sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Em alta, Luiz Antonio diz: 'Deixei de ser promessa para virar realidade'

Por Rio de Janeiro
Nos primeiros passos da carreira de jogador profissional, Luiz Antonio carregou nas costas e nas chuteiras o peso de ser apenas uma promessa do Flamengo. Mas, depois de oscilar, o volante se firmou na atual temporada, deixou o rótulo de lado, ganhou a vaga de titular e agora vive a fase de ser uma realidade no clube que exalta o lema de que craque se faz em casa.
- Procurei sempre tirar esse rótulo de promessa e acho que agora consegui- afirmou Luiz Antonio.
Aos 22 anos, o jogador destaca que há tempos o Flamengo não tinha um jogador da base atuando constantemente no profissional. Valorizado no mercado da bola, Luiz Antonio chegou a ter seu nome especulado em uma possível negociação com o Sporting, de Portugal, para ajudar a viabilizar a permanência de Elias:
- Tenho outras coisas a buscar no Flamengo. Quero me tornar ídolo, tirar o status de promessa e fazer história sendo campeão. Tenho muito a dar ao Flamengo ainda antes de pensar em Europa. 
Luiz Antonio jogador Flamengo (Foto: Cahê Mota)
Luiz Antonio se firmou e foi peça importante na conquista da Copa do Brasil (Foto: Cahê Mota)

Confira a íntegra do bate-papo:

GloboEsporte.com: Você não está entre as estrelas do time, ainda foi questionado neste ano e acabou como craque da final da Copa do Brasil. Foi o jogo da sua vida?

Luiz Antonio: Por ser uma final, foi um dos jogos mais importantes. Sabia que era o último jogo e foi a partida da minha vida. Fica marcada pela atuação e pelo título. Gostei bastante da minha atuação, por ajudar o Flamengo e isso está marcado para sempre.

Mesmo tão jovem, você tomou conta da equipe, quase todas as ações passavam por você, foi quem mais finalizou. O que passou na sua cabeça nos momentos antes do jogo para ter essa postura?

 No primeiro jogo, eu já tentei arriscar, vinha buscando isso. Sabia que seria um jogo importante e que os principais jogadores eram o Paulinho, Hernane, Elias, e estariam mais marcados. Assim, apareceria mais espaço para mim. Foi o que aconteceu, tive mais oportunidades.

Aquele chute logo nos minutos iniciais, que você obriga o Weverton a fazer uma grande defesa, foi determinante para pegar confiança e manter essa postura?

Sim. Acertar um chute daqueles, difícil, e a maioria dos passes, passei a ter confiança e sabia que estava em uma noite boa. Precisava continuar assim, que fosse o primeiro chute de muitos. Consegui, fui bem e acertei mais do que errei.

Você acerta uma falta no travessão em lance muito parecido com o gol do Pet em 2001, na final do Estadual. Foi algo que passou pela sua cabeça naquele momento?

Vinha treinando e trabalhando sempre com o Cantarelle, Renato Abreu antes, o Chicão, jogadores que já vi batendo faltas. Eles sempre procuram mais ou menos o primeiro cara da barreira e sempre mirando o gol. Tinha que acertar o gol e depois deixar acontecer com tranquilidade. Tive calma. Infelizmente, não fiz o gol, mas a batida realmente lembrou um pouquinho o Pet contra o Vasco. Vi nos vídeos depois.


 Ficou o sentimento de que merecia um gol nesta decisão?
Fica aquele gostinho de querer fazer um gol, mas o que mais valeu foi o título, que era muito importante. Independentemente de jogar bem ou não, queria ser campeão. Seria o meu primeiro, isso que queria mesmo. Só podia sair dali com o título ou a frustração ia ser muito grande.

Assumir as bolas paradas do Flamengo é um objetivo?

O Chicão é um grande cobrador, já fez gols, mas penso aos pouquinhos em conquistar meu espaço. O time e o Jayme têm me dado confiança para isso.

