Zico durante o jogo contra a Itália na Copa de 1982 - Anibal Philot / Arquivo O Globo |
É hora de calçar as sandálias da humildade e começar do zero. Já
tínhamos levado aquela chinelada do Barcelona no Mundial de Clubes, mas a
sapatada de terça-feira doeu mais. Quando o Santos perdeu aquela
decisão, lembro que pelo menos o Neymar disse que tínhamos tomado uma
aula de futebol. Agora, só ouvi dizerem que foi uma pane, que perder de
um ou de sete é a mesma coisa, mas não dá para aceitar.
Não dá mais para esconder que tem que mudar muita coisa. Futebol é
espetáculo, é se deliciar com a beleza do jogo, claro que sem perder a
seriedade e o profissionalismo, mas nosso time não pode ir a campo como
se fosse disputar os “Jogos Vorazes". No filme, o objetivo é salvar sua
vida, mas no futebol não pode ser assim. Foi tanta pressão que passaram
para os jogadores que eles desmoronaram no primeiro golpe. Com esse
clima, o time não cria, não relaxa. Todas as outras seleções estão
curtindo a Copa sem deixar de lado a concentração no jogo. No Brasil, só
o Neymar conseguiu mostrar a desenvoltura e a capacidade de desfrutar
disso tudo.
A seleção não fez nenhuma atuação à altura do que se
espera do Brasil. Desde o começo, não teve alternativas para sair das
dificuldades, impostas pelo México e pelo Chile.
Quando
enfrentasse uma seleção mais forte e organizada, como a Alemanha, era
isso que ia acontecer. A Alemanha não menosprezou o Brasil, fez como o
nosso Flamengo dos anos 80, fazia um gol e continuava batendo até
liquidar o adversário. Temos que rever a formação dos nossos jogadores.
Na hora de escolher na base, não tem que saber quem é mais alto e forte,
como os clubes vem fazendo. Tem que priorizar e trabalhar em cima de
quem tem talento. A mudança tem que ser radical também dentro da
entidade que comanda a seleção.
Temos que agradecer ao Parreira e
ao Felipão pelos serviços prestados, mas chegou a hora de ceder a vez.
Eles foram importantes para o nosso futebol, ainda são e vão continuar
sendo mas quem vier precisa estar atualizado, não dá para disputar uma
Copa sem alternativas.
A comissão técnica acreditou que o Brasil
estava pronto por causa do título da Copa das Confederações mas em um
ano que se passou até o Mundial muita coisa muda.
Chegamos na Copa
sem nenhum jogador como protagonista em seus clubes na Europa, até o
Neymar sofreu para se firmar no Barcelona. Só dois ou três são titulares
absolutos: o Thiago Silva e o Daniel Alves, que mesmo assim teve uma
temporada muito difícil. Diante disso não chegamos com aquele alto ritmo
de competição que a Copa exige. Entre os jogadores, não podemos achar
que ninguém serve, temos uma base e é preciso fazer um trabalho bem
feito porque as próximas eliminatórias serão dificílimas. Quando o
sistema de disputa mudou para todos contra todos, em dois turnos,
pensavam que ficaria mais fácil para Brasil e Argentina mas não é isso
que temos visto. As Eliminatórias já são Copa do Mundo, é assim que o
jogador amadurece para chegar no Mundial. Infelizmente, nosso time não
jogou as Eliminatórias e isso nos prejudicou por se tratar de uma
geração que precisava de experiência.
A CBF precisa fazer muito
mais, incentivando o trabalho dos clubes, descobrindo valores e ajudando
a manter os talentos aqui por mais tempo. Mesmo com a sapatada, não
acredito que a paixão pelo futebol vai diminuir nem em relação aos
clubes nem à seleção. E vamos em frente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário