Jayme de Almeida posa com a medalha de campeão (Foto: Edgard Maciel de Sa) |
O Flamengo coroou na noite desta quarta-feira uma campanha de
superação na Copa do Brasil. De desacreditado, o time foi eliminando
rivais considerados mais qualificados - como Cruzeiro, Botafogo e Goiás -
e, com a vitória por 2 a 0 sobre o Atlético-PR, no Maracanã, se sagrou
tricampeão da competição. Após a partida, o técnico Jayme de Almeida -
já com a medalha no peito - demonstrou um misto de satisfação e alívio
com a conquista rubro-negra.
- Na campanha, todos eram favoritos, menos o Flamengo. Estou em paz agora. O que fizemos nessa competição ninguém acreditava. Acho que só nós acreditamos mesmo. O time começou a ganhar corpo no empate com o Botafogo na Copa (1 a 1, jogo de ida das quartas de final). Achavam que o Flamengo seria goleado. Só a gente e a torcida acreditou, o time fantástico do Botafogo não nos venceu, ali vimos que tínhamos força e podíamos ir longe. Depois o Flamengo se portou sempre muito bem na Copa do Brasil, de forma sólida e convincente, por tudo o que fizemos, foi até normal ganhar esse título - disse na coletiva de imprensa.
Sempre sereno, o comandante da
conquista despitou sobre o futuro mesmo que o vice-presidente de
futebol, Wallim Vasconcellos, já o tenha garantido no cargo para 2014.
DIsse apenas que vai conversar com a diretoria depois do dia 8 de
dezembro, data da última rodada do Campeonato Brasileiro. Jayme não
fugiu nem das perguntas sobre o técnico Mano Menezes, que pediu demissão
durante a competição por não acreditar no sucesso do time.- Na campanha, todos eram favoritos, menos o Flamengo. Estou em paz agora. O que fizemos nessa competição ninguém acreditava. Acho que só nós acreditamos mesmo. O time começou a ganhar corpo no empate com o Botafogo na Copa (1 a 1, jogo de ida das quartas de final). Achavam que o Flamengo seria goleado. Só a gente e a torcida acreditou, o time fantástico do Botafogo não nos venceu, ali vimos que tínhamos força e podíamos ir longe. Depois o Flamengo se portou sempre muito bem na Copa do Brasil, de forma sólida e convincente, por tudo o que fizemos, foi até normal ganhar esse título - disse na coletiva de imprensa.
- Foi uma questão pessoal dele, achando que o time não renderia mais.
Respeito, mas eu vejo futebol de uma maneira um pouco diferente da dele.
Fiz mudanças que considerava importante. Acima de tudo, jogador precisa
de confiança - resumiu.
Confira os tópicos da entrevista coletiva:
Confira os tópicos da entrevista coletiva:
Jogo
- O Atlético-PR não criou nada. A melhores chances foram do Flamengo. É
claro que gostaríamos que o gol saísse mais cedo, mas é decisão, time
afoito, normal. O adversário era perigoso, tivemos que marcar bem,
erramos passes, mas jogo foi controlado e as melhores chances foram do
Flamengo.
Pouca experiência
-
Não me preocupo com isso. Muitos não acreditavam porque não me
conheciam. Quero sempre fazer meu trabalho bem feito. Quando o
presidente me chamou para assumir a equipe, minha responsabilidade era
com o Flamengo, com os atletas e com a torcida. Não tenho muito o que
falar além disso. Procurei fazer meu trabalho com seriedade,
tranquilidade e respeito. No fim fomos felizes. Somos campeões, o risco
do rebaixamento não existe mais... Isso me dá alívio e tranquilidade.
Nada mais do que isso.
Comemoração discreta
-
Já falei isso mais de uma vez e repito: quem decide são os jogadores. E
não é demagogia. Comemorei, abracei, foi um momento emocionante,
lógico. Mas deixa a festa para os jogadores. Eles são mais jovens, dão
volta olímpica, carregam a taça. Eu não tenho mais idade para isso
(risos). Ser campeão pelo Flamengo é muito legal. Vocês não têm ideia.