No Flamengo, a pressão para revelação de jogadores é muito grande. Casos como os de Rafinha e Adryan, sofrem bastante com isso, e você é quem tem jogado mais e foi bastante utilizado em 2013. Você acha que essa atuação na decisão foi para consolidar e tirar o rótulo de promessa?

Procurei sempre tirar esse rótulo de promessa e acho que agora consegui. Pela atuação e pela constância que tenho tido no time titular, acho que deu para liquidar isso de vez e parar de ser uma promessa para virar uma realidade. Já tinha comentado que era um objetivo e agora esse jogo coroou isso. Foi muito importante para minha carreira.

Desde quando surgiu um trio muito importante com Julio Cesar, Juan e Adriano, o Flamengo tem tido dificuldade para que pratas da casa se consolidem. Ibson e Renato Augusto tiveram sucesso, mas em escala menor. Você acredita que pode alcançar esse estágio ou ao menos acabar com essa seca tão longa?

Sei que passa a ser uma valorização muito grande. Passo a ser uma referência para os outros. Há muito tempo o Flamengo não tinha um jogador da base que jogasse tão constantemente. Tem um pouquinho desse peso, mas estou muito tranquilo. É uma coisa boa para mim e levo numa boa. Tenho consciência de que estou sendo o jogador que tem tido mais sequência. Reconheço isso e acho bem legal. Apesar do peso da pressão, estou preparado para assumir essa responsabilidade.
Mosaico carreira Luiz Antonio Flamengo (Foto: Editoria de Arte)(Foto: Editoria de Arte)




Não ter feito parte da geração que ganhou a Copinha em 2011 foi bom para tirar um pouco do peso que aqueles garotos levaram para o profissional? 

Eu era mais velho que eles, não pude jogar, e eles vieram com um pouco mais de pressão por terem ganhado. Eu era desconhecido, falavam mais deles e a torcida esperava mais. Vim devagar, pelas beiradas, e conquistei meu espaço. Acabou sendo bom não ter essa pressão naquele momento. Foi algo que me ajudou bastante.
Seu início foi de muito destaque, titular com o Luxemburgo, gol na Libertadores, mas depois perdeu espaço. Esse período foi importante para que você amadurecesse?

Deu para eu aprender que no futebol é preciso equilíbrio. Queremos sempre estar bem, mas existem os altos e baixos. Com isso de começar muito bem com o Luxemburgo e depois não ser aproveitado com o Dorival, pude aprender muito, manter o foco, amadurecer, trabalhar forte independentemente da situação. Tive a consciência de que futebol é equilíbrio e para isso é preciso trabalhar. Refleti muito até chegar a esse ponto que faz a diferença nos jogos e me deixava em desequilíbrio.

Qual foi seu caminho até o Flamengo?

Morava no Encantado, um bairro perto do Engenhão, e comecei pequenininho em uma escolinha lá perto. Até que jogava no Madureira, em clubes de pequeno porte, e o treinador do campo do Flamengo era o mesmo do salão. Sempre jogava federado contra o clube e, por mais que seja um time pequeno, sempre conseguia fazer o meu melhor. Jogava como beque, uma espécie de volante se fosse no campo, e me destacava com gols, chutes fortes. Certo dia, o treinador conversou com meus pais e me convidou para treinar, não seria um teste. Tinha uns 11 anos e fui. Fui levando o campo do Flamengo e salão em outros times até quando pude. Como o futebol proporciona um futuro melhor do que o futsal, foi minha opção.

O Jayme já falou que lembra de você ainda no mirim, quando ele era gerente da base. Fala sempre com muito carinho de você. Ele é uma espécie de pai que você tem no futebol?

Ele sempre foi um conselheiro, sempre ajudou e teve muito carinho por mim. É honesto, uma grande pessoa, é de falar bastante, conversar, apoiar, e me ajudou muito. Sempre me observou quando eu era mais novinho e quando subi vi o quanto falavam bem dele. É um amigo que me ajuda bastante. O momento atual é a consagração disso tudo, dele ter me ajudado quando subi, de me apoiar quando não jogava, aconselhar. Agora, estou conseguindo retribuir ajudando a ele em campo. É um cara que está marcado para mim.

