domingo, 7 de dezembro de 2014

César emoldura estreia e espera jogo de nova história: "Sou prova viva disso"

César, goleiro do Flamengo (Foto: Gilvan de Souza / Flamengo)
César está no Fla desde 2009 e foi promovido aos profissionais dois anos depois (Foto: Gilvan de Souza / Flamengo)

O quadro pendurado na parede da sala não passa despercebido. Seja para familiares, amigos e até visitas não rubro-negras. Basta olhar para a camisa de número 37 emoldurada. Quem não conhece fica sabendo, e quem sabe do que se trata recorda as memórias de 7 de dezembro de 2013. Há exatamente um ano, César estreou no time principal do Flamengo diante de 41 mil torcedores no Maracanã, fechou o gol no empate em 1 a 1 com o Cruzeiro e recebeu cumprimentos até dos adversários. Lá se foram 365 dias até o goleiro, na época terceira opção e hoje reserva imediato de Paulo Victor, ganhar uma nova chance: será titular contra o Grêmio neste domingo, em Porto Alegre.
E haja ansiedade para o goleiro de 22 anos, que segue os passos de Paulo Victor – a quem chama abreviadamente de "PV" – no clube e bate repetidamente na tecla da paciência. Mesmo que, na prática, isso signifique um certo abatimento por conter a vontade exacerbada de entrar em campo. Vontade essa que está diretamente relacionada ao desejo de construir uma carreira de sucesso e montar uma espécie de memorial em sua casa, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde mora com a esposa Amanda. Responsável por segurar a barra nos momentos difíceis, ela foi homenageada ao lado de provérbios bíblicos na luva do religioso goleiro.


– Para um jogador de futebol é difícil ficar tanto tempo sem jogar. Às vezes me sinto muito assim, quero participar, jogar, fico um pouco ansioso... Quando você trabalha no futebol, quer contribuir para alguma coisa. Sinto falta, às vezes chego em casa meio triste, mas claro que entendo. Tudo tem o momento certo, e procuro estar motivado. Foi um ano bom de trabalho e difícil de esperar tanto tempo. Converso com a minha esposa, é ela quem me motiva e me coloca para cima, foi ela quem me deu força todos os dias e me fez lembrar que tudo tem seu tempo – frisou.
Pronto para mais um desafio e à espera de mais chances em 2015, César trata de valorizar – e muito – o duelo deste domingo na Arena do Grêmio, pela última rodada do Campeonato Brasileiro, mesmo que não tenha nenhum valor para o Fla em termos de classificação. "Prova viva" de que cada jogo tem sua história, o goleiro espera por novos capítulos em sua carreira
– Vai ser um grande jogo, contra uma grande equipe. Temos de estar motivados e fazer o nosso melhor lá. Independentemente de não estar valendo nada, tanto para o Flamengo quanto para o Grêmio, cada jogo tem uma história. E eu sou prova viva disso (risos). Daquela vez também não valia nada, mas depois ficamos sabendo que o Flamengo perdeu alguns pontos. Se nós não tivéssemos feito um ponto contra o Cruzeiro talvez tivéssemos sido rebaixados. As coisas foram acontecendo de uma forma que (aquele jogo) pôde ficar marcado – recordou o camisa 37, que não prometeu novos milagres neste domingo. – (Risos) Vou procurar fazer meu melhor.
Cesar goleiro camisa quadro (Foto: Arquivo Pessoal)
Camisa 37 da estreia nos profissionais está eternizada na parede da sala da casa de César (Foto: Arquivo Pessoal)
Em pouco mais de 20 minutos de bate-papo, César comparou sua grande defesa em 2013 com a melhor de Paulo Victor em 2014, elogiou o técnico e as broncas de Vanderlei Luxemburgo, revelou assumir por vezes o papel de "irmão mais velho" dos companheiros de elenco, mostrou-se favorável à pré-temporada do Flamengo na Turquia no ano que vem e contou seus planos para as férias, que começam nesta segunda-feira. Confira a entrevista completa:
Você ainda lembra daquele jogo com o Cruzeiro?

Claro, foi uma estreia maravilhosa. Nem imaginava aquilo acontecer. Não tem como esquecer.

