EXCLUSIVO: Trinta anos depois de ter feito história
no Maracanã, ao marcar um gol com passe de Maradona, o ídolo do CSA
conversou com a Goal Brasil
Zico estava de volta ao Flamengo, após
dois anos no futebol italiano com a Udinese. A celebração rubro-negra
seria em grande estilo, com um amistoso entre o clube carioca e um time
composto por craques, todos amigos do Galinho. Entretanto, como acontece
em toda festa, apareceu um ‘penetra’. E ele conquistou todos e entrou
para a história do Maracanã ao deixar o banco de reservas substituindo
Paulo Roberto Falcão e marcando, com assistência de Maradona, o único
gol dos ‘Amigos’ na derrota por 3 a 1 para o Fla.
Um craque de nível mundial, com certeza
titular em algum dos 12 grandes clubes brasileiros ou do futebol
europeu, você, que não conhece a história, deve estar pensando. Mas
tratava-se de Jacozinho, ponta do CSA de Alagoas, que à época era um dos
grandes protagonistas das carismáticas reportagens de Márcio Canuto.
Folclórico, porém com sua dose segura de habilidade, o ídolo do Azulão
ganhou o Brasil com o seu estilo e o insistente sonho de defender a
Seleção Brasileira.
Em bate-papo exclusivo com a Goal Brasil,
Jacozinho contou como foi parar no banco de reservas do técnico Telê
Santana naquele amistoso realizado há 30 anos; exalta Zico, fala sobre
um convite que recusou de Maradona; cantou música, relembrou de quando
entrou em campo montado em um jegue e dos tempos em que ‘voadora’ era
permitida no futebol. Jacozinho não titubeou para comparar o futebol por
ele jogado com o de Neymar e cravou: se jogasse atualmente, teria vaga
no Barcelona e na “Seleção do Mundo”. Confira a conversa com o
ex-jogador, que também falou sério na hora de lembrar as dificuldades
passadas em sua vida.
Goal Brasil: Dias antes do
amistoso, você contagiou a torcida do Vasco comentando uma partida do
clube no Maracanã. Como foi que isso aconteceu?
Jacozinho: “Eu cheguei no Rio, e aí o
empresário me levou para um hotel na Cinelândia... e eu que ia pagar
tudo, né? Aí deixamos nossas bagagens lá e fomos para o Maracanã.
Chegando lá, o empresário me levou para a cabine da Globo, com o nosso
amigo e irmão Washington Rodrigues, o Apolinho, José Carlos Araújo...
aquele pessoal todo que estendeu a mão para mim naquele momento. E,
quando eu estava lá comentando aquele Vasco contra Bangu, a torcida do
Vasco veio toda para baixo da cabine e começou a gritar: ‘Jacozinho!
Jacozinho! Jacozinho!’. O José Carlos Araújo disse que eu tinha muita
moral Brasil afora. Foi aí que começou a caminhada para eu participar do
jogo do Zico”.
Jacozinho tentou, mas não conseguiu defender oficialmente a Seleção. Mas ele garante: teria vaga na "Seleção do Mundo" (Foto: Reprodução/Placar) |
Mas quando você chegou no Rio o pensamento já era participar do jogo do Zico. Como você acabou entrando em campo?
“Olha, aquele jogo foi muito em cima da
hora. Eu ia jogar contra o Atlético-MG (pelo CSA) e, quando eu cheguei
lá, tive a visita desse empresário que até hoje eu não sei quem é. E aí,
o que aconteceu: ele perguntou se eu queria participar deste jogo. Aí
eu falei que queria sim, quem não ia querer? Ele disse que eu ia ter que
ver a passagem e hospedagem... e eu falei: ‘aí, pegou’. Um diretor que
estava do meu lado disse que passaria um vale para mim, porque seria o
jogo da minha vida. E eu fui. Foi assim que eu cheguei lá no Maracanã”.
Além do gol, qual é a sua principal lembrança daquele dia?
“Aonde ficava o banco, era alto para
mim. Então eu tinha que ficar em cima de uma bola, para ficar olhando
gente ali na grama. E aí todo mundo foi entrando no jogo e minha
ansiedade foi crescendo, eu fiquei muito nervoso. Tremia muito. Aí ficou
eu e um zagueiro que estava indo para o Vasco, lá do Uruguai,
Paraguai... um negócio desses. A torcida começou a gritar o meu nome, e
quando eu percebi era o Maracanã inteiro gritando. Chegava a balançar o
estádio. E aí, meu amigo, eu comecei a tremer, tremer... o Telê
(Santana) virou e disse: ‘O que está acontecendo? Você está tremendo!’, e
eu só respondi: ‘nada, professor, eu tô é aquecendo!’
Aí ele disse: ‘já que você não está com
medo, vai entrar no lugar do Falcão’. ‘No lugar de quem, professor?’,
perguntei. E aí eu fui, já pensando o que eu estava fazendo naquele
lugar. Só tinha fera, jogador de fora, tudo consagrado. Quase que eu
volto em cima de uma bucha, de tão nervoso que eu estava.
O que você pensou logo após fazer um gol com passe do Maradona? Ele chegou a falar alguma coisa para você?
“O Maradona meteu a bola entre os
zagueiros, eu entrei em diagonal e fiz o golaço. O gol do jogo, né? Um
golaço! E esse gol deu até música, viu? Um pagodezinho que fala assim:
‘Maradona lançou, Jacozinho partiu; Figueiredo ficou, Caaaaaantarelli
caiu!; E a torcida gritou é goool de Jacozinho! É gol, é gol... É GOL! É
gol, é gol, de Jacozinho; É gol, é gol... É GOL! Foi assim que a
torcida gritou’.
Depois do gol foi Maradona, Júnior,
Nunes, Paulo, Zico, Alemão... a rapaziada toda correu lá no pau da
bandeira. E eu me lembro bem que o Maradona ficava gritando “GOL, GOL,
GOL, GOL”. Era só aquilo que eu entendia ele falar, né? Depois, no
vestiário, ele me convidou para uma boate para comemorar. Mas eu não
fui; acabei indo para um coquetel lá na festa do Zico".
Maradona e Zico desejam ser presidentes da Fifa. Se você pudesse votar, escolheria qual deles?
“Duzentos milhões de vezes, o Zico. O
Zico é o cara certo. Naquela época da festa do Zico, eu não tive muita
aproximação com ele, até porque foi muito conturbado aquele negócio. Mas
há vinte dias atrás eu estive no Rio, falei com ele no CT. O Zico é uma
pessoa formidável, fora de série. Já era meu ídolo, agora passou a ser
muito mais. Eu conversei com ele, e agora em janeiro vamos ter uma festa
de nível mundial, porque vai ser o reencontro dos ídolos, dos monstros
do futebol: Jacozinho e Zico, lá em Maceió. E ele falou comigo que eu
poderia divulgar, porque da parte dele já estava fechado”.
Evaristo de Macedo, técnico do
Brasil na época, disse que você precisava ter jogado por um clube de
maior expressão para ter ido para a Seleção. Chegou a negociar com algum
clube destes?
“No período do auge, logo após aquela
festa do Zico, eu estive cogitado em quase todos os clubes do Brasil.
Inclusive o Botafogo. O Agnaldo Timóteo (cantor, conhecido botafoguense)
mandou recado dizendo que ia fazer vários shows para arrecadar fundos,
porque ele queria Jacozinho no Botafogo, porque tinha uma semelhança com
Mané Garrincha. E ele queria que Jacozinho fosse pra lá. E eu passava
todas as noites ouvindo o rádio, esperando que um clube me contratasse.
Mas não aconteceu, e aí eu fui vendido para o Santa Cruz”.
Você já entrou em campo montado em um jegue. Como foi essa história?