Ele já comentou que pega no seu pé por se abater muito com alguns erros, que se desliga em campo...

Isso é pela minha cobrança. Meus pais sempre me cobraram e eu me cobro muito. Sou chato comigo mesmo. Quando os jogos acabam, procuro analisar, assistir ao teipe, ver os passes que acertei, errei, bolas que roubei. Tudo eu tenho na cabeça. Meu pai anota e vamos discutindo. Nós vemos os jogos de novo e tenho tudo na cabeça do que errei. Por isso, me abatia quando errava o primeiro passe, ficava cabisbaixo, e a autoestima ia lá para baixo. O Jayme ficava no meu pé, cobrando para tirar essa pressão de acertar e ser perfeito.

Você atua em uma posição muito moderna, de volantes que jogam de uma área até a outra. Na Seleção, tem o Paulinho, Ramires, Hernanes. São jogadores que servem de inspiração?

São jogadores com história e espero chegar a esse patamar. Gosto muito do Hernanes quando joga de volante, da dinâmica do Paulinho para chegar sempre ao ataque. O Ramires também por ter um biotipo parecido e por sair pelos lados, como eu faço. São exemplos que procuro melhorar para, se não chegar até eles, ficar perto.

Você se comunica bem, terminou os estudos. Pensou em fazer alguma faculdade?

Já tive vontade de educação física pelo futebol, mas fiquei meio assim. Queria fazer fisioterapia por operar os ombros, mas pelo momento que vivo uma faculdade de administração seria o ideal para fazer. São três cursos diferentes e um deles eu vou fazer.

Essa cobrança que seu pai tem sobre você ainda é muito forte? É algo que te atrapalha?

Atrapalhava muito mais antigamente. Agora, não atrapalha tanto. Ele achava que eu tinha que ser perfeito, não aceitava que eu errasse. Hoje, ele dá uns toques e vê que o filho evoluiu bastante no que ele sempre cobrou. São conselhos e não cobranças. É um cara que entende muito de futebol, na prática e na teoria. Estuda muito, ia muito ao Maracanã. Eu vejo como um exemplo.

 De que maneira o futebol mudou sua vida?

Acho que tudo é fase. Quando mais garoto, queria aproveitar e meus pais sempre me focaram muito no futebol. Brinquei de pipa, rodei pião, mas era pouco. Meu foco era na escola e no futebol. Sempre tive meus horários, minhas obrigações, tinha que fazer a lição de casa. Até jogar pelada era complicado. Hoje, gosto mais de ir para o cinema, sair para jantar. Podem pensar que tenho 22 anos e tenho que conhecer a vida, mas acho que há muitas maneiras de viver sem conhecer essas coisas (noitada). Quem gosta, vai. E respeito sem problemas.

Já conseguiu dar a condição de vida que você sonhou para sua família?

Ainda não. A medida que vou crescendo, refaço meus objetivos. Ainda não consegui dar a vida ideal para os meus pais, mas já melhorei bastante.(Luiz Antonio mora com a noiva no Anil e os pais com irmão no Recreio).

Recentemente, falou-se muito de um interesse do Sporting em você. Chegou realmente alguma coisa? Como você lida com isso? O que planeja para o futuro?

Não chegou nada a mim, pelo que meu empresário falou, e nem ao Flamengo. Não tenho muito o que falar para você sobre isso e fico focado no futebol. Se tiver, vão conversar comigo.

A estabilidade que você tem conquistado faz com que o desejo seja de ficar mais tempo?

Tenho objetivos tanto aqui quanto na Europa. Deixo as coisas acontecerem naturalmente. Penso em fazer história no Flamengo e penso em jogar na Europa. Se for o caso de ficar, fico, porque é o clube que amo, sou apaixonado e quero fazer muito mais. Tenho outras coisas a buscar no Flamengo. Quero me tornar ídolo, tirar o status de promessa, que acho que já tirei, e fazer história sendo campeão. Tenho muito a dar ao Flamengo ainda antes de pensar em Europa.

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