domingo, 29 de setembro de 2013

Sávio vira agente e propõe uma nova postura no ramo: 'Quero fazer o bem'



Por Rio de Janeiro


savio especial (Foto: Cassius Leitão / Globoesporte.com)
Sávio diz que se arrepia quando fala do seu Flamengo (Foto: Cassius Leitão / Globoesporte.com)
O ex-jogador Sávio passa a atacar por outra ponta: a de agente de atletas. Empresário já é desde os tempos em que defendia o Real Madrid, quando abriu a Bortolini Patrimonial, concentrada no ramo imobiliário. No ano passado, abriu um fundo de investimentos próprio. Ainda em 2012, começou a gerenciar a carreira de jogadores e assumiu a gestão do Guarani de Palhoça, em Santa Catarina. Mas em outubro de 2013 dará o passo definitivo com o lançamento da Sávio Soccer. Segundo o Anjo Louro da Gávea, o diferencial e também principal objetivo da SS é preparar os jovens para que não passem apertos financeiros na hora de pendurar as chuteiras.

- É uma coisa muito focada no contexto geral do atleta. Há um acompanhamento na parte esportiva, mas também tem um apoio familiar e uma ajuda no aspecto financeiro. O grande problema no Brasil e no mundo é o pós-carreira. Há um alto número de atletas que praticamente perdem tudo em pouco tempo depois que param. E essa é uma das grandes preocupações da empresa - revelou.
Savio  (Foto: Fred Gomes)
Sávio espera repetir o sucesso da época dos gramados na função de empresário (Foto: Fred Gomes)
Sávio propõe apresentar nova forma de conduzir o agenciamento de carreiras, afirma discordar de muitos modelos vigentes e tem como grande propósito "fazer o bem". Na estrevista que segue, o ex-jogador aborda este tema, fala da paixão que ainda sente pelo Flamengo, e revela ainda que chegou a receber convite para virar competidor de outro esporte: o taekwondo.
Você diz que pretende fazer algo diferente? Defina qual seria o diferencial da Sávio Soccer.
Primeiramente diferente é em relação aos atletas. Trabalho voltado não só para o lado esportivo, mas para o lado global familiar. De ajudar não só na questão financeira, mas de passar coisas boas na questão familiar. Também a questão de educação financeira. Quero fazer algo diferente. Respeito o que fazem, mas não é esse o propósito. Acho que temos de fazer coisas diferentes em todos os setores, como esporte, economia e política. É muito fácil falar: "Sávio, você vai se envolver aí? Você não precisa disso". Mas espera aí, por quê? Por que eu não posso fazer algo diferente que melhore o nosso esporte e o nosso futebol? É a mesma coisa na política. Dizem que não tem jeito. Por que não tem jeito, cara? Se nós cruzarmos os braços realmente não tem jeito.

Sua imagem é limpa e está entrando num meio que é tratado pejorativamente. Não teme que essa atividade possa manchá-lo?
Pensei e repensei essa questão. Vivi intensamente o futebol, parei de jogar e agora estou vivendo intensamente esse lado empresarial. E estou adorando. Jamais vou fazer coisas que não são corretas na minha forma de pensar, nem que para isso eu tenha de perder contatos milionários. Sei de muita coisa que acontece nesse cenário, que realmente é de muitas críticas. Muitas coisas que fazem eu sou totalmente contra, nunca vou seguir a maioria dos modelos que existem. A Sávio Soccer vai ser uma empresa de investimentos, agenciamento e até de clínicas, com palestras, mas eu nunca irei além do que posso, até em termos de quantidade. Não vai ser quantidade, é qualidade. Acho impossível trabalhar com 50, 60 atletas. Não posso dar o mesmo serviço e a mesma atenção para um número gigantesco de atletas. Já podia estar com uma carteira de 20 ou 30 atletas, mas esse não é o intuito. Eu vou onde posso, a empresa começou no ano passado e nem fiz o lançamento oficial. Eu digo sempre que você deve fazer o bem. Eu quero fazer o bem, quero que a empresa cresça, mas de uma maneira controlada, profissional. 
(Nota da redação: Sávio atualmente tem quatro clientes, o mais velho deles de 20 anos, outros dois inseridos na categoria sub-17 e um de 14 anos).
O que mais você pretende evitar para não se queimar? Tem algum exemplo positivo de empresários?
Um exemplo muito grande que tenho é o trabalho que o Areias (João Henrique, ex-vice de marketing do Flamengo) fez comigo. Mais correto impossível, cuidou de toda a minha carreira. É um cara de índole extrema, de caráter e correção. Nunca vou passar do que eu mais guardo que é a questão da índole e do caráter. Durante meu processo de jogador surgiram inúmeras oportunidades (para se manchar), mas acho que no final o bem sempre vai prevalecer. Uma hora agora ou não sei daqui a alguns anos. Não dá mais. Ninguém aguenta mais coisas como essas que aconteceram na política. Tem que mudar, cara, a política, o futebol e o esporte. Vou traçar isso na minha vida. Se eu vir que futuramente não é isso, eu saio. Sempre me preocupei com a minha imagem, mas foi um processo muito natural com a formação que tive, com a ajuda da minha esposa e da minha família. Em nenhum momento dessa minha nova etapa vou querer manchar algo do que fiz na minha vida.

