Um caso que parecia solucionado e caminhava para se tornar parte do
passado voltou à tona no Flamengo por conta de uma nota oficial
divulgada pelo próprio clube: a proibição da entrada do ex-atacante
Nunes no Ninho do Urubu. Em texto publicado no site oficial, o
Rubro-Negro revela que o episódio aconteceu em janeiro em cumprimento a
regras “para manter a ordem e preceitos estabelecidos quando a nova
gestão assumiu”. Há menos de um mês, porém, o próprio vice de futebol,
Wallim Vasconcellos, encontrou brechas na cartilha que rege o centro de
treinamento.
De acordo com o clube, “apenas pessoas ligadas ao Departamento de
Futebol podem entrar nas dependências”. Visitantes precisarão passar
pelo crivo da diretoria diante da importância de “conceder privacidade
aos atletas, a fim de que possam se concentrar apenas em treinar e se
preparar para as partidas”. Em 17 de agosto, um dia antes do confronto
com o São Paulo, em Brasília, porém, Wallim esteve no CT e levou dois de
seus filhos para acompanhar o treinamento. Na tarde seguinte, o
Rubro-Negro empatou por 0 a 0 no Mané Garrincha.
Acesso é restrito no Ninho do Urubu em dias e horários de treino (Foto: Janir Junior)
Em contato com o GLOBOESPORTE.COM, o clube contemporizou dizendo que
tratavam-se de crianças e de uma atividade no sábado. Entretanto, é
exatamente nas vésperas de jogos que Mano Menezes fecha as atividades
por um período mais longo, sob a justificativa da necessidade de
privacidade. A medida, por sinal, não é novidade. Em 2012, o volante
Ibson levou sua esposa e filhos para acompanhar um treinamento,
justamente em um sábado, e teve a entrada dos familiares vetada.
Foi o próprio Wallim, em entrevista à Rádio Globo na última quinta-feira, quem deu sua justificativa para o veto a Nunes:
- Todo mundo (pode ser barrado). O Bebeto apareceu para ver o Mattheus e
eu disse que não podia. É uma determinação geral. Não é o Zico ou o
Nunes, é qualquer pessoa. Os vice-presidentes, se quiserem ir lá, me
ligam. Eu digo que, de preferência, na hora do treino não dá porque
perturba o trabalho da comissão e dos jogadores. Pessoas que não
trabalham lá não são permitidas porque é um lugar de trabalho e não de
lazer, como é a Gávea. O Nunes não foi barrado. Qualquer pessoa que
queira entrar e não tenha atividade para fazer ou trabalho não será
permitido. Essa determinação partiu da diretoria.
Entrada começou a ser restrita em 2010
O texto na página rubro-negra na internet diz ainda que “antes, todos
entravam no CT, empresários, vendedores, assessores, amigos e outros.
Não havia controle, nem em véspera de jogos, trazendo um ambiente que
atrapalhava a preparação dos jogadores num momento tão importante”. A
mudança de postura, por sua vez, começou ainda em 2010, com Vanderlei
Luxemburgo.
Assim que assumiu a equipe, o treinador proibiu a entrada de assessores
particulares de atletas – o que era comum. Em um primeiro momento, a
intenção era limitar também o acesso de amigos, mas a presença de
Ronaldinho Gaúcho acabou sendo determinante para flexibilizar a medida.
Em casos específicos, como semanas mais decisivas, porém, a peneira era
rígida. Antes, a brecha era maior com Adriano, que chegava a ir
trabalhar em dois carros repletos de amigos.
No cenário atual, ainda há quem não seja empregado do clube e tenha
livre acesso ao CT. Um funcionário da Adidas, por exemplo, que cuida do
patrocínio individual de jogadores, é figura com livre entrada no local,
em panorama que mudou a partir do acerto com a empresa alemã com o Fla.
Pais de jovens da base ficam na portaria
Nesta terça-feira, outro episódio demonstrou menor rigor: uma família
foi vista nas dependências do Ninho logo após a entrada da imprensa para
acompanhar o treinamento, circulando próximo aos ônibus do clube e
tirando fotos - bem distante da portaria. Ao ser questionada sobre o
fato, a assessoria de imprensa buscou informação com o diretor
executivo, Paulo Pelaipe, que pediu a um segurança para solicitar a
saída deles do local.
De acordo com o Flamengo, tratava-se de familiares de um jogador
aprovado para a base, que foram levar documentos. Normalmente, porém,
mesmo para pais de jovens promessas o acesso é proibido, e é comum que
os mesmos aguardem na entrada do CT as atividades envolvendo seus filhos
na parte de dentro.
Como funciona
A avaliação de quem pode ou não entrar no Ninho do Urubu acontece pouco
após a entrada no centro de treinamento. Como a portaria ainda está em
obras, seguranças ficam localizados em tendas e checam os carros. Não há
qualquer tipo de cancela. A medida inclui familiares de jovens da base,
que, normalmente, se aglomeram no local à espera do fim das atividades,
e a imprensa. O acesso para os jornalistas acontece 30 minutos após o
horário marcado para o treinamento. Assim que chegam ao CT, os
profissionais informam para qual empresa trabalham e aguardam a
liberação, que chega através da assessoria de imprensa por telefone.
Os jogadores, que têm seus carros já conhecidos pelos seguranças em sua
maioria, passam direto pelo local. Com o conhecimento do veto a
familiares e amigos, os atletas costumam ir sozinhos ao CT. Apenas em
dias de treinos seguidos de viagens alguns comparecem acompanhados, para
que fiquem no local e o companheiro leve o carro de volta para casa.
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