quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Jayme deixa futuro em aberto e se diz aliviado com o tri: 'Estou em paz agora'

Jayme de Almeida flamengo medalha coletiva (Foto: Edgard Maciel de Sa)
Jayme de Almeida posa com a medalha de campeão (Foto: Edgard Maciel de Sa)
O Flamengo coroou na noite desta quarta-feira uma campanha de superação na Copa do Brasil. De desacreditado, o time foi eliminando rivais considerados mais qualificados - como Cruzeiro, Botafogo e Goiás - e, com a vitória por 2 a 0 sobre o Atlético-PR, no Maracanã, se sagrou tricampeão da competição. Após a partida, o técnico Jayme de Almeida - já com a medalha no peito - demonstrou um misto de satisfação e alívio com a conquista rubro-negra.

- Na campanha, todos eram favoritos, menos o Flamengo. Estou em paz agora. O que fizemos nessa competição ninguém acreditava. Acho que só nós acreditamos mesmo. O time começou a ganhar corpo no empate com o Botafogo na Copa (1 a 1, jogo de ida das quartas de final). Achavam que o Flamengo seria goleado. Só a gente e a torcida acreditou, o time fantástico do Botafogo não nos venceu, ali vimos que tínhamos força e podíamos ir longe. Depois o Flamengo se portou sempre muito bem na Copa do Brasil, de forma sólida e convincente, por tudo o que fizemos, foi até normal ganhar esse título - disse na coletiva de imprensa.
Sempre sereno, o comandante da conquista despitou sobre o futuro mesmo que o vice-presidente de futebol, Wallim Vasconcellos, já o tenha garantido no cargo para 2014. DIsse apenas que vai conversar com a diretoria depois do dia 8 de dezembro, data da última rodada do Campeonato Brasileiro. Jayme não fugiu nem das perguntas sobre o técnico Mano Menezes, que pediu demissão durante a competição por não acreditar no sucesso do time.

- Foi uma questão pessoal dele, achando que o time não renderia mais. Respeito, mas eu vejo futebol de uma maneira um pouco diferente da dele. Fiz mudanças que considerava importante. Acima de tudo, jogador precisa de confiança - resumiu.

Confira os tópicos da entrevista coletiva:
Jogo
- O Atlético-PR não criou nada. A melhores chances foram do Flamengo. É claro que gostaríamos que o gol saísse mais cedo, mas é decisão, time afoito, normal. O adversário era perigoso, tivemos que marcar bem, erramos passes, mas jogo foi controlado e as melhores chances foram do Flamengo.
Pouca experiência
- Não me preocupo com isso. Muitos não acreditavam porque não me conheciam. Quero sempre fazer meu trabalho bem feito. Quando o presidente me chamou para assumir a equipe, minha responsabilidade era com o Flamengo, com os atletas e com a torcida. Não tenho muito o que falar além disso. Procurei fazer meu trabalho com seriedade, tranquilidade e respeito. No fim fomos felizes. Somos campeões, o risco do rebaixamento não existe mais... Isso me dá alívio e tranquilidade. Nada mais do que isso.
Comemoração discreta
- Já falei isso mais de uma vez e repito: quem decide são os jogadores. E não é demagogia. Comemorei, abracei, foi um momento emocionante, lógico. Mas deixa a festa para os jogadores. Eles são mais jovens, dão volta olímpica, carregam a taça. Eu não tenho mais idade para isso (risos). Ser campeão pelo Flamengo é muito legal. Vocês não têm ideia. Vou guardar esse título no fundo do meu coração por tudo o que passamos. Fomos desacreditados por muitos. Mas nós sempre acreditamos. Isso deixa o título mais gostoso ainda. Nos fechamos, trabalhamos, e quando perceberam que o Flamengo era forte, já estávamos praticamente na final. Falaram que íamos perder para o Cruzeiro, para o Botafogo, para o Goiás, para o Atlético-PR. E não perdemos para ninguém. Os jogadores entenderam o que precisava ser feito e fizeram de maneira brilhante. Por isso dou os parabéns a todos. Jogamos a sementinha em um grupo desacreditado, eles jogaram água, regaram e nasceu uma planta linda. A comissão técnica foi fantástica, não foi só o Jayme. Agradeço a todos que estão comigo.