Além do futebol e do ramo imobiliário, você tem seu fundo de investimentos. Essa paixão por economia vem de família?
Fiz cursos de gestão, de finanças e economia. Meus irmãos são comerciantes, quatro deles têm um mercado em Vila Velha. Meu pai sempre foi comerciante. Na década de 80, com uns dez, 12 anos, eu ia para o supermercado do meu pai. Acompanhava-o no escritório em reuniões de compras de mercadorias e aprendia um pouquinho. Ia marcar preço, ia no depósito selar pacotes de arroz. Realmente foi um gosto por lado de economia e finanças. Participei de uma palestra sensacional da Miriam Leitão (colunista de O Globo) e comprei um livro dela: "Saga Brasileira". Fala das moedas, da crise da década de 80. Comecei a ler e via meu pai naquele livro. Era um sofrimento com inflação de 800%, 900% em 1988. Você pegava a lata de óleo de manhã, remarcava o preço à tarde e fechava à noite com outro preço. Até foi bom para o comerciante, mas para o consumidor era um absurdo. Ninguém conseguia comprar uma cesta básica. Como meu pai era muito correto, ele sofria muito.
Flamenguista, Sávio se mostrou inquieto com a saída de Mano Menezes - ocorrida um dia antes da entrevista - e perguntou antes, durante e depois da entrevista se o time já tinha um novo técnico
Três empresas para controlar e três filhos para cuidar. Sobra tempo ainda para torcer pelo Flamengo?
Claro. O Flamengo eu sempre curti. Sou torcedor. Me dei um ano sabático em 2011, quando parei, e me dediquei às minhas empresas. Tenho que ver os jogos, acompanhar o noticiário e, claro, ver o Flamengo. Meus filhos são flamenguistas. O Breno, o mais velho, é Real Madrid e Flamengo. Tem 16 anos. O do meio é menos ligado em futebol, o Hugo, de 13 anos. O de 11 é doente, o Lucas. Tem dois times também. Ele é torcedor do Villarreal e é flamenguista doente. Engraçado que virou Villarreal quando eu jogava no Zaragoza, o amarelo da camisa que chamou atenção dele.
E algum desses três tem jeito com a bola?

O mais velho (Breno) esse ano deu uma parada não sei por quê. É canhoto. Foi considerado um dos melhores jogadores do campeonato (Catarinense sub-17). Não tem o meu estilo de velocidade, mas é muito técnico e muito habilidoso. Bate muito bem na bola, mas esse ano ficou mais preocupado com a escola. Eu não cobro, mas é uma pena. Alguns amigos meus falam muito dele. Ele é diferenciado na parte técnica. Num jogo em Camboriú, o Triunfo (time de Breno) ganhou de 1 a 0. Ele fez um golaço e aí tinha uns dirigentes do Inter. Um amigo meu me apresentou. O dirigente do Inter perguntou: "Sávio, o que você veio fazer aqui?". Respondi: "Meu filho joga no Triunfo, é o 10". E ele: "Caraca, Sávio, seu filho é o 10? Tá anotado (o telefone de Sávio)". O cara do Inter me ligou e a primeira pergunta foi: "O que a gente faz para levar o Breno para Porto Alegre?" Teve interesse do Atlético-PR também. Mas não vou forçar nunca. Meu pai foi o cara que mais me incentivou e nunca botou pressão quando o Flamengo me chamou com 14 anos. Meu pai disse: "Se você for vai ser lindo, maravilhoso. Se você ficar vai ser a mesma coisa. A gente vai te apoiar". Quando ele falou isso, disse: "Pai, quero ir". De repente se ele me pressionasse talvez eu tivesse me assustado. Poderia nem ir para o Flamengo. Ainda bem que ele me deixou à vontade.
É verdade que você virou lutador de taekwondo?
Fiz taekwondo durante dois anos e parei. Se é hoje ia me ajudar muito, só que eu ia ser expulso para caramba (risos). Eu estava tão bem que meu mestre queria que eu competisse. Disse a ele: "Você está louco? Já competi por 20 anos". (Taekwondo) É 70% perna e isso me ajudou muito. Cheguei a uma faixa boa, acho que parei na laranja.

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