sábado, 27 de agosto de 2011

‘Moleque’ aos 29, Jônatas recomeça: ‘Tenho muito ainda a dar ao futebol’

Por Richard Souza Rio de Janeiro
Ele assegura que reencontrou a felicidade. Mas ainda não é plena. O domínio de bola, os passes e lançamentos continuam elogiáveis. Só que andam escondidos. Jônatas olha fixo para o horizonte com um ar esperançoso e um sorriso tímido no rosto. Fala em recomeço e vive em compasso de espera. Há quatro meses no Figueirense, o volante de 29 anos sobe um degrau por dia com a paciência que precisou descobrir para tentar retomar a confiança, o ritmo de jogo, e sobretudo a vida de jogador de futebol. Antes de chegar a Florianópolis, passou um ano e três meses à sombra de uma carreira de momentos promissores, mas abalada por insucessos e frustrações.
- Tinha na minha cabeça que ia parar, mas algumas pessoas me ajudaram nesse retorno. Está sendo bem difícil, mas estou com uma vontade muito maior agora, talvez até maior do que na época em que eu estava começando a jogar. Tenho muitos objetivos, até esqueço um pouco a idade. Penso que ainda sou um moleque de 20 anos, mas estou bem. Com 29 anos, tenho muito ainda para dar ao futebol. Um recomeço é muito mais complicado. Nos primeiros meses eu sofri um pouco com a parte física e a parte psicológica. Porque é bem complicado.
Jônatas Com a filha no colo (Foto: Richard Souza/Globoesporte.com)
Jônatas segura no colo a filha Julie, de 2 anos, no Orlando Scarpelli (Foto: Richard Souza/Globoesporte.com)
Clube escolhido para o recomeço, o Figueirense tem como gestor de futebol o empresário de Jônatas, Eduardo Uram. No entanto, segundo o volante, a principal razão para tomar a decisão foi Jorginho. Ele o conheceu no Flamengo entre 2004 e 2005, época em que o treinador esteve na Gávea para fazer um estágio. Naquele tempo, encontrou um jogador titular, em plena forma. Revelado pelo Rubro-Negro, o volante fez seu primeiro jogo profissional em 2002, com apenas 21 anos. Mas só foi se firmar em 2003. Daí em diante, alternou boas e más atuações. Mas sempre com a capacidade técnica reconhecida, apesar da relação de amor e ódio com a torcida rubro-negra.
Capitão do Fla na conquista da Copa do Brasil de 2006, pouco tempo depois foi lembrado por Dunga na primeira lista do então novo técnico da Seleção Brasileira e acabou sendo negociado para o Espanyol. Por lá, voltou a ter problemas de relacionamento e não conseguiu se adaptar. Com isso, foi emprestado ao Flamengo em 2008, com mais frustrações do que alegrias. Por uma série de fatores (falta de preparo físico, quantidade de volantes no elenco e questões pessoais), não foi aproveitado por Caio Júnior. Na memória, prefere ficar só com as boas recordações e com o carinho que diz receber até hoje dos rubro-negros.
- Muita saudade, cara. O Flamengo me proporcionou muita coisa boa. Tives altos e baixos, mas não tenho o que dizer. Se tenho o que falar é da saudade e agradecer muito por tudo que consegui e conquistei. Quando a gente sai, tem uma noção melhor do que é o Flamengo. Onde eu parava, era reconhecido como Jônatas do Flamengo. Passei pelo Espanyol, passei pelo Botafogo, mas quem me vê na rua me liga ao Flamengo. E eu passei um bom tempo, né? Desde a base. E juntando as duas passagens foram oito anos. Tinha o sonho de ser capitão e campeão pelo Flamengo. E tive essa oportunidade.
Desde que se desligou do Espanyol, em agosto do ano passado, ganhou férias forçadas. Passou a maior parte do tempo entre Fortaleza e Rio. Seu último time no Brasil foi o Botafogo. Chegou em julho de 2009, mas não conquistou a confiança do treinador Estevam Soares. Rescindiu o contrato e voltou à Espanha no fim da temporada. Fora dos planos da equipe catalã, decidiu ficar no Brasil mesmo com o vínculo em vigor, até que o caso fosse resolvido pela Fifa.