Vou guardar esse título no fundo do meu coração por tudo o que passamos.
Fomos desacreditados por muitos. Mas nós sempre acreditamos. Isso deixa
o título mais gostoso ainda. Nos fechamos, trabalhamos, e quando
perceberam que o Flamengo era forte, já estávamos praticamente na final.
Falaram que íamos perder para o Cruzeiro, para o Botafogo, para o
Goiás, para o Atlético-PR. E não perdemos para ninguém. Os jogadores
entenderam o que precisava ser feito e fizeram de maneira brilhante. Por
isso dou os parabéns a todos. Jogamos a sementinha em um grupo
desacreditado, eles jogaram água, regaram e nasceu uma planta linda. A
comissão técnica foi fantástica, não foi só o Jayme. Agradeço a todos
que estão comigo.
Futuro
-
Carlinhos e Andrade foram atletas fantásticos do Flamengo e ótimos
treinadores. Agradeço por ser colocado nesse hall. Mas não tenho como
falar do futuro. Não sou adivinho. Sei que o trabalho que me foi pedido,
eu fiz da melhor maneira possível. Vencemos a Copa do Brasil e evitamos
o rebaixamento no Brasileiro. Então fiz meu trabalho bem. Agradeço a
confiança do presidente, mas não sei do futuro, não sei se vou continuar
como treinador. Sou funcionário do clube, e vamos conversar depois do
dia 8. Ficando ou não, vou seguir trabalhando com futebol. Joguei dos 15
aos 34 e hoje estou com 60 anos. Eu me formei em Educação Física, fiz
cursos e quero trabalhar muito tempo com esportes.
A temporada 2013
-
A nova diretoria nos avisou que os investimentos seriam pequenos. O
Flamengo tem muitos problemas de dívidas e precisa pagar. Isso sempre
ficou claro. Sabíamos que o ano não seria fácil. Mas por incrível que
pareça, mesmo nessas dificuldades, com poucos acreditando, o Flamengo
está na Libertadores. E com certeza arrecadou muito. Conseguimos ter um
ano financeiramente bom também. Com a Libertadores em 2014, acho que o
Flamengo pode e deve qualificar a sua equipe. Libertadores é outro
nível.
Pressão por títulos
-
Em um time grande como o Flamengo, pela grandeza, pela torcida, por
tudo o que ele representa, é preciso sempre estar disputando títulos. A
cobrança no Flamengo é essa. Se começar o Carioca amanhã, temos que
ganhar. A Libertadores também. Flamengo é assim. Quem trabalha e convive
aqui, a pressão é essa. Quem conhece o clube há muito tempo sabe que é
normal. Não adianta achar que não. Se não formos bem no Carioca, a
pressão será grande, vão dizer que ninguém presta.
Projeto profissional
-
Continua a mesma coisa do início do ano. Sou funcionário do Flamengo,
trabalho no futebol e tenho muito orgulho do que faço. Eu estava
satisfeito na minha função de auxiliar. Trabalhei com vários treinadores
e fui tratado com carinho e respeito por todos. Aprendi muito e só
tenho a agradecer. Não tenho problema de ter sido auxiliar até pouco
tempo. Faço minha função com amor e respeito. Sobre o futuro eu não sei.
Sei que esse título tira um peso, traz um alívio bacana. Assumir um
time como o Flamengo, com pressão e terminar o ano assim... Começamos em
setembro desacreditados, diziam que o time era a pior coisa do mundo e
hoje somos campeões. Isso realmente me dá um orgulho muito grande. Não
foi fácil. Ninguém consegue nada sozinho. Estou muito feliz pelo
trabalho feito. Tivemos uma noite fantástica, Maracanã lotado... E ainda
vencemos um adversário difícil.
