terça-feira, 8 de maio de 2012

Angelim rejeita mágoa, mas admite ser nova vítima do “facão” de Luxa

Ronaldo Angelim
Foto: André Portugal/VIPCOMM
Ronaldo Angelim acredita que ainda estaria no Flamengo se o treinador não fosse o Luxemburgo
Ronaldo Angelim é dono de uma personalidade dócil e pacata. Ao ser questionado pela reportagem sobre o nome de Vanderlei Luxemburgo, ele descartou estar magoado com o ex-comandante, em nenhum momento quis criar polêmicas. No entanto, seu tom de voz se fortaleceu ao reconhecer que o treinador foi decisivo para a sua saída da Gávea no fim de 2011, após seis anos de eficientes serviços prestados.
‘Eu tenho certeza que se fosse outro treinador, eu estaria no Flamengo até hoje, mas isso aí é passado’, disse o defensor, em entrevista exclusiva.
Mesmo sem grife, Ronaldo Angelim reforça a lista de jogadores que Vanderlei Luxemburgo tirou da ‘zona de conforto’ em clubes de tradição. Fato semelhante já havia ocorrido com outros nomes mais badalados – começou com o ex-goleiro Ronaldo em 1998, passou pelo ex-meia-atacante Marcelinho, ambos no Corinthians, e respingou até em Giovanni, um ídolo incontestável dos santistas, no fim de 2005.
Flamenguista assumido, Angelim queria terminar a carreira no time de coração. Como não teve o desejo permitido, a ideia do zagueiro é desvincular um pouco da imagem com o time da Gávea ao criar novos laços a partir de agora, em função do acerto para jogar no Grêmio Barueri na Série B do Campeonato Brasileiro. Aliás, durante a entrevista por telefone, o defensor fez questão de citar em algumas oportunidades que também teve uma passagem marcante pelo Fortaleza.
Por fim, Ronaldo Angelim falou sobre o ambiente no Rubro-Negro e a experiência ao lado de Ronaldinho Gaúcho. O zagueiro considera que o camisa 10 ainda pode ser importante ao Flamengo. Em contrapartida, preferiu despistar ao ser questionado se algumas atitudes do ex-melhor do mundo – principalmente fora das quatro linhas – são camufladas pela diretoria. ‘Não sei se isso existe’, comentou Angelim.
Leia abaixo entrevista com o zagueiro Ronaldo Angelim:
A sua passagem pelo Flamengo durou seis anos. Qual foi o balanço?
Foi um balanço positivo. Com exceção de um ano, acho que foi em 2010, nós ganhamos títulos importantes pelo clube. Mas a minha carreira não foi só resumida no Flamengo.
Claro. Você também foi um jogador importante no Fortaleza.
Pois é, eu também tive uma boa passagem pelo Fortaleza, deixei o time na Série A, em um trabalho feito ao lado do todo o grupo que estava lá. Mas é lógico que as minhas maiores conquistas foram com a camisa do Flamengo.
Quando você chegou ao Flamengo, a própria torcida não o via como um jogador para fazer a diferença, mas apenas um reserva.
É verdade. Naquele ano de 2006, apesar de o pessoal falar que eu era reserva, joguei mais do que os próprios titulares, tanto no Campeonato Brasileiro, como na Copa do Brasil. Se tivemos uns dez jogos na Copa do Brasil, eu atuei em nove, só fiquei fora de um por questão de cartão. E no Campeonato Brasileiro foi a mesma coisa. Eu fui um reserva que atuei bastante.
Você nasceu em São Bernardo e ficou muito tempo em Fortaleza. Como foi essa adaptação à badalação do Rio de Janeiro?
Não, isso foi tranquilo, até porque eu já estava acostumado com Fortaleza, uma cidade praiana. Fortaleza é um pouco parecida com o Rio de Janeiro. Quando a minha família chegou, eu procurei me adaptar o mais rápido possível. O Rio é uma cidade boa de morar, o Flamengo é meu clube de coração. A adaptação foi tranquila.
A sua parceria com o Fábio Luciano na zaga ficou inesquecível para muitos flameguistas. Ele foi seu grande companheiro no clube?
Foi sim, a gente fez uma boa parceira. Ele era o nosso capitão, comandava tudo, a gente fez uma boa dupla, sem dúvida. Eu acho que a torcida do Flamengo sente muita saudade da gente até hoje.
E o que falar do gol do título do Campeonato Brasileiro de 2009? Foi o momento mais marcante da sua carreira?
Sem dúvida. O Flamengo estava sem ganhar aquele título fazia 17 anos e você marca o gol naquelas circunstâncias. O jogo estava difícil, a torcida estava ansiosa depois da nossa eliminação da Copa Libertadores do ano anterior (contra o América do México), tinha muita pressão e cobrança. Mas eu tive outros momentos bons no Flamengo, fiz gol em semifinal do Estadual. Mas o mais importante foi esse gol contra o Grêmio.
