quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

"Herói" indiano, André Santos brilha na escolinha do professor Zico

Por Rio de Janeiro
Mosaico André Santos (Foto: Arquivo Pessoal)
Mosaico André Santos (Foto: Arquivo Pessoal)
André Santos está feliz. O tiro no escuro dado meses atrás não deixa mais dúvida. A Superliga da Índia deu certo. E o brasileiro também deu certo. Tanto sucesso se deve muito a Zico. Sob o comando do Galinho, o lateral-esquerdo virou meio de campo e se transformou em um dos destaques da competição que tem o FC Goa como um dos times mais badalados. Os três gols e três assistências foram determinantes para a arrancada de uma equipe que deixou a última colocação para se tornar vice-líder. O camisa 27 centraliza em campo a qualidade técnica que o treinador tenta ensinar diariamente aos indianos, como nas tradicionais escolinhas infantis no Brasil.

Ao todo, são 11 estrangeiros no FC Goa, mas apenas seis podem ser escalados. Com o francês Robert Pires suspenso parte da competição por uma briga, André Santos se transformou na principal figura da equipe. Nesta sexta-feira, o desafio será contra o Chennaiyin, líder, que tem Elano no elenco e é comandado por Materazzi. Independentemente do que acontecer até a final do dia 20, em Mumbai, o meia aluno de Zico tem certeza: a aventura na Índia valeu a pena.

- Estou muito feliz aqui com a oportunidade que o Zico me deu. O time não começou mal. Às vezes, vocês não conseguem acompanhar os jogos. A equipe criava bastante, jogava bem, mas o gol não saía. Agora, estão saindo. Dei a volta por cima depois que saí do Flamengo. Já fiz três gols na competição, dei muitas assistências, fui escolhido o melhor jogador estrangeiro da semana. Então, é um retorno incrível.
De malas prontas para retornar ao futebol brasileiro em 2015, o camisa 27 acredita que a liga indiana não será passageira. Segundo ele, a empresa responsável pela competição é relacionada à Premier League e tem longo contrato com a confederação local. Nomes como Ronaldinho e Henry já mexem com o imaginário para o futuro. Quando voltar para casa, André lembrará dos sorrisos pelos gols em campo e pelas situações inusitadas fora dele:

- A cultura aqui é totalmente diferente no futebol. Quando chegamos, ficamos impressionados com a reza antes dos treinos, dos jogos... Um atleta puxa e todo mundo reza. Isso chama a atenção, fora a adaptação. Tem as vacas na rua, tem aquele tuque-tuque (veículo local)... A Índia tem uma população pobre, mas também uma parte com muito dinheiro. Aqui em Goa, está dando para levar bem a adaptação. Está sendo divertido.

Através de um aplicativo de mensagens instantâneas no celular, André Santos respondeu ao GloboEsporte.com para falar sobre o que tem vivido na Índia, a idolatria por Zico e a celebração da volta por cima após a saída conturbada do Flamengo. Confira a íntegra da entrevista:
O FC Goa começou a temporada muito mal e teve uma arrancada até o segundo lugar. Qual é a importância do Zico nesta volta por cima? A diferença técnica de jogadores como você e Pires, por exemplo, também passa a fazer mais a diferença a partir do momento em que entraram em forma?

- É muito importante ter jogadores experientes, mas começando pelo Zico. É um cara que decidiu vir para cá e está dando o melhor que pode. Eu e o Pires acho que somos um atrativo para que o grupo queira mais, queira ver mais. Eles nos respeitam muito. Quando chegou, o Zico não veio com a comissão técnica e estava sendo muito exigido. Tinha que fazer tudo. Hoje, com toda a comissão, já pode dividir o trabalho. Então, pega os atletas, ensina a bater cruzado, a bater falta, e os jogadores escutam muito. O resultado está aparecendo em campo. Nos últimos gols, foi realmente em lances que ele ensinou para os caras de como bater na bola na véspera do jogo.

