Por GLOBOESPORTE.COM
Rio de Janeiro
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O Imperador falou sobre a recuperação da cirurgia no tendão de Aquiles (Foto: TV Globo) |
Adriano cita a praia para justificar por que não consegue largar o Rio
de Janeiro. Na frase seguinte, porém, afirma que odeia a combinação de
areia e mar. Pouco depois, o atacante garante que foi campeão brasileiro
pelo Flamengo em 2009 pesando 107kg. Na época, porém, o Imperador bateu
no peito para dizer que estava abaixo dos 100kg.
Entre declarações que se desmentem e desabafos contra o que considera
uma perseguição, o atacante deu uma longa entrevista exibida pelo
Fantástico no último domingo. Mas nem tudo foi ao ar (veja acima parte
da entrevista concedida ao programa) .
Na parte que não foi exibida, o polêmico atacante contou sobre as duas
únicas conversas que teve com Tite durante a passagem no Corinthians,
assegurou que voltou aos campos antes da hora após a primeira cirurgia
no tendão de Aquiles e defendeu o estilo de vida baladeiro (“O que
adianta ter dinheiro para caramba e não fazer nada?). A explicação para
as visitas constantes à favela da Vila Cruzeiro, onde nasceu, é curiosa.
- Lá eu me sinto ser humano. Se eu ficar descalço nas ruas da Barra, vão dizer que sou doidão, bêbado.
Confira trechos inéditos do bate-papo dele com a repórter Graziela Azevedo:
Primeiros dias pós-cirurgia no tendão de Aquiles
Não dói, só coça muito. Tem que arrumar uma varinha para coçar no
calor. Fiz essa segunda cirurgia porque meu tendão estava alongado e não
sustentava meu peso. Os médicos abriram um pouco mais, puxaram e
cortaram o que estava alongado e remendaram. Foi um reparo para que eu
volte a ter a mesma sensação de antes da primeira cirurgia.
Erro médico na primeira cirurgia?
Não teve problema na cirurgia. Realmente tive participação por isso ter
acontecido de novo. Não tomei os cuidados certos para que pudesse ficar
bem. Tenho consciência disso. Pensava que podia pisar no chão e isso me
atrapalhou. Nunca mais faço isso na vida.
Passo a passo até a volta aos campos
Um mês para tirar a bota e os pontos, e depois começo o fortalecimento
do tendão, da panturrilha, que deu uma murchada. Tendão estava alongado e
não pegava a força certa para sustentar meu peso. Difícil falar. Quatro
meses, cinco meses. Depende muito desse início da recuperação. Mas em
quatro meses e meio quero estar em campo.
Futuro no Flamengo
Espero que sim. A estrada está indo pelo Flamengo. Temos uma relação
muito boa, conversamos, e quando me recuperar, treinarei lá para ver.
Meu pensamento é ficar e não quero sair mais. Quando o Corinthians me
despediu, o Flamengo veio na semana seguinte conversar comigo. Eles
estão me querendo. Quiseram ver como eu estava, se queria voltar a
jogar. Falei que o Flamengo é minha casa e sempre vai ser. Quero dar a
volta por cima de novo.
Corinthians
Não tenho mágoas dos jogadores, pelo contrário. Desde a faxineira aos
jogadores sempre tratei com respeito e carinho. Minha mãe deu educação e
tento levar para sempre. Mas a diretoria me chateou. Não deveria ter
acontecido dessa forma.
Estava treinando normal. Fiquei uma semana lá e o Edu (Edu Gaspar,
gerente de futebol do Timão) veio conversar comigo. Fui à casa dele. Ele
me fez uma proposta e disse que, se eu aceitasse, seria excelente. Eles
queriam que eu ficasse concentrado. Falei: ótimo, mas Edu, meu problema
não é físico. Eu não consigo aguentar meu peso. Ele ficou nervoso e eu
repeti que não estava conseguindo levantar meu peso.
Confinamento no hotel
Horrível, porque treinava três períodos e ficava lá sozinho. É ruim. Em
certo ponto eu estava me sentindo humilhado. Se tivesse mais gente,
mais jogador, seria melhor. Mas era só eu. Não foi muito bom.
