, ser cobrado por isso. Claro que vai ser cobrado, assim que tem que ser. Essa coisa de estar cuidando do cara... Não sou pai, nem babá. O que tem que exigir é o mínimo, que tem que dar em campo. Tem que pensar no torcedor. Esse tipo de jogador não convence mais. A gente vê quem é o cara. Pessoal vir aqui, fazer bom contrato, não é assim... Tem essa coisa do Flamengo estar organizado, todo mundo quer vir. Mas ele tem que dar resultado, vai ser pressionado para isso. Senão fica lá tomando cerveja.
Muricy chegou pela manhã ao Rio de Janeiro e, antes de ser apresentado, foi conhecer o Centro de Treinamento Ninho do Urubu, em Vargem Grande, Zona Oeste da cidade. Ele viu de perto a situação do local e afirmou que são necessárias muitas melhorias.
- Estive agora à tarde no CT, porque acho importante aproveitar esses dias. Claro que falta muita coisa, mas tem um projeto inicial para janeiro que vai já estar melhor. E daqui a um ano uma coisa definitiva. Não tem como no futebol depender da sorte. Tem que ver os números, quem está na frente e porque está na frente. É muito claro. Esse é o caminho. E aqui no Flamengo isso vai acontecer. Tenho um pouco de experiência e acredito na ideia do Flamengo. 
O comandante tem 60 anos e é tetracampeão brasileiro (três com o São Paulo e uma com o Fluminense) e campeão da Libertadores com o Santos. Deixou o São Paulo no início deste ano, devido a um problema de saúde e aproveitou o período para estudar, inclusive na Espanha.
Outros trechos da entrevista coletiva de Muricy:
Confiança nos atacantes
Guerrero e Cirino não podem ter esquecido de jogar. Às vezes faz parte de melhorar em todos os sentidos. A gente precisa saber e conversar com os jogadores, ver os números. Analisar e aí tentar corrigir. São jogadores muito importantes e que com certeza vão estar com a gente ano que vem.
Demissões constantes de técnico no Flamengo
Não sou um cara inseguro, ao contrário. Estou muito seguro. Na minha carreira escolhi muito bem os lugares que trabalhei. Acho que fiz uma escolha muito correta. Contrato de dois anos que se pode estender. Você pode ver meu contrato e termino todos. Sou um cara que conquista. Devo ficar os dois anos e até um pouco mais.
Quantos reforços?
Difícil falar em números, definir número, depois aparece uma oportunidade boa no mercado. Mas há setores que faltam mais jogadores, outros não. No meio de campo, um pensador do time, um defensor também é importante. Mas tudo isso estamos falando de reforços nível A, senão não adianta trazer. Está difícil para todo mundo, tem muito jogador, mas não dessa qualidade. Um para o setor de pensamento e outro para o sistema defensivo.
Reencontro com Sheik
Sobre o Sheik, fomos campeões no Fluminense. Ele foi morar no prédio que eu morava há algum tempo. Uma mala. Fazia barulho. Um cara que com certeza gosto de trabalhar, vencedor, tem personalidade e não pipoca. Na hora de treinar, dá a vida. É um cara com quem estou super feliz de trabalhar. É só ver o currículo dele. É fundamental no Flamengo. 
Bom humor: "invencibilidade" de oito meses
Acho que a gente vai ficando mais experiente. Sempre aprendendo no futebol e na vida. Acho que precisava parar um pouco e estudar o futebol. Tem que esperar o dia a dia e os jogos acontecerem. Acho que foi muito válido. Estou melhor, com certeza. Ver jogos, conversar com as pessoas. Eu estou invicto, há oito meses sem perder um jogo (risos). Mas estou feliz, recuperado. É muito bom não trabalhar tanto. Fiquei quase 22 anos sem um período desses. Tem contratações, conversas, reuniões. Graças a Deus saí um pouco da bolha. Estou renovado, com força e vontade. 
Kaká
O Kaká é fora de série. É diferente, grande jogador. Sempre positivo e que comanda dentro do campo. Mas, sinceramente, esse nome não foi falado.

Profissionalização
Gestão profissional. Isso não tem mais volta no futebol. Lá (Barcelona, onde fez estágio) é pura profissionalização de tudo, e dá para fazer aqui. Unificar tudo. Todas as categorias. Unificar ideais de futebol e trabalhar com os professores de futebol da fase. Explicar o que é o Flamengo. Filosofia do clube. O técnico tem que se adaptar ao clube. Encontrar o técnico para se adequar ao clube. É uma ideia que conversei com o presidente e diretoria. Esse é o caminho, conversar com o pessoal da base, sem impor nada.
Base no Brasil
Isso é uma outra coisa que a gente erra demais no Brasil: a base. Não dá para acreditar que no mirim vai mandar treinador embora. Não tem correção e nem filosofia de nada. Temos que fazer jogadores. Quero tentar implantar, sem forçar, e achar um modelo. São obrigados a fazer jogadores. Lá na base tem que ensinar isso. A gente erra muito nesse sentido. Até na base a gente demite treinador. 
Estilo de jogo e falhas na bola parada
Em relação à maneira de jogar, você tem as diferenças. Hoje você tem o controle de jogo, a famosa posse de bola. E a intensidade. Futebol hoje faz a transição rápida. Lá para trás era diferente. A bola parada tem que estar treinando. Fazer sempre. Percebi umas deficiências de bola parada nos jogos que vi do Flamengo. E não é problema de altura da defesa. Alguma coisa está errada. Devo implantar alguma coisa.
Bordão: "aqui é trabalho"
Não é cartilha. Mas com certeza é o básico de um grande time que quer conquistar alguma coisa. São trabalhadores, disciplinados, comprometimento com a camisa, trabalhar muito e dar resultado. Você é cobrado pelo resultado. Não tem outra saída. O treinador é um cobrador de objetivo. Isso que vai ser cobrado. 

Zico
Em relação ao Zico, é o jogador mais completo que vi jogar e joguei várias vezes contra. Admiração pelo homem. Um cara que a gente admira porque a gente tem que ter exemplos, pois temos poucos no país. Participei da campanha dele na Fifa, apesar de ser melhor na CBF. A gente sai pra jantar, é sempre um grande prazer. Trabalhar num clube que teve Zico é fantástico.
Divisão de times A e B no início de 2016
É uma escolha estratégica do clube. Técnico não é dono do clube, não sou técnico que cuida do jardim, da comida, sou técnico. Vou cuidar do time. Estratégia do Flamengo é disputar com time alternativo, a ideia era separar, mas não dá para separar, não conheço os garotos, vamos levar todos para Mangaratiba. São 38 jogadores, é difícil para treinar, alterar os horários, treinar um time para um campeonato e outro. Junto com uma pessoa que vamos escolher, pode ser o Jayme (de Almeida, auxiliar técnico permanente do Fla), que é meu parceiro, pessoa de minha confiança. Sou amigo da família, fui no casamento dele em 1900 e não sei quando. Estou ficando velho (risos). Vamos fazer trabalho em conjunto, com essa molecada que vai ser lançada. Vou acompanhar, ver os jogos, mas vou ter uma pessoa para dirigir. 
Samir
É um jogador interessante, mas me parece que existem negociações (o zagueiro está de saída para o Udinese-ITA)... Meu primeiro dia no clube, ainda estou vendo jogadores, no que diz respeito a contratos, estamos no começo ainda em relação a isso.

Por Felippe Costa, Ivan Raupp e Raphael Zarko
Rio de Janeiro

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