Mais nervoso contra o Corinthians
-
Vou ser bem sincero: estava mais tenso contra o Corinthians no domingo
do que hoje. Sentia que, se não fizéssemos um resultado bom no
Brasileiro, a pressão seria enorme. Lógico que contra o Atlético-PR era
uma decisão. Nunca é tudo tranquilo. Mas não fiquei preocupado. A
preparação foi boa, e o resultado de domingo deu muito moral para o
time. Estava confiante de que íamos fazer o nosso trabalho bem feito. Se
íamos vencer, era outra coisa. Mas sabia que íamos fazer o nosso
trabalho.
Planejamento para 2014
-
Tivemos uma reunião, acho que há um mês, e conversamos sobre o
planejamento para 2014. Eu estava com o Pelaipe, o Wallim... Falamos
sobre o elenco, sobre reforços. Foi a única reunião que tivemos sobre o
assunto. E independentemente de eu seguir como técnico ou não, sou
funcionário, tenho a confiança da diretoria, entendo de futebol e é
normal que eu participe.
Falta de empresário
-
Não me preocupa (não ter empresário). Nem um pouco. Me deram a chance,
trabalhei e pronto. Sei que existem várias situações envolvendo essa
questão, sei que é importante no meio. Vou dar o exemplo do Andrade, que
foi campeão brasileiro, considerado o melhor técnico da competição e
nunca mais arrumou emprego na Série A. Sei que ter empresário é
necessário para seguir na carreira, mas isso não me preocupa. Mas se o
técnico ficar sem ninguém, dificilmente vai arrumar emprego no Brasil.
Mano Menezes
-
Cada treinador tem o seu estilo, o seu modo de ver futebol. Não vou
discutir as razões de o Mano ter saído. Foi uma questão pessoal dele,
achando que o time não renderia mais. Respeito, mas eu vejo futebol de
uma maneira um pouco diferente da dele. Fiz mudanças que considerava
importante. Acima de tudo, jogador precisa de confiança. Pensam que é
bobagem, mas é verdade. Sem confiança, o cara não acerta um passe de
cinco metros. Desde que assumi, a minha preocupação foi essa. Falei o
que eles podiam fazer. A partir daí a coisa começou a andar. Eles
começaram a acreditar, e foi importante. Com todo o respeito, Mano disse
que o time estava com dificuldade. Eu troquei dois ou três, mas a
confiança também foi fundamental para a reação e para o time chegar onde
chegou.
Começo difícil
No
empate com o Náutico, meu primeiro jogo, o time estava para baixo pela
saída do Mano. Não jogamos bem e na quarta-feira já tínhamos a primeira
partida contra o Botafogo, que tem um grande time. Se perdêssemos, seria
difícil levantar o ânimo da equipe. Fizemos um treino de 25 minutos no
Ninho e passei o que achava para os jogadores. Fui para o jogo com
receio de a coisa não andar. Quando vi o Maracanã lindo, a torcida
apoiando, vi que seria diferente. Naquele jogo eu tive certeza de que
poderíamos enfrentar qualquer equipe de igual para igual. Sabia que o
time tinha encontrado o seu caminho, a luz, seu norte. Foi esse time que
trabalhei e que deu certo.
Reforços
-
Não conversei com ninguém sobre grandes reforços. Na reunião do mês
passado, o Flamengo ainda não tinha ganho nada. Naquela época a conversa
era diferente. Temos que ter compromisso com o grupo e com o clube.
Procuro ser sempre honesto, falo as coisas de frente. Fico tranquilo com
isso, em ter de escolher, em dar opinião. Trabalho em um cargo de
confiança. Eu tenho que dar minha opinião, mas sempre respeitando todo
mundo.
Banho pós-título
-
Ainda bem que os jogadores não vieram aqui me dar um banho. Não pedi
nada, mas eles estavam felizes da vida e já foram até embora, eu acho.
Depois de tudo o que passamos, foi um alívio, e todos correram para suas
famílias. Nem lembra isso de banho, pô (risos).
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