Peso atual
Agora não tenho como falar (o peso). Não tem como. Depois que parei
nunca mais (me pesei). Às vezes fico pensando: sabe quanto eu pesava na
época do Flamengo? 107 kg. E fui campeão brasileiro, artilheiro e corria
que nem maluco. Ficam falando: está pesado, está gordo... isso não
existe! Quantos jogadores não são mais pesados do que deveriam e jogam
para caramba? Mas não falam deles, falam de mim. Não vou falar nomes,
não vou fazer isso, mas tem vários acima do peso com 30 anos.
Por que não fez a recuperação adequada?
Foi difícil porque tinha acabado de sair de uma operação (no ombro
direito, quando estava no Roma) e passei por outra. Quando melhorei do
ombro, me abati muito com o rompimento do tendão. Quando eu vinha pro
Rio e via meus amigos e minha mãe, eu não queria voltar (para São
Paulo). Isso me atrapalhou.
Adoração pelo Rio
Sou do Rio, cidade de praia. Sou acostumado com praia, mas não gosto de
praia. Odeio praia. Não tenho paciência. Gosto de ficar em casa, sair e
trazer meus amigos para a piscina de casa.
Relação com o Tite
Foi difícil com o Tite. Ele é excelente treinador, mas faltou algo que o
Muricy tinha: comunicação. O Tite deveria ter mais iniciativa de
conversar comigo. Só conversou duas vezes. Ele mandava o pessoal dele
vir falar comigo. Isso ele tinha que melhorar um pouquinho.
As conversas
A primeira conversa ele disse que precisava de mim, mas eu avisei que
não tinha condições de jogar uma partida. Mas eu fui. Comecei a jogar
antes da hora. Eu mancava muito mais. Mas fui porque o time estava
precisando e queria dar minha ajuda. E entrei. A segunda vez foi porque
eu estava chateado. Ele me colocava pouco tempo, dez minutos. Mancando e
faltando dez minutos vou fazer o quê? Nada. Pedi mais oportunidade e
ele disse que o preparador físico falou que eu não tinha condição de
jogar mais de dez minutos. Eu retruquei que, se fosse assim, era melhor
não me convocar mais para os jogos. Ele compreendeu e continuou me
deixando no banco e me dava um pouquinho mais de tempo.
Por que se recusou a subir na balança?
O Corinthians me mandou embora depois que não me pesei: tinha feito
percentual de gordura na quarta e estava com 12% de gordura e pesando
101kg. Na quinta, eu me pesei de novo. Na sexta, não sei o que houve e
tinha que pesar de novo. Falei: calma aí, subi na balança dois dias
seguidos e por que só eu na sexta-feira? Vocês estão inventando alguma
coisa para mim, isso não é normal. E não pesei. Todo mundo (do elenco)
viu que eu não estava errado. Sabe o que o Tite fez? Não me colocou para
jogar. Foi uma queda-de-braço, mas não tinha necessidade.
O motivo da saída
Não sei até hoje. Por que não pesei? Pediram a justa causa um mês
depois de terem me mandado embora. Por que não fizeram na hora? Não foi
muito correto da parte deles. Mas não guardo mágoa de ninguém.
Rotina de fisioterapia
Se eu quero voltar à Seleção e dar alegrias para os meus torcedores,
tenho que passar pela chatice da fisioterapia, e isso estou disposto a
fazer. Vou fazer de tudo esse ano para que eu possa apagar o momento que
passei atrás. A única forma é trabalhar, não tenho outra explicação.
A perda do pai Almir
Lembro muita coisa do meu pai até hoje. Ele sempre foi meu amigão,
desde quando eu nasci ele nunca se afastou de mim. Carrego a educação
que ele me deu de nunca pisar em ninguém. Desde o mendigo à classe média
alta. Todo mundo hoje quando me vê, vê meu pai. Isso me dá orgulho.
A depressão pós-perda
Há três, quatro anos sentia muita falta dele. Não quero mais depressão. Nem quando fiquei enclausurado no hotel.
Problemas com o álcool
Até hoje eu não posso ir a uma churrascaria que colocam bebida no meio.