Depois daquela grande atuação e de ser reconhecido pela torcida, como foi ter ficado um ano sem jogar? Bateu saudade?
Para um jogador de futebol é difícil ficar tanto tempo sem jogar. Às vezes me sinto muito assim, quero participar, jogar, fico um pouco ansioso... Quando você trabalha no futebol, quer contribuir para alguma coisa. Sinto falta, às vezes chego em casa meio triste, mas claro que entendo. Tudo tem o momento certo. Procuro estar motivado. Foi um ano bom de trabalho e difícil de esperar tanto tempo. Converso com a minha esposa, é ela quem me motiva e me coloca para cima, foi ela quem me dava força todos os dias e me fez lembrar que tudo tem seu tempo. Tenho paciência e torço pelo PV. Minha imensa vontade de jogar não muda em nenhuma gota minha torcida pelo PV. Cada vez que ele entra em campo, à cada defesa que ele faz, eu vibro no campo. Por ter acompanhado toda a história dele, cada treinamento, ele é uma referência para mim.

Após aquele jogo, você disse que iria emoldurar a camisa que usou. A blusa virou mesmo um quadro?
Fiz, sim. Está na minha sala. Quando as pessoas veem, elas lembram da minha estreia. Minha ideia é fazer um memorial, juntar com a taça da Copa São Paulo, fotos na seleção (de base)... Essas coisas são gratificantes. Meus avós e minha mãe guardam tudo que sai sobre mim. Eles têm uma pasta gigante. Meu avô, para qualquer um que vai lá, ele tem um orgulho imenso de mostrar tudo que guardou. Eu trouxe medalhas e troféus para um armário aqui em casa. Queria fazer mais, mas a camisa já está emoldurada.
E depois de jogar com o apoio da torcida no Maracanã, agora o desafio vai ser fora de casa, em Porto Alegre, um lugar onde o Flamengo não costuma se dar bem. O que dá para esperar desse jogo?
Vai ser um grande jogo, contra uma grande equipe. Precisamos estar motivados e fazer o nosso melhor lá. Independentemente de não estar valendo nada, tanto para o Flamengo quanto para o Grêmio, cada jogo tem uma história. E eu sou prova viva disso (risos). Daquela vez também não valia nada, mas depois ficamos sabendo que o Flamengo perdeu alguns pontos. Se nós não tivéssemos feito um ponto contra o Cruzeiro, talvez tivéssemos sido rebaixados. As coisas foram acontecendo de uma forma que (aquele jogo) pôde ficar marcado.
Dá para esperar também uma nova atuação de gala do César?
(Risos) Vou procurar fazer meu melhor. Preciso estar com os pés no chão. Não só eu, mas todo o grupo, cada jogador dentro de campo fazendo a sua parte. Estava conversando com o Lucas (Mugni) e o Erazo sobre isso. Quando entendemos isso, não ficamos só no conceito, conseguimos alcançar os objetivos. Todo o grupo precisa de mim, e eu, de todo o grupo. Cada peça tem sua parte. Se fizermos um grande jogo, as atuações individuais aparecem.

A camisa da estreia virou quadro. E a desse jogo de domingo, tem planos para ela?

Desse jogo eu não sei, mas independentemente do que acontecer, vai ficar marcado também. Mas a estreia, do jeito eu foi, vai sempre ser mais lembrada.

Você disse que estava conversando com o Mugni e o Erazo. É com quem você é mais próximo no elenco?

Não, minha relação é boa com todo mundo. De quem eu puder me aproximar, eu vou. Às vezes não sabemos o que acontece fora de campo, e os jogadores também passam por problemas. Todo mundo tem seus momentos difíceis, se eu puder estar do lado e dar uma palavra de força, quero sempre fazer isso. Em determinados momentos sou o irmão mais novo, mas às vezes faço papel de irmão mais velho (risos). Gosto muito de estar próximo de todos, em especial daqueles que jogaram comigo nos juniores. Claro que, num grupo grande, é difícil manter amizade fora de campo. O Nixon é um irmão para mim, é um amigo particular, sempre andamos juntos.
Após sua estreia, as pessoas passaram a te conhecer. Hoje, mesmo depois de tanto tempo sem jogar, ainda te reconhecem na rua?
A época da Copa São Paulo também ficou marcada. Depois que aconteceu a estreia nos profissionais, passaram a associar, a lembrar de mim. De vez em quando ainda aparece um (que reconhece). Isso é legal, é marcante. Existem torcedores apaixonados que acompanham tudo.
Você subiu para os profissionais em 2011 como terceiro goleiro e agora já é o segundo. O Paulo Victor, por exemplo, ficou muito mais tempo na fila para virar a segunda opção. Acha que as coisas estão acontecendo rápido para você?

