Rubro-negro "desde que se entende por gente", o cantor e compositor Dudu Nobre carrega na memória diversos jogos marcantes do Flamengo. Às vésperas do centenário do Fla-Flu (o primeiro foi disputado em 7 de julho de 1912), Dudu relembra, dentre todos os clássicos que viu contra o Tricolor, aquele que considera o mais marcante. Trata-se de um que foi disputado em 1989, em Juiz de Fora.
O placar foi 5 a 0 para o Flamengo. O jogo, por sinal, foi o último oficial de Zico, maior ídolo da história do clube com a camisa rubro-negra. Nele, o Galinho fez o que seria seu último gol pelo Fla, numa linda cobrança de falta. Todos estes ingredientes bastariam para tornar o jogo inesquecível, mas houve mais, bem mais, para marcar Dudu naquele dia.
Dudu Nobre posa na Fortaleza de São José, onde ensaiou o hino do Flamengo junto da banda dos Fuzileiros Navais. Ele vai cantar antes do Fla-Flu do dia 8 (Foto: Nelson Veiga / Globoesporte.com) |
Cara e jeito de garoto, Dudu já não é tão jovem hoje em dia. Aos 38 anos, ele relembra a adolescência. Na época do adeus de Zico, o cantor e compositor, então com 16 anos, já era envolvido com a música, mas de maneira bem diferente. Ele usava seus dotes nas arquibancadas e acabou diretor de uma facção de torcida do Flamengo.
- Tinha o pessoal do Flamengo, numa roda de samba do River (clube), na Piedade. Aí era aquela coisa, ia ao Maracanã, e quando fui ver já estava lá, diretor da torcida. Cuidava da parte musical, bateria, as músicas. E isso foi crescendo, eu viajava pelo Brasil junto com o Flamengo, foi um momento muito bacana. Na torcida fiquei dos 12 aos 18 anos. Depois saí. Mas você sai e ainda leva a torcida no coração, foram muitos amigos, a gente cresceu junto - contou o cantor.
Dudu Nobre chegou a Juiz de Fora na hora do gol de Zico (Foto: Nelson Veiga / Globoesporte.com) |
Em 2 de dezembro de 1989, Flamengo e Fluminense se enfrentavam em jogo da penúltima rodada do Campeonato Brasileiro. A partida, em tese, seria apenas para cumprir tabela. As equipes não tinham mais aspirações no campeonato. Mas a despedida de Zico fez a data ganhar um ar para lá de especial.
O jogo estava marcado para Juiz de Fora, cidade mineira que fica a três horas de carro do Rio. No dia da partida, diversos ônibus da torcida organizada de Dudu pegaram a estrada. Uma parada para refeição, entretanto, acabaria fazendo com que o jovem torcedor praticamente perdesse o último gol do grande ídolo rubro-negro.
- Você como diretor é responsável por um ônibus. Um dos integrantes do ônibus em que eu estava, quando fizemos uma parada para fazer um lanche, roubou uns saleiros, uns negócios, e quando entramos no ônibus a polícia foi atrás e prendeu o ônibus. Perguntaram quem era o responsável, e todo mundo "vup" (apontando para si mesmo). Ficamos detidos. Conversa daqui, conversa de lá, e quando a gente chegou no estádio, o Zico meteu o gol. Vi o gol chegando, trazendo instrumento, bandeira... Eu vi chegando, assim - relembrou Dudu.
No segundo tempo, a festa rubro-negra ficou completa. Zico deu um lançamento primoroso para Renato Gaúcho arrancar pela ponta direita, cortar para o meio e fazer o segundo. Pouco depois, o Galinho deu lugar a Uidemar e foi reverenciado pelos torcedores. O Flamengo ainda completou a festa com gols de Luís Carlos, Uidemar e Bujica.
Dudu Nobre acredita que Cáceres e Adriano vão melhorar time (Foto: Nelson Veiga / Globoesporte.com) |
Para Dudu Nobre, os tempos de torcida organizada ficaram para trás. Hoje em dia, o cantor, quando vai ao estádio, costuma usar os camarotes. Mas engana-se quem acha que Dudu se envergonha ou renega o que viveu no passado. Os comentários sobre aquela época o enchem de emoção.
- Agora não vou mais, até porque são muitas lembranças. Até tentei uma vez e me emocionei muito, e acabo indo para o camarote. Torcida é uma coisa muito violenta, perdi muito amigo em saída de jogo, briga... Para mim é muito complicado até ir. Quando vejo as faixas, bandeiras... Aquela bandeira do Che Guevara, então, era uma bandeira que a gente sempre levava para a Argentina. São muitas lembranças dessa época - contou Dudu, lembrando que, num jogo contra o Atlético-MG, em 1987, deixou o Mineirão com duas pedradas na cabeça - Quando vou ao barbeiro até hoje eu lembro.
Figurinha fácil em eventos do Flamengo, Dudu Nobre gosta de viver o dia a dia do clube. O cantor foi convidado e fez questão de participar das apresentações de Ronaldinho e Vagner Love. No Fla-Flu de 8 de julho, vai cantar, antes do jogo, o hino do Flamengo, acompanhado pela Banda dos Fuzileiros Navais (Toni Platão será o responsável pelo hino tricolor). As fotos que ilustram esta matéria foram feitas no dia do ensaio, na Fortaleza de São José, no Rio de Janeiro (assista ao vídeo).
Sobre o atual momento do Flamengo, Dudu, como todo rubro-negro, mostrou um ar de insatisfação. Ele, entretanto, encontra motivos para otimismo. Para o músico, os reforços que estão por vir, assim como o possível retorno de Adriano, podem ser uma boa.
- Estou levando fé no Cáceres, que vem aí (volante paraguaio já contratado), e também no Adaílton, que deve vir (zagueiro, em negociação). São dois jogadores de grande qualidade. Vamos ver. Acho que o Adriano também... Se o Impera realmente tiver todo este aparato, e principalmente a força de vontade que eu sei que ele tem, vai voltar aí com tudo. Tenho muita fé. São meninos jovens, que acabam tendo esta oportunidade, aí a vida vai proporcionando coisas, e tem momentos em que a pessoa tem que dar aquela parada. O Adriano deu aquela parada agora, está neste processo de recuperação, e eu quero crer que quando ele voltar vai voltar com tudo. É um grande amigo e torço muito pelos meus amigos.
Se o Impera realmente tiver todo este aparato, e principalmente a força de vontade que eu sei que ele tem, vai voltar aí com tudo. Tenho muita fé"
Sobre a possível volta de Adriano
Outro amigo de Dudu Nobre foi o pivô da mais recente crise do clube. Ronaldinho Gaúcho, com base nos atrasos de salários, conseguiu na Justiça romper seu contrato com o Flamengo e foi para o Atlético-MG. De quebra, cobra R$ 40 milhões do clube. Para o cantor, faltou profissionalismo do Flamengo ao lidar com a situação.
- A gente vê a coisa como torcedor, e eles fazem disso a profissão deles. Acabou que foi ruim para todo mundo, mas acabou sendo uma separação inevitável. O erro do Flamengo foi, no momento em que a Traffic pulou fora, ter deixado de dizer: "A gente não tem condições de fazer isso." Aí, a coisa não chegaria ao ponto que chegou. Tem algumas coisas, alguns momentos, que o coração precisa ficar de lado, e a razão tem de ir de frente. E quando você está gerindo um clube do tamanho do Flamengo, num momento desses você não pode se deixar levar pela empolgação. Foi o erro de todo esse processo. O complicado é que a instituição é que fica. As pessoas são passageiras.
Dudu veste a camisa 73, referência ao ano de seu nascimento (Foto: Nelson Veiga / Globoesporte.com) |
Apesar de criticar o desempenho da diretoria no episódio Ronaldinho, Dudu Nobre acredita nas boas intenções de quem está à frente do clube.
- A gente tem um carinho, uma paixão muito grande pelo clube. Para você falar, tem que participar. Eu procuro participar do clube, minha família também estou botando para participar. Você pode ser um torcedor, mas, para criticar, tem de estar ali tentando contribuir. Procuro contribuir da melhor forma, sempre que sou chamado para qualquer coisa dentro do Flamengo. E o que eu vejo é que as pessoas dentro do clube hoje podem estar errando, mas estão errando na intenção de fazer o bem. O futebol tem que ser uma coisa mais profissional - finalizou Dudu.
Ricardo Pinto, Carlos André, Edson Mariano, Alexandre Torres e Marcelo Barreto; Donizete, Vitor, João Santos (Dedei) e Vander Luís; Franklin (Marcelo Henrique) e Sílvio.
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Zé Carlos, Josimar, Rogério, Júnior e Leonardo (Marcelinho Carioca); Aílton, Luís Carlos, Zico (Uidemar) e Zinho; Renato Gaúcho e Bujica.
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Técnico: Telê Santana.
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Técnico: Valdir Espinosa.
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Gols: Zico, aos 22 minutos do primeiro tempo; Renato Gaúcho, aos 4, Luís Carlos, aos 22, Uidemar, aos 31, e Bujica, aos 43 minutos do segundo tempo.
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Cartões amarelos: Alexandre Torres, Marcelo Henrique (FLU), Rogério, Aílton e Luís Carlos (FLA).
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Data: 02/12/1989. Competição: Campeonato Brasileiro. Estádio: Municipal de Juiz de Fora (MG).
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Árbitro: Aloísio Viug. Público: 13.783 pagantes.
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