domingo, 13 de setembro de 2015

À Guardiola ou à Mourinho, Oswaldo ensina gestão de recursos humanos no Fla

Oswaldo de Oliveira assume o Flamengo
Com Oswaldo de Oliveira, Flamengo preza tanto velocidade quanto posse de bola
O Flamengo venceu há pouco a Chapecoense por 3 a 1. É o sexto jogo pelo segundo turno do Campeonato Brasileiro, triunfo em todos. A maior sequência de vitórias na era dos pontos corridos, reeditando façanha ocorrida pela última vez em 1982. A melhor campanha do returno. A mudança tem um protagonista: no fim da primeira fase, com o time em 13º, Oswaldo de Oliveira assumiu o comando. Com o novo técnico, sobreveio a ascensão para a quarta colocação, aproveitamento de 100%.

Oswaldo não apenas não recebeu reforços, como perdeu a estrela, Guerrero, contundido. Com o mesmo elenco de antes, conduz a virada espetacular. A síntese é o lateral-direito Pará. Vinha mal, deixara de ser titular, a torcida o execrava. Passou a ser aplaudido.


Oswaldo estabeleceu a confiança inexistente com os treinadores anteriores, Cristóvão Borges e Vanderlei Luxemburgo. Um dos seus méritos é, bom gestor de recursos humanos, identificar as características dos jogadores. Na segunda etapa, na Arena Condá, a Chapecoense estava deitando e rolando pela direita do seu ataque, com o lateral Apodi em sexta marcha. Oswaldo, que agora escala o auxiliar Jayme de Almeida para ficar ao seu lado no banco, tirou o lateral-esquerdo Jorge, jovem de grande técnica e reduzida velocidade. Em seu lugar entrou o volante Luiz Antônio, posicionado à esquerda do meio-campo. Para a lateral, grudado em Apodi, foi deslocado o meia-atacante Everton. Muito rápido, ele anulou o adversário insinuante.

Outra qualidade da equipe é saber jogar em dois modelos: com o controle da bola, sufocando, ou preferindo o contra-ataque. De um jeito ou outro, a principal novidade são os ataques rapidíssimos. O maior exemplo se viu nos 3 a 1 do Fla-Flu. Os jogadores pegavam a bola e mal olhavam para o lado. Miravam o ataque e disparavam, com ou sem a pelota.

O primeiro tempo deste domingo foi no estilo Guardiola: controle do jogo, encurralando o oponente. Na primeira parte dos 2 a 0 contra o Cruzeiro, na quinta-feira no Maracanã, vimos o estilo Mourinho. A bola ficou com o visitante, que se impôs. Mas quem partiu para o intervalo ganhando foi o Flamengo, que abriu o placar em jogada veloz pela esquerda.

Mais atrás ou à frente, o time sempre pensa em como agredir, no sentido futebolístico, não pugilístico. Acabou a era dos três volantes. São dois, com a sacada de fincar Márcio Araújo mais atrás. Com ele, há mais agilidade na saída de bola. Em Santa Catarina, no final havia três volantes e três zagueiros, mas pela decisão pragmática _e correta_ de manter o resultado alcançado com postura ofensiva.

Com a evolução, existe mais gente atacando e mais gente defendendo. Os atacantes e defensores estão mais próximos dos meias. Todo mundo ajuda. Alan Patrick, na pele de armador, se movimenta muito. Com ele suspenso hoje, Everton fez a mesma coisa. No primeiro tempo, Cirino começou pela direita e Paulinho (autor do primeiro gol) pela esquerda, e logo trocaram de lado, confundindo a defesa. Kayke (do terceiro) não ficou paradão na área. Canteros (do segundo) avançou pela direita sem que um buraco se abrisse atrás. Com o volante pela direita e o meia-esquerda mais próximos do primeiro volante, abrem-se espaços para os laterais subirem com campo livre. Não é o futebol-total, mas tem o espírito do futebol coletivo em que ninguém fica estático.

Com o time confiante, a técnica melhora. Dos últimos cinco gols, três foram golaços: de Alan Patrick e Luiz Antônio, diante do Cruzeiro, e Paulinho, hoje. Muitos suplentes jogaram, e bem.

Oswaldo fez outras mudanças. O desempenho na bola aérea defensiva melhorou com a marcação individual, a despeito de dificuldades como a de Samir na quinta, contra Paulo André (um pênalti sobre o cruzeirense não foi apitado).

Quando Oswaldo assumiu, achei que era coisa de otimista desbragado sonhar com uma vaga na Libertadores. Continua difícil, mas se o Brasileiro acabasse agora o rubro-negro estaria lá.

Mais de uma vez escrevi que o elenco era limitado, mas melhor do que o time. Agora, a performance é melhor do que o elenco.

Já pensou se o Oswaldo tivesse vindo antes?

Em um ano de reveses no Campeonato Estadual e na Copa do Brasil, um lugar na Libertadores 2016 seria um tremendo feito, ainda mais porque, até a chegada do Oswaldo, inesperado.

Mário Magalhães

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