Bíblia do Flamengo está disponível em todas as livrarias do Brasil (Foto: Divulgação) |
O futebol é um esporte que move massas. A paixão incontrolável pelo time do coração faz com que, muitas vezes, o futebol seja equiparado à religião. E foi com essa ideia que o jornalista português Luis Miguel Pereira, escreveu A Bíblia do Flamengo, lançada em 2010, mas que a diretoria rubro-negra a designou como "livro oficial" dos 120 anos, comemorados neste domingo.
Seguindo o especial, a Goal conversou com o autor, que apesar de ter nascido e morar até hoje em Portugal, é um verdadeiro rubro-negro.
Luis Pereira contou com a presença de Zico no lançamento da Bíblia, no Rio de Janeiro em 2010 (Foto: Arquivo Pessoal) |
"Se os clubes são verdadeiras 'religiões', os jogadores 'deuses', os torcedores 'fieis' seguidores... Porque não cada clube ter a sua Bíblia? E neste caso a Bíblia não é mais do que a história do clube contada através de curiosidades, frases célebres, estatísticas, letras de musicas, etc. Trata-se de um conceito - Bíblia - criado por mim em Portugal e que depois se espalhou por outros países (existe a Bíblia do Benfica, Real Madrid, Barcelona, Atletico de Madrid...", explicou o autor.
É bem curioso um português ser flamenguista. Conta um pouco como você virou torcedor rubro-negro?
Verdade. O mais óbvio, como português, seria torcer pelo Vasco. Mas o Flamengo sempre despertou em mim um apelo muito grande. Foi Zico quem descarregou sobre mim essa magia. Ele foi o culpado! Era o meu ídolo maior. E foi Zico quem me mostrou o Flamengo, aquela camisa listrada de rubro e negro... A paixão aconteceu assim, através de símbolos: o cabelo do Zico, as cores da camisa... tudo aquilo era sensorial para mim. Não tem explicação lógica.
Como você conseguia assistir e ter notícias do Flamengo antes da internet? Na época a televisão não tinha toda essa dimensão também...
Não havia internet e nem o acesso à informação que há hoje. O Flamengo começou a chegar até mim através de uma revista francesa chamada 'Onze'. Era uma revista muito cuidada do ponto de vista gráfico, com ótimas fotos. E trazia muita informação sobre o Flamengo, por força das conquistas rubro-negras dos anos 80. Eu recortava as fotos, principalmente as do Zico, e revestia os meus cadernos escolares.
É verdade que os jogos do Flamengo não passavam na tv portuguesa (nem sequer os melhores momentos), mas a Seleção Brasileira sim. Principalmente as Copas do Mundo. E aí eu tirava a barriga da miséria! Até porque a seleção de Portugal nunca estava presente nas Copas e o Brasil era a seleção dos portugueses. Aquela copa de 82 foi um prato cheio! Recordo-me que no intervalo do jogo com a Argentina, fui para a rua, peguei uma bola, e me senti um Zico driblando.
Qual foi o seu primeiro jogo do Flamengo ao vivo? Como foi a experiência e a sensação.
Isso aconteceu muito mais tarde. Na primeira vez que fui ao Brasil. Foi um jogo no Maracanã, creio que em 1997, pelo Campeonato Carioca. Foi incrível! Já não vi o Zico ao vivo, mas vi o Flamengo!
Zico, o maior ídolo do clube, escreveu o prefácio do seu livro. Ele no caso seria o maior 'profeta' da Bíblia do Flamengo? Ele também participou do lançamento. Como foi conhecê-lo pessoalmente?
Sem dúvida. Aliás, ele não é o maior profeta... é o Papa do Flamengo. Ele foi ao lançamento, mas a história começou bem antes: tinha pedido ao Valdo (ex-internacional) - que vive em Portugal e é meu amigo - que levasse o livro (Bíblia do Flamengo) ao Zico, com uma carta escrita por mim, onde eu contava a minha história e pedia que o Galinho escrevesse o prefácio. Passou muito tempo e não vinha a resposta. Perdi a esperança. Até que um dia, no aniversário da minha filha tocou o celular. Era um número brasileiro. Estranhei. Atendi. E do outro lado uma voz dizia: 'É Zico!'. Pensei, mas Zico só conheço um... não pode ser ele!! Ainda perguntei se não era trote. Ele insistiu que não, que o Valdo tinha deixado um livro. Estava ligando para confirmar que tinha gostado muito do livro, escreveria o prefácio e só precisava saber a data de entrega. Fiquei eufórico!
Depois veio o lançamento, na Fnac do Barra Shopping. Mais uma vez ele me surpreendeu. Apareceu sozinho, com o braço todo enfaixado, caminhando com aquelas pernas arqueadas... Corri para ele, cumprimentei, apontei para o braço e perguntei 'o que foi isso?'. Ele respondeu, foi jogando bola, mas não podia deixar de vir. Aí eu pensei: É um craque mesmo, em todos os sentidos da palavra.
Alguma história engraçada que tenha passado por causa do Flamengo?
Agora já é mais fácil ver jogos do Flamengo em Portugal através da TV (Globo Internacional, SportTV, PFC, etc.). Mas há uns anos era difícil. Então eu ficava na internet procurando rádios brasileiras para, pelo menos, escutar o relato do jogo e saber o resultado. Havia cenas caricatas porque muitas vezes caía nos momentos decisivos...
Qual a reação das pessoas quando descobrem que você é flamenguista mesmo morando em Portugal?
Ficam surpreendidos. Não é normal. Até porque o futebol brasileiro não é propriamente popular em Portugal. Nós seguimos mais os campeonatos europeus. Mas aqueles que me conhecem, já se habituaram.
Neste domingo o Flamengo completa 120 anos. O que está achando do time neste ano e o que espera para 2016?
É uma resposta complicada. O Flamengo, tal como todas as equipes brasileiras, mudam muito de jogadores e de técnicos. Não há referências! A paixão que eu tenho hoje, é alimentada pela camisa e não tanto por este ou aquele jogador. Bem diferente do que acontecia no tempo do Zico. Eu torço pela camisa do Flamengo.
Espero que ganhem sempre, como qualquer torcedor que se preze. Mas admito que não é fácil. Os times do Rio têm cada vez mais dificuldades para ganhar o campeonato. Estão perdendo força, poder econômico, organização... para os times de São Paulo. E no caso do Flamengo é uma pena, porque o Flamengo tem tudo para dar certo! Se há time do Rio com potencial para rivalizar com os times de São Paulo, Minas, Porto Alegre... é o Flamengo.
Por:www.goal.com/
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