As pessoas que estão fora do futebol não sabem o que passa pela cabeça de um jogador fazer um gol com o Maracanã lotado. Você pode descrever o sentimento?
No momento, você nem pensa muito no que representa aquilo. Você só percebe a importância depois, a euforia da torcida. Durante a partida, eu continuei tranquilo e, depois do jogo, eu fiquei esperando o ônibus na Gávea para voltar para casa com a maior tranquilidade do mundo, como se nada tivesse acontecido. Posso dizer que demorou a cair a ficha, até porque eu não tinha noção da dimensão, o Flamengo estava muito tempo sem ganhar o título.
No momento de sua saída do Flamengo, o técnico ainda era o Vanderlei Luxemburgo. Como foi a discussão e a decisão de que seu contrato não seria renovado?
Foi conversado junto com o Vanderlei e a presidente Patrícia (Amorim). Eu tinha contrato até o meio do ano (de 2011), renovaram por seis meses e me avisaram que ficaria apenas até o fim da temporada. Foi uma opção do Vanderlei junto com a presidente. Eu respeitei, afinal o combinado não sai caro. Só que eu tenho certeza que se fosse outro treinador, estaria lá até hoje, mas isso aí é passado. Para mim, acabou sendo normal.
Mas no fundo você esperava continuar lá até o fim da carreira, não?
Eu gostaria. Não deu, paciência. As coisas são como Deus escreve. Eu tenho certeza que fiz meu papel e tinha condições de continuar jogando.
Ficou alguma mágoa do Vanderlei em relação a isso?
Não, não, não. Eu gosto dele, é um ótimo treinador. Essas coisas acontecem, mas foi coisa combinada, não acho que ele não gosta de mim. É o resultado de um trabalho normal, tudo foi conversado.
O ambiente do Flamengo também é muito citado, os comentários de atraso de salário e até falta de organização. Isso é real ou há exagero?
É exagero. É normal no futebol atrasar 10 ou 15 dias no pagamento do salário. Eu joguei lá por seis anos, tenho respaldo para falar. Trabalhei e convivi no clube. Eu sei que não é assim como falam.
E sobre o Ronaldinho, você trabalhou um tempinho com ele.
Trabalhei um ano.
Afinal, ele faz bem ao Flamengo?
Em minha opinião, faz sim. Ele é um jogador que decide. É claro que não está passando por uma boa fase agora, a torcida pega no pé, no Flamengo existe pressão mesmo, eles só cobram quem pode dar. Acho que deve ser cobrado, mas seria prejudicial se saísse do Flamengo.
Você tem alguma opinião dos motivos que fazem o Ronaldinho não apresentar o mesmo futebol de antes?
Olha, é normal, não tem como. Ele era bem mais leve antes, mais jovem. Queira ou não queira, você muda. Agora, o Ronaldinho está jogando mais na experiência, procurando o melhor posicionamento. Se a torcida do Flamengo esperar o mesmo futebol da época do Barcelona, pode esquecer. Aquele futebol não vai jogar mais não. Ele ainda é importante, pode fazer a diferença.
A impressão que passa é que às vezes algumas coisas que cercam a vida do Ronaldinho são até camufladas no Flamengo. Isso existe?
Olha, se existe, eu não sei, cara. Mas o jogador tem seu momento, principalmente ele que é solteiro. Depois dos jogos, você pode fazer o que bem entender. É claro que, durante a semana, tem que manter o profissionalismo, mas é um jogador solteiro, então pode fazer o que quiser em alguns momentos.
Para terminar contigo a passagem pelo Flamengo, a presidente Patrícia Amorim também é alvo de questionamentos por algumas ações. Você considera justas essas críticas?
De forma nenhuma. Acho que ela faz um bom trabalho. Só estão cobrando porque o time não se classificou na Libertadores. Se tivesse classificado não falariam nada. Ela procura cumprir com os seus compromissos e pensa em trazer grandes jogadores para reforçar o elenco, além de construir o novo CT (Centro de Treinamento). A torcida precisa ter calma, até porque ser presidente do Flamengo não é fácil.
Você não acha que ela cai no mesmo erro de outros presidentes de tomar atitudes baseadas mais na paixão do que na razão?
Até porque ela é flamenguista desde criança e também só tinha trabalhado em outras áreas, não com futebol. A Patrícia vai adquirir experiência e acredito que, com o decorrer do tempo, vai entender como é o meio do futebol.

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