Sávio diz que se arrepia quando fala do seu Flamengo (Foto: Cassius Leitão / Globoesporte.com) |
O ex-jogador Sávio passa a atacar por outra ponta: a de agente de
atletas. Empresário já é desde os tempos em que defendia o Real Madrid,
quando abriu a Bortolini Patrimonial, concentrada no ramo imobiliário.
No ano passado, abriu um fundo de investimentos próprio. Ainda em 2012,
começou a gerenciar a carreira de jogadores e assumiu a gestão do
Guarani de Palhoça, em Santa Catarina. Mas em outubro de 2013 dará o
passo definitivo com o lançamento da Sávio Soccer. Segundo o Anjo Louro
da Gávea, o diferencial e também principal objetivo da SS é preparar os
jovens para que não passem apertos financeiros na hora de pendurar as
chuteiras.
- É uma coisa muito focada no contexto geral do atleta. Há um
acompanhamento na parte esportiva, mas também tem um apoio familiar e
uma ajuda no aspecto financeiro. O grande problema no Brasil e no mundo é
o pós-carreira. Há um alto número de atletas que praticamente perdem
tudo em pouco tempo depois que param. E essa é uma das grandes
preocupações da empresa - revelou.
Sávio espera repetir o sucesso da época dos gramados na função de empresário (Foto: Fred Gomes) |
Sávio propõe apresentar nova forma de conduzir o agenciamento de
carreiras, afirma discordar de muitos modelos vigentes e tem como grande
propósito "fazer o bem". Na estrevista que segue, o ex-jogador aborda
este tema, fala da paixão que ainda sente pelo Flamengo, e revela ainda
que chegou a receber convite para virar competidor de outro esporte: o
taekwondo.
Você diz que pretende fazer algo diferente? Defina qual seria o diferencial da Sávio Soccer.
Primeiramente diferente é em relação aos atletas. Trabalho voltado não
só para o lado esportivo, mas para o lado global familiar. De ajudar não
só na questão financeira, mas de passar coisas boas na questão
familiar. Também a questão de educação financeira. Quero fazer algo
diferente. Respeito o que fazem, mas não é esse o propósito. Acho que
temos de fazer coisas diferentes em todos os setores, como esporte,
economia e política. É muito fácil falar: "Sávio, você vai se envolver
aí? Você não precisa disso". Mas espera aí, por quê? Por que eu não
posso fazer algo diferente que melhore o nosso esporte e o nosso
futebol? É a mesma coisa na política. Dizem que não tem jeito. Por que
não tem jeito, cara? Se nós cruzarmos os braços realmente não tem jeito.
Sua imagem é limpa e está entrando num meio que é tratado pejorativamente. Não teme que essa atividade possa manchá-lo?
Pensei e repensei essa questão. Vivi intensamente o futebol, parei de
jogar e agora estou vivendo intensamente esse lado empresarial. E estou
adorando. Jamais vou fazer coisas que não são corretas na minha forma de
pensar, nem que para isso eu tenha de perder contatos milionários. Sei
de muita coisa que acontece nesse cenário, que realmente é de muitas
críticas. Muitas coisas que fazem eu sou totalmente contra, nunca vou
seguir a maioria dos modelos que existem. A Sávio Soccer vai ser uma
empresa de investimentos, agenciamento e até de clínicas, com palestras,
mas eu nunca irei além do que posso, até em termos de quantidade. Não
vai ser quantidade, é qualidade. Acho impossível trabalhar com 50, 60
atletas. Não posso dar o mesmo serviço e a mesma atenção para um número
gigantesco de atletas. Já podia estar com uma carteira de 20 ou 30
atletas, mas esse não é o intuito. Eu vou onde posso, a empresa começou
no ano passado e nem fiz o lançamento oficial. Eu digo sempre que você
deve fazer o bem. Eu quero fazer o bem, quero que a empresa cresça, mas
de uma maneira controlada, profissional.
(Nota da redação: Sávio atualmente tem quatro clientes, o mais
velho deles de 20 anos, outros dois inseridos na categoria sub-17 e um
de 14 anos).
O que mais você pretende evitar para não se queimar? Tem algum exemplo positivo de empresários?
