Piá, Gilmar, Charles, Rogério, Gotardo e Júnior, Agachados: Uidemar, Marquinhos, Paulo Nunes, Júlio César e Zinho |
Muito antes de Adriano desfilar toda sua categoria e faro de gol com a camisa rubro-negra, outro Imperador já havia se destacado na Gávea. O ex-ponta direita Júlio César ainda mantém vivas na memória as boas atuações que teve pelo Flamengo, onde foi campeão brasileiro em 1992 e marcou gol na final contra o Botafogo. Fã de Zico, ele incrementou um time repleto de craques, como Zinho, Júnior, Marcelinho Carioca e Paulo Nunes, e aproveitou bem a melhor chance da carreira após ter sido contratado junto ao Atlético-GO.
Júlio César é mais um ex-jogador que nunca conseguiu largar o mundo da bola. Goiano de Itapirapuã, ele recebeu o GloboEsporte.com na modesta Itaberaí, a cerca de 100 km de Goiânia. No clube que recebe o nome da cidade, Júlio César foi diretor de futebol e viu de perto o rebaixamento para a terceira divisão estadual. Além da inexperiência na competição, o Itaberaí, que disputou a Série B pela primeira vez, ficou de mãos atadas diante do baixo orçamento de apenas R$ 50 mil por mês. Júlio César continua sua luta. Aos 48 anos, já é avô de dois netos, mas ainda dá os primeiros passos para um sonho antigo: ser técnico de futebol.
- Hoje sou diretor. Vim atender um pedido de um amigo (o técnico Ademir Goiano). Ficava mais em Itaberaí, mas quando tinha uma folga eu ia para Goiânia, minha família está toda lá. Já cheguei a pensar em largar o futebol, mas depois vi que realmente queria seguir neste ramo. Fiz alguns cursos de gestão esportiva, trabalhei em Goiás, no Mato Grosso, no Maranhão, em Rondônia. Ainda busco as oportunidades para ser técnico – conta Júlio César.
O ex-meia começou a carreira no Atlético-GO, onde fez boa dupla com Valdeir “The Flash”, que, curiosamente, foi seu adversário na final do Campeonato Brasileiro de 1992 – Valdeir era jogador do Botafogo. Júlio César foi ponta direita e sempre teve o sonho de atuar em um grande clube.
No Dragão, ele foi campeão goiano em 1988 e conquistou o título da Série C do Brasileirão dois anos depois. A oportunidade que tanto esperava surgiu em 1992, no Flamengo. Lugar melhor não havia para quem era fã de Zico. E apesar de ter sido ponta direita acostumado a usar a camisa 7, Júlio César lembra que teve de estrear com a 10, justamente o número do Galinho de Quintino. O Imperador não decepcionou.
- Quando eu cheguei ao clube, o momento não era tão bom. O Flamengo vivia uma sequência de derrotas. Perdemos um clássico para o Vasco e tivemos uma semana tensa. Aí comecei a treinar bem e estreei contra o Corinthians. Entrei no segundo tempo, quando o jogo estava empatado por 1 a 1. Mas vencemos por 3 a 1. Minha estrela brilhou naquele momento. Eu queria muito jogar em um grande clube e tive de aproveitar a chance. Minha estreia como titular foi num Fla-Flu. O Zinho estava suspenso e joguei com a camisa 10. Deu sorte, pois empatamos com um gol meu – lembra.
Mas o principal gol e o principal jogo da carreira de Júlio César ocorreu no dia 19 de julho de 1992. Na final do Campeonato Brasileiro contra o Botafogo, o Imperador marcou um dos gols no empate por 2 a 2, resultado que garantiu o quinto título nacional para o Rubro-Negro. O apelido de Júlio César não demorou a pegar. Além do nome do antigo imperador de Roma, o meia contribuiu com o bom futebol. Segundo ele, o apelido surgiu ainda em Goiânia, mas ganhou força no Rio de Janeiro.
- A imprensa gosta disso, ela cria apelidos. Em Goiânia comecei a ser chamado assim, mas não tantas vezes. Aí no Flamengo o apelido pegou. Assim que tive as primeiras boas atuações, vários cronistas começaram a me chamar de "Imperador". Ali o nome já estava famoso, não tinha como ser diferente. Acho legal isso, pois identifica o jogador – diz Júlio César.
Júlio César não conseguiu repetir o desempenho nas temporadas seguintes. O meia marcou 12 de seus 16 gols pelo Flamengo em 1992 e foi transferido depois. A diretoria rubro-negra pretendia negociá-lo em definitivo, o que impediu o reencontro com Luiz Felipe Scolari, que dirigia o Grêmio. Felipão havia trabalhado com Júlio César como preparador físico no Atlético-GO e indicou o atleta aos dirigentes do Tricolor Gaúcho. O Grêmio até demonstrou interesse, mas queria contratá-lo por empréstimo. Sem acordo, o Flamengo vendeu Júlio César ao Guarani.
- O Felipão trabalhou pouco tempo no Atlético-GO, aproximadamente oito meses. Mesmo assim, ele se lembrava do meu futebol. Como técnico do Grêmio, ele pediu minha contratação, mas eles queriam o empréstimo. Este tipo de negociação não foi aceito pelo Flamengo, por isso, acabei negociado com o Guarani. Não tenho do que reclamar também, foi um grande momento. Acompanhei de perto o surgimento de um grande time do Bugre, que tinha jogadores como Amoroso e Luizão. Foi uma grande oportunidade – afirma o Imperador.
Depois da passagem pelo Guarani, Júlio César defendeu clubes como Paysandu, Atlético-MG, Vila Nova, Figueirense e Remo. O meia encerrou a carreira aos 36 anos em 2003, quando defendeu o XV de Piracicaba. Júlio César foi dirigente de clubes goianos, como Anapolina e Itumbiara. Em 2014, se aventurou como técnico do Ariquemes, em Rondônia. O sonho de ser treinador permanece. Até por isso, o trabalho do Itaberaí pode ter sido o último como dirigente.
- Fiz um curso de gestão esportiva, mas quero me aperfeiçoar na função de treinador. Preferi dar um tempo e aceitar o convite do Itaberaí, já que os estaduais estavam em andamento. É muito difícil trabalhar em clubes pequenos, sobretudo os do interior. Quando cheguei, o elenco já estava praticamente montado, mas vim ajudar a diretoria. Indiquei jogadores também e a responsabilidade é grande. Lutamos com todas as nossas forças. Quero seguir no futebol como treinador. A oportunidade ainda não surgiu, mas tenho alguns contatos. Espero trabalhar nesta função a partir de agora.
Por Fernando VasconcelosItaberaí, GO
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