Futuro
- Carlinhos e Andrade foram atletas fantásticos do Flamengo e ótimos treinadores. Agradeço por ser colocado nesse hall. Mas não tenho como falar do futuro. Não sou adivinho. Sei que o trabalho que me foi pedido, eu fiz da melhor maneira possível. Vencemos a Copa do Brasil e evitamos o rebaixamento no Brasileiro. Então fiz meu trabalho bem. Agradeço a confiança do presidente, mas não sei do futuro, não sei se vou continuar como treinador. Sou funcionário do clube, e vamos conversar depois do dia 8. Ficando ou não, vou seguir trabalhando com futebol. Joguei dos 15 aos 34 e hoje estou com 60 anos. Eu me formei em Educação Física, fiz cursos e quero trabalhar muito tempo com esportes.
A temporada 2013
- A nova diretoria nos avisou que os investimentos seriam pequenos. O Flamengo tem muitos problemas de dívidas e precisa pagar. Isso sempre ficou claro. Sabíamos que o ano não seria fácil. Mas por incrível que pareça, mesmo nessas dificuldades, com poucos acreditando, o Flamengo está na Libertadores. E com certeza arrecadou muito. Conseguimos ter um ano financeiramente bom também. Com a Libertadores em 2014, acho que o Flamengo pode e deve qualificar a sua equipe. Libertadores é outro nível.
Pressão por títulos
- Em um time grande como o Flamengo, pela grandeza, pela torcida, por tudo o que ele representa, é preciso sempre estar disputando títulos. A cobrança no Flamengo é essa. Se começar o Carioca amanhã, temos que ganhar. A Libertadores também. Flamengo é assim. Quem trabalha e convive aqui, a pressão é essa. Quem conhece o clube há muito tempo sabe que é normal. Não adianta achar que não. Se não formos bem no Carioca, a pressão será grande, vão dizer que ninguém presta.
Projeto profissional
- Continua a mesma coisa do início do ano. Sou funcionário do Flamengo, trabalho no futebol e tenho muito orgulho do que faço. Eu estava satisfeito na minha função de auxiliar. Trabalhei com vários treinadores e fui tratado com carinho e respeito por todos. Aprendi muito e só tenho a agradecer. Não tenho problema de ter sido auxiliar até pouco tempo. Faço minha função com amor e respeito. Sobre o futuro eu não sei. Sei que esse título tira um peso, traz um alívio bacana. Assumir um time como o Flamengo, com pressão e terminar o ano assim... Começamos em setembro desacreditados, diziam que o time era a pior coisa do mundo e hoje somos campeões. Isso realmente me dá um orgulho muito grande. Não foi fácil. Ninguém consegue nada sozinho. Estou muito feliz pelo trabalho feito. Tivemos uma noite fantástica, Maracanã lotado... E ainda vencemos um adversário difícil.
Respeito, mas eu vejo futebol de uma maneira um pouco diferente da dele. Fiz mudanças que considerava importante 
Sobre Mano Menezes
 Mais nervoso contra o Corinthians
- Vou ser bem sincero: estava mais tenso contra o Corinthians no domingo do que hoje. Sentia que, se não fizéssemos um resultado bom no Brasileiro, a pressão seria enorme. Lógico que contra o Atlético-PR era uma decisão. Nunca é tudo tranquilo. Mas não fiquei preocupado. A preparação foi boa, e o resultado de domingo deu muito moral para o time. Estava confiante de que íamos fazer o nosso trabalho bem feito. Se íamos vencer, era outra coisa. Mas sabia que íamos fazer o nosso trabalho.
Planejamento para 2014
- Tivemos uma reunião, acho que há um mês, e conversamos sobre o planejamento para 2014. Eu estava com o Pelaipe, o Wallim... Falamos sobre o elenco, sobre reforços. Foi a única reunião que tivemos sobre o assunto. E independentemente de eu seguir como técnico ou não, sou funcionário, tenho a confiança da diretoria, entendo de futebol e é normal que eu participe.
Falta de empresário
- Não me preocupa (não ter empresário). Nem um pouco. Me deram a chance, trabalhei e pronto. Sei que existem várias situações envolvendo essa questão, sei que é importante no meio. Vou dar o exemplo do Andrade, que foi campeão brasileiro, considerado o melhor técnico da competição e nunca mais arrumou emprego na Série A. Sei que ter empresário é necessário para seguir na carreira, mas isso não me preocupa. Mas se o técnico ficar sem ninguém, dificilmente vai arrumar emprego no Brasil.
 
Mano Menezes
- Cada treinador tem o seu estilo, o seu modo de ver futebol. Não vou discutir as razões de o Mano ter saído. Foi uma questão pessoal dele, achando que o time não renderia mais. Respeito, mas eu vejo futebol de uma maneira um pouco diferente da dele. Fiz mudanças que considerava importante. Acima de tudo, jogador precisa de confiança. Pensam que é bobagem, mas é verdade. Sem confiança, o cara não acerta um passe de cinco metros. Desde que assumi, a minha preocupação foi essa. Falei o que eles podiam fazer. A partir daí a coisa começou a andar. Eles começaram a acreditar, e foi importante. Com todo o respeito, Mano disse que o time estava com dificuldade. Eu troquei dois ou três, mas a confiança também foi fundamental para a reação e para o time chegar onde chegou.
Começo difícil
No empate com o Náutico, meu primeiro jogo, o time estava para baixo pela saída do Mano. Não jogamos bem e na quarta-feira já tínhamos a primeira partida contra o Botafogo, que tem um grande time. Se perdêssemos, seria difícil levantar o ânimo da equipe. Fizemos um treino de 25 minutos no Ninho e passei o que achava para os jogadores. Fui para o jogo com receio de a coisa não andar. Quando vi o Maracanã lindo, a torcida apoiando, vi que seria diferente. Naquele jogo eu tive certeza de que poderíamos enfrentar qualquer equipe de igual para igual. Sabia que o time tinha encontrado o seu caminho, a luz, seu norte. Foi esse time que trabalhei e que deu certo.

Reforços
- Não conversei com ninguém sobre grandes reforços. Na reunião do mês passado, o Flamengo ainda não tinha ganho nada. Naquela época a conversa era diferente. Temos que ter compromisso com o grupo e com o clube. Procuro ser sempre honesto, falo as coisas de frente. Fico tranquilo com isso, em ter de escolher, em dar opinião. Trabalho em um cargo de confiança. Eu tenho que dar minha opinião, mas sempre respeitando todo mundo.
Banho pós-título
- Ainda bem que os jogadores não vieram aqui me dar um banho. Não pedi nada, mas eles estavam felizes da vida e já foram até embora, eu acho. Depois de tudo o que passamos, foi um alívio, e todos correram para suas famílias. Nem lembra isso de banho, pô (risos).

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