sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Refugiados resgatam autoestima e alegria através do amor pelo Flamengo


Mosaico Torcida Fla refugiados  (Foto: Editoria de Arte)

Eles vieram para o Brasil em busca de paz e de melhores condições de vida. Mas encontraram mais que isso. Com o Flamengo, refugiados dos mais diversos cantos da África resgataram sua alegria e autoestima após passar por momentos de grande dificuldade em seus países de origem. O amor pelo time uniu cerca de 30 deles em torno da Fla-Refugiados, uma torcida que surgiu na partida entre Flamengo e Vasco, realizada no fim de agosto e válida pela Copa do Brasil. O grupo participa também do Futebol das Nações, um projeto que é parceria da Cáritas - entidade que atende os refugiados e trabalha na defesa dos direitos humanos - e do Maracanã.
Charly Kongo é um dos membros da torcida. Com 34 anos, ele é uma espécie de porta-voz dos refugiados no Rio de Janeiro e também da Fla-Refugiados. Confiante, ele acredita que a equipe vai conquistar o Campeonato Brasileiro - o Fla venceu o Cruzeiro por 2 a 0 na última quinta-feira  e entrou no G-4 - e conta que já conhecia o Galinho de Quintino desde a época em que morava na República Democrática do Congo, onde nasceu.

- Vim para cá por conta da instabilidade política e da guerra na minha terra. Há muita violação de direitos humanos, repressão da polícia e não há liberdade de expressão. Já conhecia o Flamengo de lá e principalmente o Zico. É o meu preferido. Ele é muito conhecido no mundo todo – diz com orgulho ao ressaltar que “um dos melhores jogadores do mundo jogou no Flamengo”.
Kongo se diz feliz em terras brasileiras. Residente da Cidade Maravilhosa há sete anos, ele vê o futuro com esperança e se mostra agradecido pela parceria com o clube. Segundo ele, estar naquela partida da Copa do Brasil - os refugiados foram convidados pelo Flamengo para ver o jogo no camarote do Maracanã -, fez com que muitos deles se sentissem novamente valiosos e importantes para o mundo.
- Você tinha que ver o rosto dos refugiados. A gente se sentiu igual aos outros. Sentamos em uma área que varias personalidades já passaram. Estávamos assistindo um jogo no Maracanã, que é um símbolo da grandeza do Brasil. Isso tudo contribui para nossa autoestima – ressaltou.
Eli Albert Fumu, de apenas  17 anos, é outro apaixonado pelo time carioca. O jovem custou a chegar ao Rio depois de uma viagem de mais de um mês clandestino em um navio na companhia dos irmãos. O sonho era “encontrar um lugar fora de perigo”. Fã de Guerrero e com a camisa em punho, o estudante não tira o sorriso do rosto quando o assunto é o Flamengo. E se o passado é de tristeza, o presente é só alegria torcendo pelo Rubro-Negro. Ele é quem garante.

- O Flamengo foi a maior surpresa que encontrei aqui. Sou muito agradecido ao Brasil e ao Flamengo, que me aliviaram muitas coisas. Quando vêm aqueles pensamentos ruins, de não saber onde minha mãe está ou que meu pai já morreu, lembro do Flamengo. É muita alegria. Se eu pudesse, assistia aos jogos todo dia. Os vizinhos reclamam muito que a gente bate panela quando o Flamengo vence. O Flamengo une as pessoas – conta, com brilho nos olhos.
Apesar da grande vontade de estar em todos os jogos do no Maracanã, o grupo ainda ainda não tem condições de assegurar sua presença em todas as partidas do Flamengo. No entanto, a Cáritas trabalha para que parcerias com outras torcidas sejam feitas. 

Dentre tantos torcedores espalhados pelo mundo a fora, a nação rubro-negra ganhou mais alguns representantes. Desta vez, de outras nacionalidades. E se eles não nasceram em solo brasileiro, isso não é um problema. O amor pelo Flamengo parece já ter nascido neles. 

Por Rio de Janeiro

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