“Foi no Rio Grande do Norte. Um repórter
me perguntou se eu toparia entrar no clássico de jegue. Eu perguntei
como iam fazer aquilo, e ele tomou conta das coisas. E aí eu falei:
‘rapaz, tem que ser um jegue grande’, porque eu era meio gordo, né? Tem
que ser grande, senão não vai dar. E foi feito. Nós conseguimos entrar,
mas a torcida foi toda abaixo, meu amigo: todo mundo gritando, aquela
coisa toda. Só que tiveram uns filhos de Deus lá que soltaram rojão...
agora você imagina, né? Quando começou o pipoco a tocar, o burro começou
a dar coice, e saiu correndo e jogou nós dois no chão. Foi uma agonia,
mas o pior não foi pra levantar do chão: foi pra tirar ele de campo”.
Do que você sente falta no futebol atual?
“A ousadia do futebol brasileiro acabou.
Hoje não tem um jogador que resolve o jogo dentro de campo. É mais
coletivo. Antigamente também era coletivo, mas como o futebol precisa de
um jogador para resolver, naquele tempo tinha. Hoje, não. Você fica à
mercê da velocidade, do jogo truncado, do jogo em que antes de receber a
bola os caras já estão te empurrando e calçando o seu calcanhar. Então
ficou demais!
Hoje você não tem um jogador habilidoso
que pegue a bola e drible, igual eu fazia. Não tem mais! Então fica
assim, uma seleção como a nossa precisando só de um jogador, como o
Neymar. Neymar é um craque, um maestro do futebol. E se não tem o
Neymar, a Seleção não anda. Então nós precisamos fazer jogadores como
antigamente. E dá para fazer! É só mudar as atitudes dos jogadores,
professores, treinadores, do pessoal do comando técnico... Acabou o
futebol brasileiro”.
Jacozinho se identifica com Neymar, mas sente falta do futebol de antigamente (Foto: Reprodução/Facebook) |
Você se identifica com qual jogador do futebol atual, e acha que jogaria em qual clube nos dias de hoje?
“Eu tinha o mesmo estilo do Neymar:
partia pra dentro, driblava... só que naqueles tempos a gente podia
fazer alguma graça. Hoje em dia não pode mais. Hoje em dia, se você tem
um dom que Deus te deu você não pode mais usar, porque é desmoralizar os
outros. Naquela época a gente levava pancada, tapa no rosto, mas também
a gente fazia muita coisa. No CRB, tinha um marcador, o Carlinhos, que
ele dava muita pancada. E eu gostava de dar drible nele. Teve uma vez
que ele me deu uma voadora, porque voadora antigamente podia, só que eu
toquei a bola num lado e busquei no outro. Aí fui para a trave e subi em
cima da bola, antigamente a trave era de madeira mesmo. Aí eu subi em
cima da bola e fiquei chamando ele”.
Qual clube você acha que teria vaga nos dias de hoje?
“Se for em time do Brasil, hoje tá
difícil... só um Corinthians. Naquela época era Flamengo, Vasco, os
times do Rio. Se jogasse nos times do Rio, era Seleção Brasileira. Hoje,
não. Hoje está difícil. Se fosse lá fora, seria o Barcelona”.
Você passou por dificuldades na
sua vida, após pendurar as chuteiras. Se tivesse que dar um conselho
para você mesmo no passado, qual seria?
“Eu tive altos e baixos, tive uma vida
muito boa quando eu estava no auge. Tive fazendas, casas, vários
apartamentos. Quis o destino que eu perdesse tudo. Hoje eu sou um servo
do Senhor, sou evangélico há 21 anos já. Aceitei Jesus e minha vida
mudou ali. No fim de carreira eu fiquei morando embaixo de uma
arquibancada, no Maranhão. Mas foi lá que eu encontrei Jesus e foi lá
que Deus mudou toda a minha história. E hoje eu sou um cara que
dá palestras, viajo o Brasil pregando e dando testemunhos. Dou palestras
para clubes, para jogadores de base, e falo para eles: você tem que ser
humilde, sempre humilde. É assim que o ser-humano tem que ser. Se todos
tivessem essa mentalidade da humildade, o mundo não seria como é hoje”.
Se você jogasse hoje, teria vaga na Seleção Brasileira?
“Eu teria na Seleção do mundo”.
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