Um amor que não precisa sequer de palavras para evidenciar sua
intensidade. Bastam um encontro, um olhar, um abraço. Ao entrar na sala
de entrevistas do Maracanã na última quarta-feira, Jayme de Almeida
parecia perder os sentidos por um pequeno instante. Os olhos brilharam e
os beijos em direção à plateia davam ao mundo do futebol uma pureza até
certo ponto incomum nos dias atuais.
O carinho tinha endereço certo: a filha Carla e os netos Pietra e
Breno, que, orgulhosos, esperavam-no depois da vitória sobre o Botafogo,
pela Copa do Brasil. Com um sorriso, as duas primeiras responderam.
Para Breno, não era suficiente. O coração teimava em não desacelerar.
Era preciso mais. Era preciso um abraço, recheado de lágrimas, para
eternizar uma relação que ultrapassa os limites entre neto e avô, e, de
quebra, tornou-se a imagem da classificação rubro-negra para semifinal.
Jayme e Breno são unha e carne. Desde muito cedo sempre foi assim. Um
sentimento definido pela própria Carla, mãe e filha, como "algo de outro
planeta". A goleada por 4 a 0 não foi capaz de acalmar o menino de 12
anos diante da consagração de suas maiores paixões: o Flamengo e o avô. A
união da família em vermelho e preto, que começou com o pai do atual
treinador, também ex-jogador e técnico do clube, ganhou mais um capítulo
pautado em dois sentimentos simples, mas que tomaram conta de Breno:
- Foi um momento de muito orgulho e muito amor. Toda a evolução dele no
Flamengo foi muito rápida. É legal poder fazer um pouquinho de parte
desta história. Meu avô é meu ídolo, o orgulho da minha vida e vai ser
campeão - definiu o menino.
O gesto espalhou-se pelas redes sociais e surpreendeu até mesmo quem já
conhece bem o carinho mútuo entre Jayme e Breno. Orgulhosa, Carla
revelou a angústia do filho antes, durante e depois do jogo contra o
Botafogo e acredita que o abraço "humanizou" o pai.
- Foi bem inesperado. Estávamos vendo a entrevista, e o Breno já tinha
falado que estava muito nervoso desde que acabou o jogo. Meu pai se
emocionou muito na entrevista, e o Breno embarcou naquela. Sou fã dos
dois. Conheço o amor que um tem pelo outro, que é algo de outro planeta.
É uma ligação muito forte. Não é nem só de avô e neto. É uma relação
que eu não tenho com o Breno, por exemplo. São muito grudados, estão
sempre juntos, e uma demonstração de amor em família é sempre muito
importante. O mais legal é conhecerem o Jayme como é: uma pessoa simples
e que todos podem contar. Há sempre um conselho, uma palavra. Ser filha
dele é um privilégio.
Já famoso entre os colegas de escola, Breno se deixa levar pelas
emoções com o Flamengo há tempo. Hoje responsável pela equipe, Jayme
ouvia cobranças do garoto desde a época de auxiliar e tinha no neto
também um incentivador no sonho de se tornar treinador.
Breno exibe camisa do tempo em que o avô jogou pelo Flamengo, nos anos 70 (Foto: Cahê Mota) |
- Eu perguntava muitas coisas. Teve uma época, em 2011, que eu ia muito
para o treino com meu avô. Em 2012, o time começou a ir mal e eu
reclamava com ele, falava que tinha que mudar e acreditava nele como
técnico. Era sempre interino e voltava, interino e voltava. Agora,
graças a Deus, foi!
Fã número 1 do avô de longa data, o jovem ocupa o posto também na lista
de admiradores do treinador. Até o momento, o garoto não teve motivos
para soprar a corneta em casa. Mas a razão disso não é a campanha de
cinco vitórias, três empates e apenas duas derrotas. Para manter a
alegria de Breno, basta que Jayme siga colocando em campo seu maior
ídolo no elenco:
- O meu preferido é o Brocador. E é desde a Taça Guanabara. Mesmo
quando era reserva, eu falava que ele, sempre que entrava, metia gol,
falava que tinha que voltar para o time. Deixo a escalação para ele
(Jayme), que está indo bem. Mas tem que ser Hernane e mais dez.
E os números provam que o garoto tem razão. Desde a saída de Mano
Menezes, o Brocador fez nove gols em dez jogos com Jayme. Incontestável.
E o prestígio de Hernane na casa dos Almeida é tão grande que nem mesmo
em cenário mundial Breno consegue apontar um substituto. Fã de
Lewandowski, ele ignora Messi e Cristiano Ronaldo, mas não troca o
artilheiro rubro-negro pelo polonês.
- É páreo duro.
Filha elogia o Jayme treinador: 'Sabe muito'
Se Breno se tornou o mascote da passagem de Jayme pelo Flamengo, a
emoção pelo sucesso do treinador toma conta de toda a família.
Rubro-negros desde os anos 30, quando Jayme, o bisavô de Breno, chegou
ao clube, os Almeida são figura constante no Maracanã, e Carla - neta,
filha e mãe - celebra a chance de o pai, enfim, poder ser reconhecido em
uma função que sonhava há tempo.
Pietra, Carla e Breno receberam beijos de Jayme antes da coletiva de quarta-feira (Foto: Cahê Mota) |
- Desde pequena escuto muito sobre futebol, e meu pai entende muito.
Ele se preparou para isso, fez educação física, e chegou o momento de
mostrar o que fez a vida inteira. Sempre achei que ia chegar e acho que
as coisas acontecem na hora certa. Ele tem muita confiança. Quando
entendemos do que fazemos, as coisas se ajustam. Por ter sido jogador do
Flamengo, ele sabe passar o significado de jogar pelo clube. Assim, os
resultados estão vindo.
O novo cargo, por sua vez, vem acompanhado de uma pressão bem diferente
da calmaria dos tempos de auxiliar. Nada, porém, que incomode os
familiares de Jayme. Tanto que os gritos de "burro" ouvidos na vitória
sobre o Bahia foram encarados com naturalidade por Carla.
- É aquela paixão de torcedor. Na hora, ninguém quer perder e acaba
xingando. Quando está ganhando, o pessoal já dá pitaco. Imagina quando
está perdendo? Faz parte. Claro que ninguém gosta, mas entendemos que é o
momento do jogo. Ele ia passar por isso um dia.
Com Breno, Carla e toda a família na torcida pela televisão, Jayme
volta a comandar o Flamengo no domingo, às 16h (de Brasília), no
Castelão, em Fortaleza, diante da Portuguesa. O próximo compromisso em
casa acontece somente no dia 3, contra o Fluminense, no Maracanã. E os
Almeida certamente estarão lá.
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