- Tive alguns problemas particulares e os problemas com o Espanyol. Procurei fazer algumas coisas que normalmente você não consegue quando está dentro do futebol. Sofri um pouco e não gostava de ver jogo, pois sentia falta daquilo, daquela adrenalina, daquela coisa de vestiário. Às vezes, quando alguns companheiros iam a Fortaleza enfrentar o Ceará, eu ia reencontrá-los, bater um papo. Mas era bem difícil, estava meio cabisbaixo. Ver o Léo Moura, a rapaziada que passei bastante tempo do lado... Mas estou procurando deixar isso para trás. São coisas que não vão me fazer bem agora, não posso ficar relembrando, resgatando.
jonatas montagem (Foto: Editoria de Arte/Globoesporte.com)
Os altos e baixos de Jônatas: pelo Flamengo, convocação para a Seleção e título da Copa do Brasil; no Botafogo e no Espanyol, de Barcelona, pouco brilho (Foto: Editoria de Arte/Globoesporte.com)
No Figueira, disputou até aqui apenas os 45 minutos finais da derrota por 4 a 1 para o Inter, em 26 de junho, no Beira-Rio, pela sexta rodada do Brasileirão. Deu 13 passes e acertou todos. Fez três faltas e recebeu um cartão amarelo. Não roubou bolas, nem sequer finalizou a gol. Jônatas raramente é relacionado por Jorginho, mas entende e reconhece que precisa de tempo.
- Conversamos algumas vezes e o que está dificultando um pouco é só o ritmo de jogo, essa dinâmica. Estou há três meses só na parte física e já estou 100%. Além dos treinamentos e dos coletivos, o Jorginho está marcando sempre jogo-treino. Durante esses treinos vou procurando melhorar a cada dia para que eu possa entrar aos poucos e não atrapalhar o grupo, que está bem. Ele confia muito no meu futebol e tenho que corresponder. Num recomeço você não tem tanta confiança, mas quanto a isso acho que estou mais tranquilo. Só depende de mim agora.
O que não mudou em Jônatas foi o estilo reservado. Um perfil que muitas vezes gerou críticas quando jogou no Rio. Na chegada ao Botafogo, por exemplo, tirou a camisa do clube logo depois de ser apresentado aos jornalistas e não deu entrevista. Ao falar de questões pessoais, prefere não entrar em detalhes e se agarra na discrição.
- Sei que a exposição faz parte da minha profissão, mas sempre procurei ficar reservado. Tive alguns problemas de família com meu pai, de sequestro, porque a imprensa às vezes aumenta muita coisa. Isso me prejudicou um pouco. Tenho essa visão de que, se ficar reservado, é melhor. Muitos dizem que sou marrento, mas sou tranquilo. Não vou responder, respeito o que falam. Não gosto de aparecer, principalmente para falar da minha família. É meu jeito de ser e não penso em mudar. Respeito o trabalho de vocês, mas, quando não quero falar, gosto que respeitem.
A família, aliás, é o suporte do jogador. É no tempo que passa com a esposa Cintia e na filha Julie que ele controla a ansiedade.
- Este é o apoio que você sempre tem. Preciso ter paciência. E não é pouca. É muita paciência. E respeito também. Respeito pelo trabalho dos companheiros e pelo Jorginho. É complicado não entrar na relação dos jogos, mas faz parte. Jogador tem que ser importante dentro do grupo. Fico feliz quando relembro as coisas boas que tive no Flamengo, no Espanyol. Os momentos bons que tive. Espero reencontrar tudo isso. Estou feliz por retornar. Agora, quero ser muito mais feliz em campo, jogando e sendo importante para o Figueirense.

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