Saí para almoçar com meu empresário e depois fui ao doutor Runco. Bebi
água e suco. Eu não bebi chope como publicaram. Depois a gente conseguiu
a notinha. São coisas que as pessoas inventam e não dá para entender.
Eu falei publicamente que tive problema com a bebida e todo mundo leva
isso até hoje. Dizem que bebo cerveja na xícara de café.
Excessos com as bebidas alcoólicas
Sempre tive controle. Por ter passado aquele momento ruim, dizem que
vivo bêbado, jogado. Mas não é bem assim. Perde alguém da sua família
para ver como é ruim... então é normal.
O sofrimento da mãe Rosilda
Tudo que acontece comigo vira uma bola de neve muito grande e minha mãe
fica triste, perdida. Para uma mãe é muito difícil. Perseguição muito
grande. Estou no meu limite e vou começar a processar. Às vezes quero
sair para jantar.. qual jogador que não vai a um show no Barra Music?
Vou pedir dez por cento do que colocam no jornal e vou sair rico.
Problemas na vizinhança
Não deu problema nenhum. Ela vinha aqui em casa fazer churrasco. Ela só
pediu para diminuir o som. Aí diminuí e acabou. Aí inventaram um monte
de coisa.Tenho necessidade de roubar o som de alguém? Você acha isso?
Não tem cabimento. A relação sempre foi muito tranquila. Primeira vez
que ela reclamou.
O adjetivo de “incontrolável” que Juvenal Juvêncio o classificou no São Paulo
Era tão incontrolável que quase dei um título para eles, né? Engraçado
isso. Depois que saí, que eu não quis ficar e fui embora é fácil falar.
Sou incontrolável quando pisam no meu calo. Não penso duas vezes, e
entra o outro Adriano. Esse é nervoso, mas para me tirar do sério
precisa muita coisa.
Relação altos salários x cobrança dos torcedores
A gente ganha muito porque fez muita coisa no passado para ganhar. O
jogador não tem culpa, se compromete a treinar. Quando entro em campo,
penso nos torcedores, não só em mim. O que adianta ter dinheiro para
caramba e não fazer nada? Que felicidade você vai ter? Eles têm que
entender que sábado e domingo eles estão em casa e estamos na
concentração. E quem é casado e tem filho? Viajamos a semana toda. A
gente ganha bem porque abre mão da nossa vida.
Sacrifícios de jogador
Fiz todos os sacrifícios. Todos os dias quando estou em campo. É um
leão a cada dia. As pessoas estão mais interessadas em saber da vida
privada do que dentro de campo. Isso é errado. Estava na minha casa em
Búzios e tiraram foto da minha ex-namorada. Não tenho privacidade dentro
da minha casa. Os jornalistas estão mais interessados em saber da vida
privada. Tem que criticar o cara dentro de campo, entendeu?
Futuro
Quero fazer o que sempre fiz: gol. E vou fazer. Pode ter certeza disso.
Mas não é promessa. Promessa eu só faço para minha mãe e para minha
família.
Relação com a Vila Cruzeiro
Quando tinha bandido lá dentro, me chamavam de traficante. Agora que
tem UPP não falam mais nada, né? Estranho. Eu conhecia vários que
entraram na vida (do crime) e não tinha problema em visitar a favela
antes, mas hoje dá mais tranquilidade. Se eu tivesse envolvimento com
alguma coisa, já teriam descoberto. Vou lá porque gosto de me sentir
humano. Aqui na Barra não posso andar descalço porque vão falar que
estou doidão, mendigo. Lá me sinto humano de verdade. Não tem
perseguição nenhuma. Por isso vou lá. Quando me sinto preso, vou para o
churrasco da laje e acabou. Tomo banho de mangueira contra o calor. Essa
é a pura verdade que faço até hoje. Também tenho que viver. Tenho 30
anos, e no começo eu era muito mais rebelde. Tive sucesso muito rápido e
era mais descontrolado. Hoje sou tranquilo.
Recado aos torcedores do Flamengo
Quem fala não cumpre. Quero voltar ao Flamengo e à Seleção. Eu me
conheço, e com certeza vou fazer. Sei muito bem da minha capacidade e
vocês também sabem disso.