Por Natália da Luz
Trípoli - Líbia
Trípoli - Líbia

Capaz de criar pontes seguras em terrenos minados, o esporte se orgulha da habilidade de parar uma guerra, de unir uma nação dividida e de reconstruir as que foram escravizadas por tiranos. Na nova Líbia, reerguida sobre os pilares da democracia após a queda do ditador Muamar Al Gaddafi, em 17 de fevereiro de 2011, o time de masters do Flamengo (FlaMasters) recebeu uma missão especial, de celebrar o segundo aniversário da revolução em um amistoso contra a equipe de masters do país africano.
O jogo, transmitido ao vivo, foi uma união de forças do Ministéro dos Esportes Líbio, da embaixada brasileira na cidade, do presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Libia, Adrian Mussi, e das empresas brasileiras em atividade no país como a Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e Odebrecht, que viabilizaram o evento.
Admitindo a paixão pela modalidade, o secretário do Ministério dos Esportes, Juma Shushua, que insistiu que a vinda fosse de uma equipe rubro-negra, disse que os líbios acompanham não apenas as jogadas da seleção brasileira, mas o desempenho dos clubes e, em especial o do Flamengo, que, em 1985, com Adílio, Zé Carlos e Paulinho, jogou em Trípoli e Bengazi.
Em campo, acompanhando os jogadores do Flamengo, o embaixador brasileiro Afonso Carbonar, há seis meses em Trípoli, não disfarçava o orgulho de ver bandeiras brasileiras tremulando no estádio.
- Acredito que há uma infinidade de programas onde Brasil e Líbia possam se encontrar e se ajudar. O esporte é um deles - contou o também deputado federal (PMDB-RJ), que a cada dia soma uma nova ideia na lista de iniciativas que possam ser implementadas na Líbia.
Em sua segunda vez em Tripoli, Adílio se deparou com uma nova cidade, com uma nova cultura e um ar mais leve, sem peso de desmandos de tiranos:
Nós não viemos apenas para jogar. Durante muitos anos fizemos a nossa parte honrando os nossos clubes, ganhando títulos. Agora, também podemos usar a nossa experiência para levar a mensagem de superação, de paz através do futebol – conta em entrevista ao ahe! o ex-atacante Nunes, que, em Trípoli, coordenoou a equipe de 16 jogadores do FlaMaster.
O camisa 9, que em 1981 foi campeão do mundo em Tóquio contra o Liverpool, recebeu o convite no dia 17 de fevereiro, quando todo o país comemorava, nas ruas, o segundo aniversário da revolução. Nunes aceitou e, com Adílio, também peça fundamental no Flamengo que encantava o mundo no início da década de 80, convocou a equipe para o embarque rumo ao norte da África.
- Esse jogo é muito importante porque estamos enviando uma mensagem ao mundo. O meu país está bem agora, está seguro. Eu acredito que é muito positivo para as empresas e para os brasileiros também porque o Brasil é o primeiro time a jogar conosco – disse em entrevista exclusiva ao ahe o ministro dos Esportes líbio, Abdul Salam Ghoela, sobre a partida realizada no último domingo no Estádio Internacional de Trípoli.

- Esse é o primeiro evento que fazemos após a revolução. Pude perceber que ele será o inicio de muita coisa entre a relação Brasil-Líbia. As pessoas falam muito em futuro, como podemos fazer algo juntos com o Brasil. Sendo o Brasil o primeiro a incentivar esse intercâmbio, isso será fundamental para a relação entre os países - disse Timotheo Araújo, há dois anos no país como responsável pela Andrade Gutierrez.
Para Ibrahim Mohamed, líbio, casado com uma brasileira, as empresas brasileiras na Líbia representam a tecnologia, a economia, o desenvolvimento do país e por isso devem manter seu posto de atuantes em iniciativas que sejam revertidas para o crescimento da população. Dos 48 anos de vida, há apenas dois ele conhece o sentido das palavras liberdade e democracia.
- Eu passei toda a minha vida esperando por um novo país. Agora, estamos no caminho do resgate de nossa identidade. É tudo muito novo e eu espero que governo e empresas possam ter ideias como a que foi implementada no último domingo. A cultura, os negócios, o esporte (em especial o futebol) são parte disso - disse o líbio, de Benghazi, cidade que liderou o levante contra o ditador Gaddafi, que ficou 42 anos no poder.
Futebol: paixão compartilhada
Em um país em reconstrução, o esporte se apresenta como uma ferramenta eficaz no resgate da identidade, da esperança e do ato de celebrar. Na Líbia, o futebol é peça importante de sua cultura, mas a ditadura e a guerra o deixaram adormecido e os esforços de agora são para levá-lo revigorado à vida dos líbios.
Em um país em reconstrução, o esporte se apresenta como uma ferramenta eficaz no resgate da identidade, da esperança e do ato de celebrar. Na Líbia, o futebol é peça importante de sua cultura, mas a ditadura e a guerra o deixaram adormecido e os esforços de agora são para levá-lo revigorado à vida dos líbios.

- O governo também foi parte disso, mas só aconteceu porque as pessoas estavam empenhadas, porque elas quiseram fazer pela Líbia. O Flamengo foi a nossa primeira experiência depois de tantos anos em silêncio. Queremos fortalecer a ligação entre os dois países. Nós temos muitas similaridades e eu espero que a nossa relação seja a cada dia mais forte – disse Juma, que, em 1985, foi um dos titulares do jogo contra o Flamengo.
Bandeira Brasileira

Na abertura da partida, a bandeira hasteada não era a rubro-negra, mas a verde-amarela. Isso porque o que estava em jogo não era a rivalidade, mas a proposta em seguir para o pódio da democracia. Mesmo ganhando de 2 a 1, com dois gols de Renato Carioca, a balança das relações internacionais saiu equilibrada.
Em campo, acompanhando os jogadores do Flamengo, o embaixador brasileiro Afonso Carbonar, há seis meses em Trípoli, não disfarçava o orgulho de ver bandeiras brasileiras tremulando no estádio.
- Esse encontro tem uma importância única porque é a primeira iniciativa pós-revolução envolvendo duas nações em prol do futebol e também um primeiro passo para apoiar a candidatura da Líbia à Copa Africana das Nações de 2017. Foi uma festa que foi ratificada na expressão de cada líbio e de cada criança no estádio - disse ele no intervalo, enquanto dois paraquedistas (com bandeiras da Líbia e do Brasil) desciam no campo.
Com uma agenda cheia de encontros na Líbia, o presidente da Comissão Parlamentar Brasil-Líbia, Adrian Mussi, destacou que o futebol é uma paixão que conecta os dois países e que, certamente, seria uma excelente forma de oferecer a contribuição brasileira no momento de reorganização do país árabe banhado pelo Mar Mediterrâneo.

Com metade da vida passada em Trípoli e a outra metade no Brasil, Mohamed El Zwei conhece bem cada particularidade dos dois países e sua ligação com o futebol. Ele é um entusiasta do elo desta relação e um dos que se empenharam para o encontro do Flamengo em Trípoli.
- Eu saí do meu país em busca de oportunidade, fugido da ditadura e só conheci a democracia no Brasil, que me acolheu. Eu acho que esse encontro no futebol é um grande avanço e muito positivo para os dois lados - disse o representante comercial da Andrade Gutierrez, na Líbia.

- Antes, era um outro país com pessoas mais fechadas, tristes, com receio. Hoje eu pude ver outra Libia e desejo que o futebol faça parte dela!
Nenhum comentário:
Postar um comentário