Um exemplo muito grande que tenho é o trabalho que o Areias (João
Henrique, ex-vice de marketing do Flamengo) fez comigo. Mais correto
impossível, cuidou de toda a minha carreira. É um cara de índole
extrema, de caráter e correção. Nunca vou passar do que eu mais guardo
que é a questão da índole e do caráter. Durante meu processo de jogador
surgiram inúmeras oportunidades (para se manchar), mas acho que no final
o bem sempre vai prevalecer. Uma hora agora ou não sei daqui a alguns
anos. Não dá mais. Ninguém aguenta mais coisas como essas que
aconteceram na política. Tem que mudar, cara, a política, o futebol e o
esporte. Vou traçar isso na minha vida. Se eu vir que futuramente não é
isso, eu saio. Sempre me preocupei com a minha imagem, mas foi um
processo muito natural com a formação que tive, com a ajuda da minha
esposa e da minha família. Em nenhum momento dessa minha nova etapa vou
querer manchar algo do que fiz na minha vida.
Além do futebol e do ramo imobiliário, você tem seu fundo de investimentos. Essa paixão por economia vem de família?
Fiz cursos de gestão, de finanças e economia. Meus irmãos são
comerciantes, quatro deles têm um mercado em Vila Velha. Meu pai sempre
foi comerciante. Na década de 80, com uns dez, 12 anos, eu ia para o
supermercado do meu pai. Acompanhava-o no escritório em reuniões de
compras de mercadorias e aprendia um pouquinho. Ia marcar preço, ia no
depósito selar pacotes de arroz. Realmente foi um gosto por lado de
economia e finanças. Participei de uma palestra sensacional da Miriam
Leitão (colunista de O Globo) e comprei um livro dela: "Saga
Brasileira". Fala das moedas, da crise da década de 80. Comecei a ler e
via meu pai naquele livro. Era um sofrimento com inflação de 800%, 900%
em 1988. Você pegava a lata de óleo de manhã, remarcava o preço à tarde e
fechava à noite com outro preço. Até foi bom para o comerciante, mas
para o consumidor era um absurdo. Ninguém conseguia comprar uma cesta
básica. Como meu pai era muito correto, ele sofria muito.
Três empresas para controlar e três filhos para cuidar. Sobra tempo ainda para torcer pelo Flamengo?
Claro. O Flamengo eu sempre curti. Sou torcedor. Me dei um ano sabático
em 2011, quando parei, e me dediquei às minhas empresas. Tenho que ver
os jogos, acompanhar o noticiário e, claro, ver o Flamengo. Meus filhos
são flamenguistas. O Breno, o mais velho, é Real Madrid e Flamengo. Tem
16 anos. O do meio é menos ligado em futebol, o Hugo, de 13 anos. O de
11 é doente, o Lucas. Tem dois times também. Ele é torcedor do
Villarreal e é flamenguista doente. Engraçado que virou Villarreal
quando eu jogava no Zaragoza, o amarelo da camisa que chamou atenção
dele.
E algum desses três tem jeito com a bola?
O mais velho (Breno) esse ano deu uma parada não sei por quê. É
canhoto. Foi considerado um dos melhores jogadores do campeonato
(Catarinense sub-17). Não tem o meu estilo de velocidade, mas é muito
técnico e muito habilidoso. Bate muito bem na bola, mas esse ano ficou
mais preocupado com a escola. Eu não cobro, mas é uma pena. Alguns
amigos meus falam muito dele. Ele é diferenciado na parte técnica. Num
jogo em Camboriú, o Triunfo (time de Breno) ganhou de 1 a 0. Ele fez um
golaço e aí tinha uns dirigentes do Inter. Um amigo meu me apresentou. O
dirigente do Inter perguntou: "Sávio, o que você veio fazer aqui?".
Respondi: "Meu filho joga no Triunfo, é o 10". E ele: "Caraca, Sávio,
seu filho é o 10? Tá anotado (o telefone de Sávio)". O cara do Inter me
ligou e a primeira pergunta foi: "O que a gente faz para levar o Breno
para Porto Alegre?" Teve interesse do Atlético-PR também. Mas não vou
forçar nunca. Meu pai foi o cara que mais me incentivou e nunca botou
pressão quando o Flamengo me chamou com 14 anos. Meu pai disse: "Se você
for vai ser lindo, maravilhoso. Se você ficar vai ser a mesma coisa. A
gente vai te apoiar". Quando ele falou isso, disse: "Pai, quero ir". De
repente se ele me pressionasse talvez eu tivesse me assustado. Poderia
nem ir para o Flamengo. Ainda bem que ele me deixou à vontade.
É verdade que você virou lutador de taekwondo?
Fiz taekwondo durante dois anos e parei. Se é hoje ia me ajudar muito,
só que eu ia ser expulso para caramba (risos). Eu estava tão bem que meu
mestre queria que eu competisse. Disse a ele: "Você está louco? Já
competi por 20 anos". (Taekwondo) É 70% perna e isso me ajudou muito.
Cheguei a uma faixa boa, acho que parei na laranja.
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