Jorginho explica saída do Flamengo em entrevista coletiva (Foto: Fabio Leme) |
Quatro dias após ser demitido do comando do Flamengo, o técnico Jorginho concedeu entrevista coletiva no escritório de seu empresário, Claudio Guadagno, na manhã desta segunda-feira, e explicou detalhes sobre sua saída depois de 14 jogos à frente da equipe. Com um semblante que tinha a mistura de tranquilidade e frustração, Jorginho preferiu um discurso polido, evitando críticas à diretoria e aos jogadores. Durante cerca de 30 minutos, ele reconheceu alguns erros, rechaçou qualquer tipo de racha entre comissão técnica e atletas, mas revelou sua insatisfação com a não contratação de reforços de peso em conversa com o vice de futebol Wallim Vasconcellos logo após saber que não fazia mais parte do planejamento.
- Foi passada para mim toda essa situação financeira, o momento do Flamengo. Poderíamos receber reforços de peso. Dos que chegaram diretamente por mim, Moreno e Roger Carvalho. Os outros foram observações feitas pela diretoria e aprovadas por mim. Paulinho, Diego, Val, Bruninho, que não tivemos oportunidades de usar. Foi passado que eles fariam todos os esforços por alguns nomes que eu havia sugerido. Não vou citar, mas eram jogadores com passagens por time grande. Conversei sobre isso com o Wallim, no momento em que estavam decidindo minha saída, e disse que não era a proposta que me foi passada - afirmou.
Com experiências como jogador e treinador, Jorginho reconheceu que comandar uma equipe como o Flamengo é muito mais difícil do que apenas vestir a camisa, entrar em campo e jogar. Um fator que o incomodou muito foi a questão do vazamento de notícias dentro do vestiário. Em um dos poucos momentos em que deu declarações mais duras, o técnico revelou que há pessoas dentro do clube que gostam de relatar assuntos internos para a imprensa.
- Quando você é jogador, dá o seu melhor, mas não está preocupado com o que vai acontecer depois. É muito diferente, a responsabilidade é muito maior como treinador. O Flamengo é o tempo todo um turbilhão. Nada do que a gente conversa internamente fica sem vazar para a imprensa. Em todo lugar tem um X-9. Esse é o Flamengo, e a gente tem que conviver com isso, aparando as arestas e tentando resolver os problemas - comentou.
Jorginho disse ainda que recebeu em dia enquanto esteve à frente do time e que a questão financeira nunca foi uma preocupação.
- Eu não tenho nenhuma preocupação com multa rescisória, não é por aí. Claro que eu fiquei triste, mas fico com a minha postura. Nunca vou deixar de ser um cara centrado, que trabalha com a verdade. Se eu não consigo ter isso de volta, não é minha culpa. Fiz o que eu acredito, porque esse clube em cinco anos contribuiu muito na minha vida, para ser quem eu sou. Não seria por causa de dinheiro que eu deixaria de vir para cá.
Questionado sobre o relacionamento com o grupo, o técnico foi categórico ao afirmar que não havia qualquer tipo de problema e ainda contou como foi o procedimento com Renato Abreu, após o meia ter reclamando por ser substituído durante a partida com o Campinense pela Copa do Brasil.
- Não tínhamos problemas, o ambiente era o melhor possível. Todo clube tem seus problemas. Eu sou o tipo de homem e de liderança que procura elogiar em público e criticar olho no olho. No caso do Renato Abreu, falei muito com ele o quanto ele estava errado, e ele me pediu desculpas. Uma coisa que eu escutei do Léo Moura, e que foi muito interessante, foi quando ele me disse que jamais tinha visto os jogadores que não jogam trabalharem como vinham trabalhando. A verdade no futebol é que, se você vence, está tudo bem, mas se perde, nada presta - declarou.
As dispensas de Ibson e Alex Silva também não ficaram sem resposta. Na avaliação de Jorginho, a saída do volante se deu por questões técnicas e financeiras, já a do zagueiro envolveu problemas com a torcida e uma outra questão na qual não quis se aprofundar.
- Ele (Ibson) pode ter ficado chateado comigo, mas era um jogador caro, podia abrir espaços para outros. Trouxemos quatro jogadores que ganham o que ele ganhava. Quando não há uma resposta técnica, temos que tomar uma decisão. Foi uma decisão técnica e financeira. Assim como o Alex. Tentamos algumas vezes, mas a torcida tinha uma rixa com ele que não o deixava jogar. Sei como é chegar para jogar e ser vaiado o jogo todo. Mas é um jogador pelo qual tenho muito respeito, e algumas decisões que ele tomou são uma situação que só ele sabe e não passou para ninguém - afirmou Jorginho.
Maior contratação do ano no clube, Carlos Eduardo ficou mais como opção no banco de reservas do que atuando como titular durante o tempo em que Jorginho foi treinador. Isso ocorreu devido ao momento técnico do camisa 20, que não correspondeu à altura.
- Nós (ele e Dunga) convocamos o Carlos Eduardo para a Seleção. É um jogador que fez um ótimo trabalho no Grêmio e no Hoffenheim. Esse tempo de um ano e meio parado o atrapalhou muito. Nós o deixamos trabalhar, mas não me deu a resposta técnica - comentou.
Jorginho chegou ao clube para substituir o técnico Dorival Júnior, demitido após a derrota para o Resende pela primeira rodada da Taça Rio devido ao alto salário. Em 14 jogos à frente do clube, o treinador teve uma campanha com sete vitórias, quatro empates e três derrotas.
* Com a colaboração de Thiago Benevenutte, sob a supervisão de Luciano Mello.
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