Vocês trabalham com jogadores que beiram o amadorismo. Isso gera algum tipo de situação curiosa, até assédio no dia a dia? Como é esse contato?

- Não vivemos muitas situações curiosas, mas impressiona o carinho dos torcedores, como eles querem aprender. Às vezes, falam: "Poxa, eu te via jogando no Arsenal e hoje jogo com você". O futebol tem crescido bastante. Muitos nem conhecem, mas há vários indianos que poderiam jogar tranquilamente em uma liga da Europa ou até do Brasil. Há jovens qualificados. Tanto que há clubes que fazem parcerias. O Atlético-PR já fez, há outros querendo porque viram que há atletas de qualidade.

A Superliga das Estrelas é uma competição inovadora para a realidade da Índia. Pela experiência vivida, você diria que é algo que deu certo? Tem futuro?

- Agora, nessa reta final, posso dizer que a competição foi muito bem elaborada e organizada. A única coisa que não é tão boa e fez muita gente machucar é o excesso de jogos. São muitas viagens e isso complica para quem não se cuidou tanto, jogadores que estavam parados. Mas a liga pegou. Os estádios estão sempre cheios. Teve jogo com 70 mil pessoas. No nosso estádio, cabem quase 30 mil e está sempre lotado. Falam muito em futebol aqui, e é uma cidade onde não tinha isso. Somos reconhecidos. Essa é uma evolução com o dedo do Zico.

Então, o mercado indiano seguirá sendo uma opção para 2015?

- O modelo é muito bom, até por ser uma empresa inglesa. Já falam em Ronaldinho e Henry para o próximo ano para fortalecer a liga. Isso é muito importante. Se não me engano, já tem cinco ou dez anos de contrato assinado com a federação.

Você saiu do Flamengo questionado e conseguiu recuperar o bom futebol, por mais que tenha sido em uma liga com um grau menor de exigência. Como você planeja o futuro? Volta para o Brasil ou segue em mercados alternativos?

- Para mim, foi muito bom. Ia ficar de férias no Brasil até o fim do ano para aproveitar e curtir, mas não aguentei. Tive esse convite e vejo o quanto foi bom para o meu rendimento, minha carreira. Foi 100%. Tenho jogado de meia aqui e vou decidir qual vai ser. Posso jogar em duas posições e vou ver o que tem de melhor. Deve pintar algo do Brasil e vou ver o que é o melhor no momento.

Recentemente, o Pires se envolveu em uma polêmica, uma briga. O que aconteceu realmente?

- Foi um jogo contra o Calcutá, que é o maior adversário do Goa. É um clássico. O treinador do time deles é um pouco... um pouco, não, é meio louco (risos). Ele vibra, quer discutir com os adversários, e foi o jogo mais quente que tivemos em casa. Houve algumas pancadas em campo, confusão, muita pegada, e o Pires discutiu com o treinador fora de campo. No intervalo, um adversário se chocou com nosso time, abriu a cabeça do Greg, e começou a confusão. No vestiário, o treinador deu um soco na cara do Pires e correu para o vestiário deles. O Pires ficou maluco, queria encontrar o cara de todo jeito para devolver. Foi assim que começou, mas depois a televisão pegou. O Pires ficou dois jogos fora, o treinador quatro. Foi isso, trata-se de um clássico com os nervos à flor da pele.

Por fim, tem muita história engraçada desse período em um país tão diferente?

- A cultura aqui é totalmente diferente no futebol. Quando chegamos, ficamos impressionados com a reza antes dos treinos, dos jogos. Um atleta puxa e todo mundo reza. Isso chama a atenção, fora a adaptação. Tem as vacas na rua, tem aquele tuqui-tuqui... A Índia tem uma população pobre, mas também uma parte com muito dinheiro. Aqui em Goa, está dando para levar bem a adaptação. Está sendo divertido.

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