É preciso ter paciência. Na época do PV, demorou um pouquinho mais para ele. Comigo foi um pouco diferente, mas tudo é um tempo longo. A história dele não vai ser necessariamente igual a minha.

Como é sua relação com o Paulo Victor?

Muito boa. Vejo o quanto é esforçado, pelo carisma, quantas pessoas dentro do clube gostam dele. Tenho um carinho grande por ele, e é sempre bom estar perto. É uma referência mesmo, aprendo muito com ele. Um cara simples e trabalhador que conseguiu chegar ao objetivo dele por ser determinado.

E com o Felipe?

Da mesma maneira. Tem um tempo que não está treinando com a gente, mas durante o período que esteve sempre tive um respeito muito grande por ele. Quando subi (para os profissionais), ele estava lá, me dava força, dicas. Torço muito por ele. A afinidade não é tão grande como a que tenho o PV, que é um cara ao qual me aproximei mais. Mas aprendi muito com o Felipe. Ele tem uma carreira vitoriosa e vai ser reerguer, atuar em alto nível de novo.
Voltando ao Paulo Victor, vocês dois fizeram duas defesaças evitando gols quase em cima da linha: a sua contra o Cruzeiro, e a dele diante do Atlético-MG (assista a ambas no vídeo acima). Qual foi a mais difícil?
Aí é complicado de falar (risos). As duas foram importantes, com a dificuldade de cada uma. Eu estava voltando, e ele bateu rápido. Estiquei-me todo para tocar na bola, ela ainda bateu na trave e sobrou para o Julio Baptista. Ele cruzou, e a bola ainda raspou no meu pé. Foi um um lance rápido. A do PV, no banco eu me impressionei. Foi uma defesa absurda, a bola já tinha passado e prendeu na mão dele. Falei: "Caramba". As duas foram muito boas, não tem como falar qual foi a melhor. Ambas vão ficar na minha memória.

O Luxemburgo foi quem te promoveu aos profissionais em 2011. Pessoalmente, como tem sido voltar a trabalhar com ele?
É muito bom trabalhar com quem é multicampeão. Ter a confiança de ouvir um cara que só quer o bem para mim. Ele dá umas broncas (veja algumas no vídeo abaixo), mas as broncas dele são para crescermos. Por mais difícil que seja às vezes tomar bronca, eu entendo que posso aprender com aquilo. Tive a oportunidade de conversar com ele uma vez e entender os conceitos que passa. É um treinador que quer extrair o máximo de cada atleta, não só com com os titulares. (Na sexta-feira) ele deu uma bronca em mim, em outros... Você vê a preocupação dele com todo o elenco. Quer o tempo inteiro fazer de nós um grupo vencedor.
É verdade que está torcendo para a pré-temporada do Flamengo ser na Turquia?
Na verdade, para mim não tem diferença. Atibaia é muito bom, já fui para lá. Manaus é legal, e o Flamengo tem uma imensa torcida lá. A Turquia seria maneiro porque é um lugar diferente e para onde nunca fui. Seria um motivo de ficar mais motivado, tira o peso de estar no CT. Um lugar fora do país, bonito, para nós é motivante. Gostaria muito de ir para lá.

Você já conhece a Europa?
Só a Espanha, onde estive com a Seleção sub-20. Foi muito bom.

A partir de segunda-feira começam as férias. Quais são seus planos para os 30 dias de folga?
Vou viajar com minha esposa para Punta Cana (República Dominicana). É um lugar que tem cara de férias, de botar a perninha para o ar. Depois vou passar um tempo com os amigos, família, tem o Natal... É descansar e já pensar em 2015. 

Por  
Rio de Janeiro




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