Quão longe um time pode ir? De acordo a última pesquisa de torcidas, da Pluri Stochos Pesquisas e Licenciamento Esportivo, divulgada em março de 2013,
a torcida do Flamengo corresponde a 16,8% da população brasileira. José
Ribeiro da Silva certamente não foi alcançado pelos pesquisadores, mas
diz fazer parte com orgulho dessa estatística. Ele é um seringueiro de
39 anos, que vive na Reserva Extrativista Chico Mendes, no município de
Xapuri, interior do Acre.
Hoje, José Ribeiro acompanha jogos pela televisão (Foto: Yuri Marcel/G1) |
Para
chegar na casa dele é preciso pegar uma estrada de terra que vai se
transformando em mata quase fechada a medida em que se entra na Reserva.
Mesmo de caminhonete, o trajeto leva cerca de uma hora e no período de
chuvas ainda é preciso enfrentar a lama que se forma no percurso.
O
futebol, fazendo jus ao status de paixão nacional, não se intimidou
pelo isolamento da floresta e encontrou José dentro do seringal. E ele
se tornou flamenguista, antes mesmo de ver o time em ação. Sem imagens,
ele ainda garoto fantasiava como seria o time.
-
Acompanhávamos as partidas pelo rádio, na época não existia televisão
nem mesmo na cidade. Comecei a gostar do Flamengo e me tornei
flamenguista de coração. Eu imaginava como era. Às vezes a gente via
alguma blusa do Flamengo e tinha alguma noção - conta.
Ele
diz não lembrar muito da primeira vez que viu o Flamengo jogar, mas
recorda de ter se emocionado. No seringal moderno tem televisão e
parabólica, e os aparelhos eletrônicos funcionam a bateria. Na sala, em
lugar de destaque fica a TV e ao lado um escudo do Flamengo feito em
madeira pelos filhos do seringueiro.
Segundo José, a família
não tem muito tempo para acompanhar os jogos, mas sempre assistem as
partidas transmitidas às quartas-feiras e domingos. Mas dia de clássico
na casa de quatro cômodos é sagrado. Clássico é claro, significa jogo
entre Flamengo e Corinthians. Isso porque José, os dois enteados e a
filha são flamenguistas. Já a mulher dele, um sobrinho e um amigo que
também vive na casa são corintianos.
- O Corinthians aqui é sempre minoria, mas quando ganham gozam dos flamenguistas - conta bem humorado.
E assim os dias passam no seringal de onde José não pensa em sair.
- Pretendo permanecer até o fim da minha vida se possível - completa o flamenguista da floresta.
Chico Mendes e 'empate': seringueiro defendeu a floresta
Chico Mendes e 'empate': seringueiro defendeu a floresta
O
pai dele era nordestino e como milhares da região foi para o Acre
trabalhar como seringueiro na esperança de uma vida melhor. Silva como
tanto outros Silvas país afora começou a trabalhar cedo, aos 12 anos, e
seguiu a profissão do pai.
José Ribeiro seguiu os passos do pai e também é seringueiro (Foto: Yuri Marcel/G1) |
Ele
chegou até mesmo a conhecer o líder seringueiro Chico Mendes,
assassinado em 1988, e a participar de um 'empate', como eram chamadas
as manifestações realizadas pelos seringueiros para impedir que
fazendeiros derrubassem as florestas durante as décadas de 1970 e 1980
no Acre.
- Foi na Fazenda Siberana. A gente foi para lá e
paramos com a derrubada. Encaramos inclusive a polícia que estava ao
lado do fazendeiro - relembra.
Hoje a situação mudou, os
conflitos entre fazendeiros e seringueiros não ocorrem mais no interior
do Acre e José Ribeiro vive em sua área da coleta de látex que vende
para a Natex, fábrica de preservativos masculinos instalada em Xapuri.
Por esse serviço ele ganha cerca de R$ 800 por mês.
- Não é bom, mas dá para se manter - comenta.
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