Por Natália da Luz
Trípoli - Líbia
Trípoli - Líbia
Capaz de criar pontes seguras em terrenos minados, o esporte se orgulha da habilidade de parar uma guerra, de unir uma nação dividida e de reconstruir as que foram escravizadas por tiranos. Na nova Líbia, reerguida sobre os pilares da democracia após a queda do ditador Muamar Al Gaddafi, em 17 de fevereiro de 2011, o time de masters do Flamengo (FlaMasters) recebeu uma missão especial, de celebrar o segundo aniversário da revolução em um amistoso contra a equipe de masters do país africano.
Em campo, acompanhando os jogadores do Flamengo, o embaixador brasileiro Afonso Carbonar, há seis meses em Trípoli, não disfarçava o orgulho de ver bandeiras brasileiras tremulando no estádio.
Nós não viemos apenas para jogar. Durante muitos anos fizemos a nossa parte honrando os nossos clubes, ganhando títulos. Agora, também podemos usar a nossa experiência para levar a mensagem de superação, de paz através do futebol – conta em entrevista ao ahe! o ex-atacante Nunes, que, em Trípoli, coordenoou a equipe de 16 jogadores do FlaMaster.
O camisa 9, que em 1981 foi campeão do mundo em Tóquio contra o Liverpool, recebeu o convite no dia 17 de fevereiro, quando todo o país comemorava, nas ruas, o segundo aniversário da revolução. Nunes aceitou e, com Adílio, também peça fundamental no Flamengo que encantava o mundo no início da década de 80, convocou a equipe para o embarque rumo ao norte da África.
- Esse jogo é muito importante porque estamos enviando uma mensagem ao mundo. O meu país está bem agora, está seguro. Eu acredito que é muito positivo para as empresas e para os brasileiros também porque o Brasil é o primeiro time a jogar conosco – disse em entrevista exclusiva ao ahe o ministro dos Esportes líbio, Abdul Salam Ghoela, sobre a partida realizada no último domingo no Estádio Internacional de Trípoli.
O jogo, transmitido ao vivo, foi uma união de forças do Ministéro dos Esportes Líbio, da embaixada brasileira na cidade, do presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Libia, Adrian Mussi, e das empresas brasileiras em atividade no país como a Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e Odebrecht, que viabilizaram o evento.
- Esse é o primeiro evento que fazemos após a revolução. Pude perceber que ele será o inicio de muita coisa entre a relação Brasil-Líbia. As pessoas falam muito em futuro, como podemos fazer algo juntos com o Brasil. Sendo o Brasil o primeiro a incentivar esse intercâmbio, isso será fundamental para a relação entre os países - disse Timotheo Araújo, há dois anos no país como responsável pela Andrade Gutierrez.
Para Ibrahim Mohamed, líbio, casado com uma brasileira, as empresas brasileiras na Líbia representam a tecnologia, a economia, o desenvolvimento do país e por isso devem manter seu posto de atuantes em iniciativas que sejam revertidas para o crescimento da população. Dos 48 anos de vida, há apenas dois ele conhece o sentido das palavras liberdade e democracia.
- Eu passei toda a minha vida esperando por um novo país. Agora, estamos no caminho do resgate de nossa identidade. É tudo muito novo e eu espero que governo e empresas possam ter ideias como a que foi implementada no último domingo. A cultura, os negócios, o esporte (em especial o futebol) são parte disso - disse o líbio, de Benghazi, cidade que liderou o levante contra o ditador Gaddafi, que ficou 42 anos no poder.
Futebol: paixão compartilhada
Em um país em reconstrução, o esporte se apresenta como uma ferramenta eficaz no resgate da identidade, da esperança e do ato de celebrar. Na Líbia, o futebol é peça importante de sua cultura, mas a ditadura e a guerra o deixaram adormecido e os esforços de agora são para levá-lo revigorado à vida dos líbios.
Em um país em reconstrução, o esporte se apresenta como uma ferramenta eficaz no resgate da identidade, da esperança e do ato de celebrar. Na Líbia, o futebol é peça importante de sua cultura, mas a ditadura e a guerra o deixaram adormecido e os esforços de agora são para levá-lo revigorado à vida dos líbios.
Admitindo a paixão pela modalidade, o secretário do Ministério dos Esportes, Juma Shushua, que insistiu que a vinda fosse de uma equipe rubro-negra, disse que os líbios acompanham não apenas as jogadas da seleção brasileira, mas o desempenho dos clubes e, em especial o do Flamengo, que, em 1985, com Adílio, Zé Carlos e Paulinho, jogou em Trípoli e Bengazi.
- O governo também foi parte disso, mas só aconteceu porque as pessoas estavam empenhadas, porque elas quiseram fazer pela Líbia. O Flamengo foi a nossa primeira experiência depois de tantos anos em silêncio. Queremos fortalecer a ligação entre os dois países. Nós temos muitas similaridades e eu espero que a nossa relação seja a cada dia mais forte – disse Juma, que, em 1985, foi um dos titulares do jogo contra o Flamengo.
Bandeira Brasileira
Na abertura da partida, a bandeira hasteada não era a rubro-negra, mas a verde-amarela. Isso porque o que estava em jogo não era a rivalidade, mas a proposta em seguir para o pódio da democracia. Mesmo ganhando de 2 a 1, com dois gols de Renato Carioca, a balança das relações internacionais saiu equilibrada.
Em campo, acompanhando os jogadores do Flamengo, o embaixador brasileiro Afonso Carbonar, há seis meses em Trípoli, não disfarçava o orgulho de ver bandeiras brasileiras tremulando no estádio.
- Esse encontro tem uma importância única porque é a primeira iniciativa pós-revolução envolvendo duas nações em prol do futebol e também um primeiro passo para apoiar a candidatura da Líbia à Copa Africana das Nações de 2017. Foi uma festa que foi ratificada na expressão de cada líbio e de cada criança no estádio - disse ele no intervalo, enquanto dois paraquedistas (com bandeiras da Líbia e do Brasil) desciam no campo.
Com uma agenda cheia de encontros na Líbia, o presidente da Comissão Parlamentar Brasil-Líbia, Adrian Mussi, destacou que o futebol é uma paixão que conecta os dois países e que, certamente, seria uma excelente forma de oferecer a contribuição brasileira no momento de reorganização do país árabe banhado pelo Mar Mediterrâneo.
- Acredito que há uma infinidade de programas onde Brasil e Líbia possam se encontrar e se ajudar. O esporte é um deles - contou o também deputado federal (PMDB-RJ), que a cada dia soma uma nova ideia na lista de iniciativas que possam ser implementadas na Líbia.
Com metade da vida passada em Trípoli e a outra metade no Brasil, Mohamed El Zwei conhece bem cada particularidade dos dois países e sua ligação com o futebol. Ele é um entusiasta do elo desta relação e um dos que se empenharam para o encontro do Flamengo em Trípoli.
- Eu saí do meu país em busca de oportunidade, fugido da ditadura e só conheci a democracia no Brasil, que me acolheu. Eu acho que esse encontro no futebol é um grande avanço e muito positivo para os dois lados - disse o representante comercial da Andrade Gutierrez, na Líbia.
Em sua segunda vez em Tripoli, Adílio se deparou com uma nova cidade, com uma nova cultura e um ar mais leve, sem peso de desmandos de tiranos:
- Antes, era um outro país com pessoas mais fechadas, tristes, com receio. Hoje eu pude ver outra Libia e desejo que o futebol faça parte dela!
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