Nunes posa com as taças do Mundial Interclubes: dois gols no jogo mais importante do Flamengo Gustavo Azeredo / O Globo |
Ao bater na coxa direita enquanto diz que "esta perna aqui decidiu muitos campeonatos", Nunes reafirma seu espaço. Na historiografia sobre o grande time rubro-negro, muitas vezes cabe a Nunes, além dos gols de título, o papel de jogador de nível técnico inferior aos craques que o rodeavam. Imagem que o incomoda, e rebatida de bate-pronto, com fúria e bons argumentos.
— Só os cabeças de bagre que não entendem nada de futebol falam isso. Aponta um centroavante de hoje em dia que fazia mais gol do que eu. Um só! Falar é fácil, quero ver dentro de campo, entender o que o Zico ia fazer, abrir o espaço certo, no tempo certo, para receber o passe. Acompanhar o raciocínio dele, do Júnior, Adílio... Eu era a peça que faltava naquele timaço — assegura.
O encaixe da peça número 9 demorou um pouco a acontecer, embora Nunes tenha feito as categorias de base no Flamengo. Quando estourou a idade dos juniores, não foi aproveitado por Zagallo, então técnico do profissional. Indicado pelo massagista Mineiro, deu início à carreira no Confiança (SE), onde o técnico era Dequinha, centro-médio do Flamengo tricampeão em 1953-1954-1955. Seus gols o levaram ao Santa Cruz, onde foi artilheiro e chegou à seleção, comandada por Cláudio Coutinho.
Depois de rápida passagem pelo Fluminense, foi jogar no Monterrey, do México, onde sua história se reaproximaria do Flamengo.
— Recebi uma ligação do (ex-presidente) Márcio Braga para jogar no Flamengo. Foi tudo rápido e em segredo, ninguém sabia. Quando cheguei na Gávea, o Zico tomou um susto ao me ver. E ali começou. Aquele time precisava de mim. Na minha estreia, contra a Ponte Preta, no Brasileiro de 1980, já fiz gol. E na final, marquei o do título.
Depois do gol sobre o Atlético-MG no primeiro título brasileiro do Flamengo, Nunes marcaria também o gol decisivo do título carioca de 1981, sobre o Vasco, uma semana antes da final do Mundial contra o Liverpool. Antes mesmo de marcar em Tóquio, ele já era chamado de Artilheiro das Decisões:
— A primeira vez que ouvi esse apelido foi do Galvão Bueno, numa entrevista comigo lá no hotel do Japão. O resto está na história, aquele jogo inesquecível. Lembro que, na volta, alguns jogadores iam passar férias no Havaí, mas eu queria muito chegar ao Brasil como campeão mundial.
A briga com Carpegiani
Como campeão e artilheiro da grande decisão, o que valeu ao João Danado um carro do patrocinador como premiação — e a fama de pão-duro. Nunes e Zico (premiado como craque da decisão) haviam combinado de dividir a premiação com os demais jogadores. Uma lenda rubro-negra conta que o centroavante demorou mais de dois anos para cumprir o acordo. Nunes nega, incomodado.
— É tudo cascata. Nenhum jogador vai abrir a boca para dizer que não recebeu. O problema foi que o carro só chegou em 1983, mais de um ano depois... Até vender, receber o dinheiro, dividir. Isso foi o que aconteceu. Ficou o falatório, mas não é verdade.
É uma das únicas histórias sobre aqueles tempos que fazem Nunes fechar o semblante. Na vida, e no futebol especialmente, conta-se a história dos vencedores. Como nenhum outro time do Flamengo ganhou mais do que aquele, num grupo de craques formados em casa e que eram amigos, é quase natural idealizar que não havia problemas naquele vestiário. Foi uma briga até hoje não resolvida com o então técnico Paulo César Carpegiani, em 1983, que levou Nunes a sair do Flamengo para o Botafogo. O camisa 9 não perde o humor ao recontar a história. Incomodado por ser substituído seguidas vezes, Nunes foi reclamar com o técnico.
— Ele respondeu que ninguém era absoluto, que o time dele era "Zico e o resto". Aí não aguentei, disse que "resto era o c...", fui afastado e disse na imprensa que tinha um burro no Flamengo e que não jogaria mais com ele. Fui para o Botafogo. Ganhamos do Flamengo de 3 a 0, eu não fiz gol porque não queria marcar contra o Flamengo, eu só dava os passes, "faz, Berg, faz, Berg". No fim, a torcida pediu para eu voltar — disse Nunes, lembrando que o retorno à Gávea só aconteceria depois da saída de Carpegiani. — Fomos nós que botamos ele de técnico, e vai dar poder a uma pessoa... Mas este tipo de coisa acontece no futebol, faz parte. Não tenho nada contra ele, não.
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